O nome do bar é “cool”. Pronuncie bem o “l” final, deixe-o vibrar entre a língua e o céu da boca. Não se pode fazer bico, pois, se o fizer o bar vira um sanitário público.
O certo é que estávamos ali, chegamos cedo para pegar uma boa mesa para assistir o jogo. Como o bar é o primeiro de uma série de 30 a 40 seguidos, observávamos carreatas de pessoas passando em frente ao bar, a predominância do “verde e amarelo” era notável. Todos queriam mostrar nas vestes o que lhes ia ao coração, o orgulho imenso de ser “brasileiro”.
Os modelos variavam. Desde a famosa camisa oficial da seleção brasileira de football, com emblema da CBF e tudo, que era delicadamente beijada por um patriota, às tiras verdes e amarelas formando um bustiê para não cobrir nada, ou melhor, deixar entrever o patriotismo nacionalista, literalmente, no peito. As tiras nem cobriam e nem sustentavam tanto amor patriótico transbordando por todos os lados.
Adiante, um pouco mais na frente do bar, pais que orgulhosamente mostravam os seus herdeiros, bebês verdes e amarelos, o símbolo da nação protegendo um deles do vento, uma proteção aos seus jovens filhos, o outro, trazia uma faixa na cabeça com o nome e cores do Brasil. Os pais, devidamente paramentados, não deixavam quaisquer dúvidas de suas origens.
Uma bandeira imensa passa, todos gritam. Vendedores estão parados na frente do bar, de um lado o cachecol de Portugal, do outro, camisas, bandeiras, chapéus do Brasil.
O jogo recomeça, estamos todos ansiosos, Portugal volta melhor, Cristiano Ronaldo aparece mais no jogo, já se fala mais nele, consegue algumas passagens por Lúcio, mas nós confiamos no nosso capitão. As queixas continuam de ambos os lados. Ninguém tem coragem de levantar do lugar para pegar uma cerveja, nem os garçons se atrevem a passar na frente de algum torcedor. A hegemonia é mesmo brasileira. Há portugueses, uns mais patriotas de que outros, vestem as camisas da seleção, mas são poucos naquele espaço. Muito poucos mesmo. O jogo, á essa altura, se arrasta, não acaba; o empate permanece. Um susto no finalzinho do jogo, nada que o nosso goleiro não possa enfrentar, mesmo todo amarrado como a televisão mostra, ele não deixa a bola entrar. Toma a pancada e se refaz.
A Banda recomeça a tocar. A cantora pequenina de voz potente canta o hino nacional brasileiro. Erra a letra, mas a moçada em baixo do ínfimo palco ajuda: ela se refaz e canta corretamente toda a letra. O samba toma conta de todo o espaço. As pessoas voltam a passar, desta feita, no sentido inverso. Parece brincadeira, mas o verde e amarelo tomou conta de todos os espaços mesmo, mas, ainda assim, há lugar para todos; a lusofonia faz a união: portugueses, angolanos, moçambicanos, cabo verdianos, poucos, bem verdade, mas ali estão, unidos, juntos, valorizando a língua e alegria. Todavia, não só lusófonos se fazem presentes, muitas outras nacionalidades se achegam, a mistura demonstra a força da música e do football.
Uma moça linda chama atenção, pela sua altura e beleza, pela capa de super mulher(uma bandeira do Brasil) e pelo olhar que lança para alguém que esta na parte de cima do bar e quer lhe jogar uma camisa.
Enfim, o 0X0 já não importa mais. Acabou. Vamos ao próximo. Agora é a vera mesmo: Brasil X Chile e Portugal X Espanha. Ibéricos contra ibéricos, americanos do sul contra americanos do sul. Seria mais justo?
O certo é que vi o jogo Brasil e Portugal em Lisboa, no Parque das Nações, com a nítida impressão de que estava em casa, no meu país. Depois deste jogo acho que o dono do bar deveria mudar o nome do estabelecimento para “Hot”, pois, o que se fez presente ali, do início ao fim do jogo e, ainda, depois dele, foi a quentura do brasileiro, o nosso calor humano, a nossa alegria de povo que esquece o sofrimento em momentos como esses, talvez só de quatro e quatro anos, o povo que mostra e ensina ao mundo o que é ser “BRASILEIRO, COM MUITO ORGULHO E MUITO AMOR”.
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