Está tentando fazer um balanço de
2016, entretanto, não consegue colocar no papel as emoções tantas, sofridas e
vividas nesse ano que passou.
Está sozinha, o que não é uma
grande novidade, mas o fato é que está e fica sozinha, parece que estar mesmo condenada
a viver só no meio de tantos, tantos que passaram pela sua vida no ano findo,
inúmeros, nunca tantos estiveram tão
próximo de si, mas nada aliviou a sua solidão, que não é sequer percebida. Todos pensam que ela
está bem, que ela gosta da vida que
leva: Que engano! Eles não sabem de suas angústias, de suas dores, de suas
aflições.
Viajou mais uma vez, não foi sozinha,
mas é como se fosse, porque não adianta
estar com ninguém, quando nada se
compartilha, a não ser desencantos e decepções, que na verdade não são
compartilhadas, é que de tão intensas não poderiam ser escondidas e as pessoas
percebem, até quem nada tinha de ligação com ela, a exemplo do guia da cidade andina, onde uma coisa boa e linda
aconteceu, pois viu, literalmente da janela do quarto, as montanhas cobertas de neve, era a foto folhinha de
alguns anos atrás se reproduzindo á sua frente com toda a intensidade e brilho.
Os tons cinzas, azuis e a generosidade do branco trazendo a si os sonhos
sonhados de outrora, ora em realização.
Viu a sua amada terra lusitana, não
como desejava, mas lá esteve: andou pelas ruas´, entrou nas velhas conhecidas
“tascas”, chegou mesmo a conhecer novas, mas a solidão lhe ameaçava a todo
momento. Estava só, sem querer estar só, pois quando se está só porque é assim
que se quer, tudo é extraordinário, mas ela não queria estar só, queria ter
alguém para compartilhar a sua alegria
de retornar á Lisboa, mas nem isto conseguiu, e o resultado foi mesmo aquele,
solidão amarga, chorosa, uma saudade imensa
de tempos outros em que rodopiava
por Lsiboa, pelos seus cantos, pelas suas encostas, pelas suas ruelas, pelas
suas escadarias, que sempre lhe faziam
pensar que não chegaria ao topo, e se chegasse, teria de ser levada, pois não
conseguiria, mas sempre conseguiu.
Cozido quinta feira não lhe alegrou,
pelo contrário, lhe entristeceu. Mão de vaca na terça, outra dose de nostalgia,
de lembranças, de lágrimas rolando e se misturando ao caldo da comida, talvez para acrescentar
mais um pouco de sal.
Um ano a mais, em que não fez
nada do que queria, do que se programou. Um ano de saudades, e muitas
lembranças. Sua mãe se foi, aliviando a
dor própria e de tantos outros,
inclusive a dela, que nunca escondeu o desejo de que tudo acontecesse mais
rápido, porque nunca entendeu, nem entenderá jamais, para que
viver sofrendo na morbidez inútil de uma vida sem movimento, sem
perspectivas, uma vida dependente.
Não só a sua mãe, mas também
pessoas muito ligadas à si, partiram sem dizerem adeus e sem que ela pudesse
ter tido tempo de lhes dizer o quanto elas foram amadas, queridas, não
olvidados. Queria fazer-lhes entender que a sua distância era melhor para
todos, pois costumava, aliás, costuma, dizer coisas que as pessoas, por mais
amigas que sejam, não gostam de ouvir, por isso ela sempre se afasta, para que
as pessoas vivam as suas próprias vidas,
sem as suas criticas, o que não significa que ela as esqueça em momento algum,
ou tenha diminuído o seu amor e a sua admiração por cada uma deles.
Viu pessoas se aproximarem,
pessoas que ela jamais imaginara que algum dia estariam tão próximas de si,
aprendeu a ver as coisas boas de
alguns, coisas que ficaram nubladas por
tanto tempo e que, apenas um gesto, fez com que
as nuvens se fossem e ela pudesse ver,com mais clareza, como as pessoas
realmente são e como ficam escondidas
atrás das suas nebulososas, porque não querem mesmo ser conhecidas. Agradece a
estas a oportunidade.
Leu livros, Ah como gostaria de
ter lido muito mais! Se viu protagonista em um deles. Nada como ser uma
personagem no livro de outrem, ver-se
pelos olhos do outro. É engraçado e chocante ao mesmo tempo, entretanto, não
deixa de ser bom, porque de repente você se descobre importante, tão importante
que vira personagem de uma ficção.
Escreveu muito, coisas boas e
coisas ruins, coisas engraçadas; não escreveu coisas tristes, está se
policiando muito para não fazê-lo.
Afinal de contas, um escritor deve fazer com que o seu público, seja ele de
uma pessoa, seja de centenas e milhares delas, sinta prazer , fique feliz,
sorria diante das coisas que escreve, mas infelizmente nem sempre consegue não falar de coisas tristes.
Viu cenas, fatos que serão a
história que será ensinada nas escolas doravante. Viu personagens que serão
tidas como heróis, mas viu muitos que
serão encarados como bandidos, aliás, o que são mesmo. Presenciou a queda de muitos, e ainda espera presenciar mais e
mais, viu a decadência das instituições
e, com muita tristeza, viu a
Constituição da República ser recortada para
que acertos fossem realizados, para diminuir a penalidade de alguns,
para beneficiar tantos que passaram por cima dela, tudo com a justificativa de
que a interpretação dela tem de se adaptar à realidade atual. Até
entende que deva ser assim, mas isto não significa contrariar a própria letra
da lei, desvirtuá-la tanto que a
interpretação vira uma nova regra, um novo enunciado, um novo paradigma.
Bom mesmo foi ter convivido por
alguns dias com a uma de suas netas e ver a reaproximação de uma família( seu
filho, irmãos e pai). Ver também o crescimento profissional dos filhos foi
importante, espera em Deus que as coisas continuem assim para eles.
Na sua vida pessoal nada aconteceu, apenas uma solidão infinita que
continua lhe machucando muito, mas esta foi uma opção, e ela vai seguir até a
hora em que o seu coração e a razão estejam juntos falando a mesma língua, e ela possa dar um
basta em tudo, um basta definitivo, para que não exista qualquer chance de um
retorno.
Que 2017 seja melhor em todos os
sentidos, embora ele já venha com contornos
tristes, pois logo no inicio já
presenciou uma perda, dolorida e sem lógica, mas como a vida não tem lógica
alguma, vamos em frente. Que todos
realizem sonhos durante o ano de 2017, e não só nele, mas sempre, pois é
sonhando e realizando sonhos que a vida
nos traz felicidade.
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