segunda-feira, 21 de maio de 2012

Um resgate histórico cultural


Rua Augusta-Lisboa
Tejo-Lisboa
Mais uma vez ouço pessoas falarem de que vão a Europa, mas não vão passar por Portugal, porque aquele país não tem nada. Falam da França, enchem a boca para falar da Torre Eiffel, dos vinhos franceses, da Notre Dame, do Sena, etc., mas não encontram atrativos em Portugal.
Não entendo mesmo, primeiro porque acho que é quase uma obrigação de brasileiro que tem condição de ir até a Europa,  conhecer Portugal, afinal de contas, queiramos ou não, a nossa história está imbricada com a daquele país, e todos nós, brasileiros, precisamos saber da nossa própria história, talvez, se soubéssemos mesmo da nossa história, não abriríamos a boca para falar com desdém de Portugal.
Eu tive motivos diversos do de ser “brasileira” para conhecer Portugal, ou melhor, a Península Ibérica; meu pai era galego de Pontvedra, Galícia, Espanha, e, portanto, queria entrar na Europa pela Espanha, mas tive de entrar por Lisboa e daí partir para a Espanha, no entanto, no meu roteiro estava Portugal, porque é um país que participou da nossa história, aliás, nós fomos Portugal em determinado tempo, porque como colônia quer éramos, pertencíamos a Portugal, portanto, o nosso território, apesar do Atlântico separando, era território português e nós, portanto, portugueses. Se eles queriam ou não que nos considerássemos assim, não interessa, o fato é que o território português era o de Portugal e suas colônias.
Santa Catarina-Lisboa

Do Brasil já governamos Portugal, ou seja, por um período as coisas se inverteram, e nós sediamos o Reino Português, e todos precisam ter a exata noção do que isto significa.  Fomos a única colônia portuguesa que teve este privilégio. Aliás não foi a toa que  estivemos sempre na vanguarda  de todo as colônias, e não foi  sem causas que alcançamos a nossa independência tão cedo,  isto se lembrarmos que as demais colônias(africanas) só conseguiram as suas respectivas independências na década de 70 do século XX, a grande maioria em 1974.
Se a Corte Portuguesa não tivesse vindo para o Brasil e se aqui não se instalasse a  Monarquia Portuguesa,(1808)talvez a nossa independência também só tivesse acontecido contemporaneamente às demais colônias.
O Rei de Portugal veio com a sua corte para o Brasil, deixou Portugal entregue ao seu próprio destino, com  Napoleão invadindo Lisboa (1807). A decisão de transferir a Corte para o Brasil não derivou, essencialmente, da invasão napoleônica, a decisão fora tomada antes, tendo em vista “a posição central ocupada pelo Brasil no sistema comercial luso-brasileiro”(MAXWELL E NIZZA DA SILVA,1986:382). O rei Dom João VI veio para o Brasil, com toda a sua corte, trazendo consigo, artistas, letrados, doutores.  Segundo (FLEIUSS;1922:64), a comitiva do rei era composta de aproximadamente quinze mil pessoas. O Brasil, portanto, em 1808 perde a sua condição de colônia, para alcançar a de Reino, e em 1816 cria-se o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
Viseu-Pt.
Chaves-Pt
 Evidentemente que Portugal não fez nada de graça,  eles vieram para o Brasil porque aqui  as coisas  estariam muito melhores para eles, mas não podemos esquecer de um detalhe: a vinda da família real e da corte portuguesa para o Brasil foi um “plus” para a própria economia, para a cultura, para o desenvolvimento, para a liberdade do país, começando com a providência real de decretar a abertura dos portos às nações amigas, sem dúvida alguma o primeiro passo à caminho da independência. Com a chegada da corte, apesar da injusta medida de desabrigar os brasileiros das suas casas para que a corte se instalasse nelas, criou-se o Banco do Brasil, a Biblioteca Nacional, com o acervo trazido pelo rei composto de 4301 obras em 5764 volumes (FLEIUSS; 1922:83), dentre tantas providências.
Lisboa
Lisboa
Assim, todos nós brasileiros devíamos conhecer  o país que nos deu tanto; se nos tirou muito, também nos deu muito. Os centros das nossas cidades mais antigas são pequenas Lisboas; não que Lisboa seja grande, é que nossas cidades cresceram muito e se desconfiguraram, enquanto Lisboa continua  única, com seus sobrados, com suas ruas estreitas, com os seus becos, com as suas escadinhas, com a sua identidade.   Quando chegamos a Alfama no centro de Lisboa, e caminhamos pelos seus becos e ruelas, em muitos trechos nos vemos em São Luiz do Maranhão, em Salvador,  na Lapa no Rio de Janeiro, em Outro Preto, Congonhas, Olinda, a influência de Portugal está em toda parte.
Os fortes: Ah os fortes! Maravilhas da construção portuguesa no nosso país, guardavam a terra contra outros invasores. As nossas igrejas, a exemplo da Igreja de São Francisco em Salvador – Bahia. Há obra mais perfeita  de arquitetura? Quem  idealizou isto e fez isto possível? Quem, de uma maneira ou de outra, usando os nossos índios ou não, utilizando ou não braços escravos, construiu aquedutos, fortes, fortalezas, cidades? Lembrem-se de Olinda, em Pernambuco, do forte de São Marcelo na Baía de Todos os Santos, do forte de Santa Maria, do Montserrat, das fortalezas em Recife, Itamaracá, Reis Magos em Rio Grande do Norte e tantos outros no nordeste brasileiro e em todo o país.
Bom não vou mais falar da influência portuguesa no Brasil, ela é visível e não adianta  ninguém querer apagar esta história, até porque ela é a nossa história; quero falar mesmo é de Portugal hoje. Pequeno!  Sim, é um país pequeno; mas se pensarmos  exatamente nesta pequenez e  lembrarmos o que ele conseguiu fazer em tantas partes do mundo, já conseguimos vislumbrar a sua grandeza. Não estou querendo fazer qualquer apologia de Portugal, mas temos de tirar o chapéu para um país que conseguiu chegar a tantos lugares, Ásia, África, América do Sul e deixar as marcas da sua passagem.
Rossio -Lisboa

Quando vocês chegarem à Lisboa, certamente, todas estas  impressões errôneas cairão por terra,  Ninguém que for a Portugal vai esquecer  Lisboa, onde você pode partilhar cultura com tantos, a cidade é cosmopolita. Há  gente de todos os lugares naquela  capital, seja das antigas colônias, seja  da Europa atual. Cruzamos nas suas ruas com gente de todos os cantos do mundo, bem verdade que  os africanos, indianos, chineses, são mais facilmente identificáveis, os traços físicos os fazem inconfundíveis. Portugal teve colônias em Macau, Timor, Índia, África (Angola, Cabo Verde, São Thomé, Moçambique, Guiné) e seria impossível não encontramos  pessoas destes lugares  instaladas na cidade. Os chineses são  diferentes, porque eles estão em todos os lugares do mundo, parecem onipresentes, tudo igual, mesmo cabelo, mesma cara, mesmo olho puxado, enfim.
Nos transportes podemos ver pessoas falando diversos idiomas, ficamos  com cara de besta vendo tantos falarem tantas línguas diferentes.  Vamos ficar encantados quando um motorista de ônibus, um atendente que trabalha no guichê de passagens, um garçom, muitos outros profissionais, falarem francês, inglês, espanhol, alguns até mesmo alemão. É bem verdade que não são todos, mas você vai se surpreender mesmo com a quantidade.
Há preconceitos? Há sim, mas o que nós queremos? Afinal aquele país  nos perdeu, e ninguém pode ficar satisfeito perdendo  um país como o nosso, ficaram um tanto complexados, mas isto não  obscurece a grandeza de Portugal .
Badajoz-Es
Ruína romana-templo de Diana-Évora-Pt
Passear pelo interior de Portugal, encontrar ruínas romanas, ver a influência árabe, deambular pelas suas cidades, pelas suas praias, é sensacional. Temos muito que ver naquele país.As pessoas que  dizem que não tem interesse em conhecer Portugal que preferem a França, a Inglaterra,  vão mesmo ficar boquiabertos.
Ir até o Alentejo, visitar o templo romano dedicado a Diana em Évora, ver as Igrejas seculares,a Sé de Évora foi  iniciada em 1186, os castelos medievais, as muralhas, os grandes mosteiros,  andar pelas ruinhas e praças, ver  a Unversidade,(1559) dali ir a Elvas, atravessar para a Espanha, alcançar Badajoz é sensacional.  De todas as direções que tomar, saindo de Lisboa, você vai alcançar a Espanha, é a fronteira natural do país, só com ele é que Portugal tem fronteiras na Europa, por isso mesmo  os portugueses avançaram para o mar. Se seguir para o sul vai atravessar todo o Alentejo e ter várias opções de entrar na Espanha,  você  vai conhecer  o Algarve, vai ver a influência árabe em Portugal, vai alcançar  Vila de Santo Antonio e daí entrar na Espanha por Ayamonte, tudo  isto margeado pelo Guadiana, rio que  separa, em diversas localidades, a Espanha de Portugal, a exemplo de Elvas, que de um lado é  Portugal e do outro lado Espanha. Todavia, antes de chegar a este ponto, você já passou por Setubal, pela rota dos vinhos, Pela Prainha, e pode também ter acesso a belas praias do Alentejo,  a exemplo de  Lagoa de Melides,  Vila Nova de Milfontes, Zambujeira do Mar,  e muitas outras; você pode ainda no Alentejo alcançar o Algarve visitar Vila Moura, Portimão, Albufeira, Olhão, Tavira, Faro pode ir a Sagres, Lagos, e tantos outros lugares, tudo isto antes de adentrar à Espanha.
Praia de Nazaré-Pt.
Canais-Aveiro-Pt.
Se você prefer ir pelo norte vai ver  Nazaré, Fátima, Figueira da Foz, Coimbra, esta última  você não pode perder mesmo,  a influência  acadêmica de Coimbra no nosso país é reconhecida, principalmente  na área jurídica. Os nossos grandes estudaram lá.  Aveiro, Porto, Gaia, Vila do Conde, Póvoa do Varzim, Valença e vai alcançar a Galícia.
Se preferir outro roteiro, você vai para  Espinho,  Braga, Viana do Castelo, pode esticar mais um pouco e vai entrar em Trás os Montes e vai  conhecer Guimarães, antes porém vai passar em Vila Real,  e segue para alcançar Chaves, que fica  a poucos Km de Verin também na Galícia.
Ponte de Lima-Pt.
Igreja de Nossa Senhora do Sameiro Viana  do Castelo-Pt
Olhe o que estou lhe dizendo, você vai se surpreender a cada momento.  Em Ponte de Lima você vai se sentir no medievo, vai  a qualquer  momento achar que uma batalha entre  tropas  vai acontecer, de tão real que é aquela cidade.  Em Braga, quando chegar ao centro da cidade, na parte antiga, por um segundo você vai se sentir numa cidade medieval, grandes construções,  cidade cercada, inúmeras igrejas.    
Por tudo isto, por ser brasileiro, pela cultura, pela história, vá a Portugal, tenho certeza que não se arrependerá e ajudará a que ninguém mais diga que  aquele país não esta dentro do seu roteiro de viagem a  Europa, não repita mais isto e nem deixe que ninguém o faça, pois quando você fala que Portugal não presta,não oferece atrativos para o turismo, você está dando um grande atestado do seu desconhecimento, seja cultural, seja histórico. Vá lá com o espírito aberto, desfaça-se de qualquer preconceito e qualquer pré-conceito. Viva Portugal, conheça Portugal. Tenho certeza que você jamais esquecerá deste pequenino grande país.

Baía de Cascais-Pt.

Bibliografia
MAXWELL, Kenneth, NIZZA DA SILVA, Maria Beatriz,  “A Política”.  Nova História da Expansão Portuguesa, O Império Luso-Brasileiro, 1750-1822, (direc). Joel Serrão e A.H. Oliveira, Marques, Vol. VIII, (coord). de Maria Beatriz Nizza da Silva, Lisboa, Editorial Estampa, 1986.     

FLEIUSS, Max. Historia Administrativa do Brasil, 2ª.ed. São Paulo, Cia Melhoramentos de São Paulo, 1922.










         

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