Tenho observado mais quem está ao
meu lado, acho que os trinta e tantos anos não foram suficientes para
conhece-lo bem. Fui, voltei; fui outra
vez, retornei, e estamos juntos novamente, e eu me surpreendo com as
descobertas, algumas não muito boas, outras boas, e algumas excelentes.
As não muito boas não se referem
tão somente a uma só pessoa, e sim a todos os nossos contemporâneos. Estamos envelhecendo. E cultivando as manias que chegam com a
idade, ou que se intensificam com ela. Quem era "munrrinha", tá muito pior. Quem
era casquinha, agora tem medo até de dar um tchau, as mulheres com mais
motivos, porque o tchau significa mostrar as pelancas insistentes embaixo do
braço. Que merda! Alguns ficaram exigentíssimos,
afinal, ainda que não queiramos recordar as coisas ruins, elas nos deixam
marcas indeléveis, embora tire isto de letra porque também estou chata. A minha
mania de limpeza está sucumbindo diante da fraqueza do meu próprio físico, que
já não aguenta mais uma faxina de um dia inteiro. Agora tenho de dividir
cômodos: cada dia um e olhe lá. Fico orando para que ninguém entre na casa.kkkkkkkkk, assim não usam os banheiros, que a mania de grandeza do
companheiro, numerificou em 6. Lógico,
não é ele que limpa; três deles tem de ser limpos quase que diariamente, não
que sejamos porcos, mais é que banheiro é banheiro, xixi de velho é xixi de
velho e aí ninguém aguenta a porra.
Bom, mas o fato é que tem mesmo
coisas boas, não muito boas e excelentes nas descobertas.
Não sei se foi eu quem mudou, ou
se foi ele quem mudou, o fato é que, apesar
de ainda vê-lo de soslaio,
olhando desconfiada para algumas coisas, afinal, ainda que não queiramos recordar as
coisas ruins, elas nos deixam marcas “indeléveis, e os bálsamos nela colocados
condicionam para sempre todo um ser” parafraseando um velho companheiro, que
talvez não se lembre de ter dito isto um
dia, mas eu não esqueci e tenho aplicado isto ao meu viver, como certamente um
dia ele próprio quis, vez que isto foi
escrito para mim, sobre mim, todavia, o
fato é que, de soslaio ou não, venho observando as coisas, as posições, os
comprometimentos, as emoções. As emoções! Queria tê-las todas para mim, não tenho esta
sorte, sei que sou importantíssima, sei que, apesar desta importância, incomodo
muito, dou um prejuízo da porra, mas as emoções maiores não são registros de
mim. Como sempre foi, as emoções são para os amigos. Sim, ele os tem; e como
sabe conservá-los! Acho interessante quem tem amigos como ele, duráveis, não
perecíveis. Parecem bens imóveis de tão arraigados no coração (terra fértil)
dele. Que bom vê-los juntos, embora com
toda a ponta e ciúme que possam imaginar, ou não imaginar; a mim não interessa
muito, só sei que não posso esconder que tenho ciúme de cada um deles.
Todavia, fazer o que? Nada.
Aceitar, como tenho aceitado uma porção de coisas, desde coisas minhas mesmo,
coisas que nunca achei que passaria, por força de outras coisas que deixaram
grandes sequelas, principalmente as financeiras, como coisas dos outros. Apesar de ninguém acreditar, sou uma pessoa
calada, digo verdades, mas sou calada, quando as digo, ou disse, é porque tinha
ou tenho de fazê-lo. Nunca gostei de mentiras e subterfúgios, acho que não vou
gostar nunca. É melhor ficar com a minha fama de tresloucada de que engolir
determinadas coisas. Se estas ultrapassam muito o meu limite e eu não posso
falar, faço o que sempre fiz: me afasto completamente das causas. É uma pena, porque faço isto com pessoas que, inclusive, amei e amo muito, mas como não
quero estragar este amor, fico de longe só observando quando posso.
Ontem, por exemplo, ouvi um
discurso inflamado do companheiro que estava indignado com uma ausência em
determinado lugar. Sim, neste particular concordamos, achei mesmo que de quem
falávamos tinha obrigação de estar presente, se não pelo passado, mas pelo
presente mesmo, afinal, o que se estava comemorando era uma vitória de uma
menina-mulher, que estava dividindo com os amigos a emoção de ter conseguido a
sua formatura. Moça que foi criada com a filha de quem falávamos, e só por
isto, e pela presença, semana atrás, num momento do mesmo jubilo para o outro,
o pai de ontem estava presente, o amigo do passado não deixou que o momento
daquele pai e daquela mãe, daquela filha, daquele amigo não fosse presenciado,
comemorado, vivido e sentido. Todavia, ontem eles (a família) não estavam lá,
fiquei me questionando sobre o motivo, embora sabendo de alguns que poderiam impedir
a presença de um dos membros da família, mas os outros membros poderiam se
fazerem presentes; pois é: vi o meu companheiro indignado com isto, muito mais
que eu, como sempre, pois ele estava falando de emoções em relação a um amigo. Gostei das palavras, até porque ele falou da ordem do discurso, do
distanciamento deste em relação às ações.
Não pensem que o meu companheiro
não seja uma pessoa
preparada, ele o é, talvez não
tão culto quanto muitos , mas preparado, e o tempo o está fazendo sábio, embora
ainda tenha muito que aprender, aliás, todos nós, porque nunca vamos saber
tudo, e a cada dia temos uma coisa nova
na nossa vida, um novo aprendizado, uma nova visão de algum fato, enfim, somos aprendizes sempre,
e ai de nós se não fosse assim, se não tivéssemos capacidade de ver erros para consertá-los e com isto crescermos mais
e mais, evoluindo sempre para alcançarmos o nosso melhor.
Ouvi, ouvi, ouvi. Retruquei
algumas coisas, mas o que ouvi me fez refletir sobre o meu companheiro. Será que
ele mudou mesmo? Ou será que eu nunca percebi que ele sempre foi assim? Fico
com a primeira hipótese, pois não posso admitir que depois de trinta e cacetada
de anos, eu não conheça este lado.
Há algum tempo atrás ouvi alguém dizer:
“ de todos nós, o melhor que há é “fulano”! Dei muita risada; nem me lembro qual
o motivo do comentário, mas isto já faz muito tempo, e automaticamente, depois
do discurso inflamado de ontem, isto me voltou a cabeça imediatamente. Não que
eu ache que ele seja o melhor, nem ontem e nem hoje, ele é ele, aliás, como os
seus defeitos também de sempre, alguns acentuados pela idade, mas fico
questionando a mim mesmo, exatamente, por que será que eu não consegui nunca
ver isto?
Bom tudo isto é para dizer que
devemos olhar quem está do nosso lado com mais atenção, com olhos de ver, de
sentir, de querer. Se olharmos mais o
outro, enquanto estamos junto deste outro, certamente descobriremos, mais cedo,
alguns defeitos, imensas qualidades, aprenderemos a perdoar os erros enormes
que as vezes acontecem, exatamente pela falta de conhecimento do outro, pela
falta de atenção, pela obsessão em sermos melhor de que o outro, ao ponto de nem
percebemos que a cor predileta de quem vive conosco é simplesmente o AZUL.
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