terça-feira, 1 de maio de 2012

Um convite presidencial ao endividamento


Ontem, véspera do dia 01 de maio – Dia do Trabalhador - , antes do Jornal Nacional, ouvi o pronunciamento da Sra. Presidenta da República Brasileira – Dilma Roussef, que, apesar do nome, é brasileira,  aliás, orgulhosa e ostensivamente, a primeira  mulher a exercer o cargo no  nosso país, dirigido aos brasileiros e brasileiras trabalhadores.(aviso que presidenta o foi por decreto da própria presidente, que faz questão de assim ser chamada). 
Confesso que não ouvi todo o discurso, não gosto  da maneira Roussef de se dirigir ao público, tampouco  aos seus pares, enfim, não gosto mesmo, no caso de política, de palavras, e sim de ações,  por isso mesmo não assisto  a tais pronunciamentos, o que é um erro da minha parte, mas cansei de ouvir promessas não cumpridas, de jogo de palavras para enganar pessoas, de alteração de dados para confirmar o inconfirmável, e de ouvir grandes  baboseiras, como  acontecia em passado recente com um presidente  que continuava achando que era um lider sindical.
Bom o fato é que ouvi algo sobre a queda dos juros, o que efetivamente está ocorrendo, não é nenhuma balela, embora isto nao seja nenhum favor que se está fazendo aos brasileiros, é sim um atributo constitucional do governo, Art. 5º,  XXXII, que tem obrigação de promover, na forma da lei, a defesa do consumidor,  mas o que veio depois disto, inclusive após o pedido da presidenta  para que os bancos particulares sigam o exemplo dos bancos oficiais, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, baixando os juros, foi que me deixou estarrecida. Talvez a palavra seja muito forte, mas foi assim  mesmo que fiquei, numa surpresa sem tamanho, porque a senhora presidenta, que estava se dirigindo aos trabalhadores e trabalhadoras deste país, dizia que os juros  estavam baixando, e iam baixar muito mais, e os brasileiros e brasileiras teriam acesso a financiamentos mais baratos, inclusive, em relação  aos empréstimos consignados.
Porra! então  nós queremos que os juros baixem para nos endividarmos, para comprometermos os nossos parcos salários mais ainda? É este o discurso de desenvolvimento? Bom, provavelmente,  teremos que nos endividar  para colocar nosso filhos nas escolas particulares, para pagar as universidades particulares, os cursos técnicos particulares – lembrando que de uns tempos para cá, os cursos oferecidos pelo SESC e SENAC  são pagos, para pagar assistência médica particular, pagar mais IOF e outros impostos ao governo para que este  tenha maior arrecadação, e para que os senhores empresários aumentem os seus lucros em razão do crescimento do consumo.
Como não assisti todo o pronunciamento, não sei se  a senhora presidente  falou de algum aumento real, se lembrou dos aposentados, outrora trabalhadores e trabalhadoras deste país, que não terão aumento, porque certamente, depois que fazemos 60, 65 ou 70 anos, possivelmente, não precisamos de comer, dormir, ter lazer, nada, ficamos velhos e pronto, embora continuemos a  contribuir para o sistema de previdencia social, tal qual um trabalhador da ativa.
Também não sei se a senhora presidente falou sobre a formação profissional do trabalhador brasileiro, se há alguma perspectiva do aumento de vagas para cursos de qualificação, claro que patrocinados pelo Estado, para que as vagas que existem  para os trabalhadores, as que estão sendo oferecidas, possam ser preenchidas a curto prazo.
Fico indignada com  a imagem que se está formando no exterior  sobre o Brasil, posso dizer isto  com uma grande certeza. Há uma propaganda enganosa retada, porque  depois que o Senhor Presidente Lula  convocou os brasileiros que estavam fora do país  para  retornarem ao país das maravilhas,  uma grande maioria deles começou a voltar e a divulgar que no Brasil ia se dar bem, que havia muitas vagas de emprego, que estava na hora de "go back home".
Sem dúvida que eles merecem voltar.  Uma grande maioria vive de forma precária, embora muitos deles  vivam melhor lá de que nas suas cidades de origem aqui no Brasil.  Uma grande maioria tem subempregos, aliás,  coisa que também aqui teriam,  no entanto,  sobrevivem e, se conseguem a sua regularização no país onde estão, têm acesso a um imenso número de beneficios. Logicamente que são tratados diferentemente, afinal a xenofobia  está em plena “moda”  no Ocidente, porque eles também estão a passar por grandes dificuldades, vide Portugal, Espanha, Grécia, Itália, e outros países da zona euro.  Sarkosy que divide com a Ministra Alemã, a poderosa,  as rédeas  da comunidade européia, há alguns meses atrás tentou, e até conseguiu, fazer uma limpeza “étnica” em França, pois mandou embora muitos e muitos  “ciganos” europeus  para fora do seu país, embora de nada tenha adiantado muito, isto porque alguns já retornaram. Agora, uma das promessas da sua campanha politica é exatamente endurecer em relação a entrada de estrangeiros no país, ao menos é o que ouvoi hoje no Jornal da Globo pela manhã, quando noticiaram os números da campanha na França, assegurando a diminuição da diferença entre o presidente da França e o outro candidato.Por falar em campanhas políticas, o Osama Been Laden a esta altura está mesmo se revirando na cova, se é que morreu mesmo e foi enterrado, porque o seu “assassinato” está sendo usado como um trunfo pelo presidente candidato à reeleição nos Estados Unidos.
Portugal está cheio de “poloneses” “romenos” “ucranianos”,  “tchecos”, “russos”, “indianos”, “chineses” (estes estão em todas as partes do mundo, acho eu, porque em todos os lugares que ja estive há guetos de chineses, bairros chineses,  restaurantes chineses, lojas de chineses), que conseguem vender coisas  por um preço imbatível, ainda que as coisas não sejam de boa qualidade e muitos dos artigos sejam imitações baratas de grandes marcas, que são vendidas nas feiras livres de Portugal, onde  os “ciganos” são os grandes comerciantes. Vende-se tênis de marca fabricados na Indonésia, bolsas  da Gucci, Lui Vouiton, Armani, Dolce Gabana, Tous, Lacoste, etc., todas as grandes marcas enfim, em barracas de lona armadas nos finais de semana em Lisboa, e nos dias de semana em outras praças.
As jovens que saem dos seus países ou vão ser domésticas, ou exercem a profissão do “corpo”, sem muito prazer é claro, acho eu, porque quando passo pelas esquinas das ruas do centro de Lisboa e vejo os tipos que  elas  pegam dá mesmo vontade é de vomitar, isto também acontece com brasileiras, que se prostituem para juntarem “ algum” e voltarem para o Brasil, hoje não mais com dinheiro suficiente para compar um barraco. Já conheci muita gente que conseguiu trabalhar duro na Europa e fazer casa aqui no Brasil. Já se foi o tempo, mas isto já existiu.
Em relação aos homens, a grande maioria vai trabalhar na construção civil, quando muito nos cafés de Portugal, onde  todos, e aí é sem exceção, fazem de tudo, do trabalho de servir mesas à limpeza do estabelecimento, tudo enfim, embora isto seja uma cultura  de Portugal, em que a grande maioria dos cafés e tascas são empresas familiares, em que toda uma família trabalha e faz todo o serviço, desde a limpeza até à comida.
Pois são estes trabalhadores brasileiros, que tem de ter mais de um ou dois empregos para sobreviverem fora do país, que estão sendo convidados a voltar, atraídos  com o engôdo de que aqui no Brasil há vagas de emprego. Que tipo de vagas será oferecido para um  “cidadão”, que trabalhou clandestinamente na construção civil ?  Qual a qualificação de um cidadão ou cidadã que trabalhou  servindo mesas em algum café ou restaurante de Portugal,ou de qualquer outro país? Qual o emprego que será oferecido a um brasileiro ou brasileira que limpava as arquibancadas do estádio de football(este teve muita sorte, porque embora trabalhando com os recibos verdes estava regularizado no país)? Vai ser ele lixeiro? Penso que nem isto, porque o nível de escolaridade que se exige agora para a contratação de um empregado é fora da nossa realidade, aliás, se o emprego de lixeiro  não for terceirizado, exige  aprovação em concurso público, em que é imprescindível escolaridade mínima.
A construção civil esta precisando de mão-de-obra: não duvido, a televisão toda a hora mostra a necessidade, mas o que se quer é mão-de-obra qualificada, o que não temos, porque o país não proporciona esta qualificação, descumprindo mais um mandamento constitucional, Art. 23, V. No entanto, os juros baixaram e a  senhora presidente, indiretamente, convida a que os poucos trabalhadores (funcionários públicos inclusive) que podem ter o seu salário comprometido com as consignações, se endividem para  conseguirem viver condignamente, para que possam ter os seus direitos sociais, Art. 6º da Constituição Federal.
Os funcionários públicos, que vem sendo sacrificados desde  o Governo antecessor, continuam sendo desprestigiados, mas podem e devem,aliás necessitam, tomar empréstimos consignados a juros baixos, um presente de grego do governo, para manter  seus filhos em escolas particulares, para que que possam ter uma assistência médica particular, para que eles aprendam uma língua estrangeira e possam concorrer a uma vaga de emprego, enfim, para se qualificarem, sem que o Estado, a quem cabe a obrigação de promover o acesso à cultura, à educação e à ciência, se desobrigue  de tal encargo.
Bom, como realmente não  assisti todo o programa, não posso falar de mais nada. Sem dúvida que a medida de “baixar os juros” é bem vinda, o país  precisava dela há muito tempo, no entanto, ela não pode substituir obrigações do governo para com os seus cidadãos, que não podem se endividar para qualificar a si e aos seus familiares para que possam exercer, plenamente, a sua cidadania, porque  esta somente pode ser plena quando todos tem acesso a um emprego, a um salário, Art. 6º da Constituição Federal, que lhes possa assegurar uma vida digna e isto só se consegue com educação, e não com o endividamento de cidadãos, que hoje estão na ativa e que amanhã, como hoje, serão desprezados como se fossem um entulho qualquer, embora continuem a ter descontados dos seus vencimentos a contribuição previdenciária, o imposto de renda (salário).
Obrigada senhora presidente, tentaremos seguir o vosso conselho, quem sabe possamos viver de consignação em consignação até a hora final, quando quem nos suceder assuma as nossas dívidas, que, com certeza, não serão perdoadas. Quem sabe mais um seguruzinho para os bancos possa resolver este pequeno detalhe.   

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