São três horas da manhã. Há chuva lá fora, o vento, mostrando todo o
seu poder, desnuda as árvores, folhas caem em profusão, ouve-se o som das
folhas rolando pelo chão. Um pouco mais
longe, mas não menos presente, o som das ondas chega aos seus ouvidos. Fica
imaginando a altura das ondas, a espuma densa se formando. Sim, o som é forte,
sinal de que o mar está mesmo alto, violento e quer tomar todo o espaço.
Ela não entende porque está
acordada, dormira cedo, efetivamente. O dia decorrera tranquilo, não fora a
notícia do falecimento de uma pessoa que teve um momento de importância na sua
vida. Tomara duas garrafas de vinho, um deles espanhol, ambos deliciosos,
evidentemente que houve compartilhamento do vinho, ainda assim, os efeitos
fizeram-na dormir antes das 7 da noite, e o resultado é este, acordada desde
1:30 tentando acessar a internet. Depois de três dias conseguiu acessar a sua
caixa de mensagens, mesmo assim, com muita dificuldade. A luzinha verde do
modem oscila e, no meio da leitura de uma mensagem, tudo para.
Fica com cara de besta olhando aquela tela inerte na sua frente, nada se
movimenta, tudo travado. Desliga a
máquina, torna a ligar, tenta, outra vez entrar na net, clica no google, uma
esperança! Aparece a página de pesquisa.
Clica no site a acessar e fica esperando, olhando aquela rodinha a girar,
girar, girar, para depois ver na tela; página indisponível. Tem ganas de rumar
o computador no chão. Pensamento que
logo lhe sai da mente não só porque lembra do preço da máquina, como também
pelo fato de que a miserável não tem culpa. A culpa da demora no acesso à
internet é da operadora, no caso hoje, da OI, que, depois de dois dias da
compra do chip que lhe garantiria o acesso aos seus sites, registra apenas as
mensagens a lhe dizer quanto tem de saldo, quantos megas já utilizou, enfim,
uma série de informações ordinárias que não condizem com a realidade, porque
ela não conseguira, até o momento, entrar na sua webmail. E lá se vão os
créditos e a sua paciência.
O vento continua lá fora, fica
pensando na planta que, pela tarde. já estava quase totalmente envergada, agora,
possivelmente, já está no chão, todavia fica torcendo para que ela volte ao seu
estado primevo, porque ela é forte, ela enverga mas não quebra, este é o lema,
que pode ser aplicado a si própria. Ela sofre, passa dificuldades, enverga, tem
a sensação de que tudo acabou, mas, de repente, está ela ali outra vez,
inteira, com marcas, mas inteira. Não sabe onde arruma forças para vencer as
suas tempestades, os seus ventos interiores e exteriores, os relâmpagos e os
trovões, que lhe incomodam imenso, mas ela arruma estas forças, seja olhando a
própria chuva, o mar violento ou calmo, uma planta nascendo, um riso franco de um
amigo, esta última opção, mais escassa, mas o fato é que ela arruma forças e
sai dos infernos em que entra, que, acreditem: não são poucos.
A madrugada vai em frente, e ela
não consegue dormir. Não quer pensar em problemas e por isso mesmo, resolve
escrever: queria não falar de coisas tristes, queria contar um conto novo, um
acontecimento engraçado, fazer as pessoas sorrirem, mas é difícil, porque a
própria natureza lá fora está triste, chora forte as suas mágoas, se faz ouvir,
ela quer mostrar aos homens que lhe estão fazendo mal e que ela vai reagir, dá
pequenos avisos, mas ninguém parece se incomodar, ela leva cais, paredões, mas eles dizem que tudo é
natural. Não é não; cada dia que passa o mar cresce mais um pouco, e derruba
tudo: paredões, sacos de areia, vai tomando o seu espaço invadido. Barcos vêm
parar na areia, prejuízos se acumulam, e ninguém percebe o que se passa, culpam
até Deus; dizem que não merecem o que está acontecendo, esquecendo-se do que
fazem para que a natureza se comporte tão agressivamente, é um retorno, apenas,
ela só está devolvendo o que lhe proporcionaram.
Arembepe -Ba |
Arembepe alagado = Ba-2013 |
Rio Jacuípe - Ba |
porque vem tendo tantas angústias, prenúncios de depressão, nostalgias inócuas, porque sabe que nada voltará ao que era antes, mas insiste em ficar remoendo o passado. As coisas podem mudar e, efetivamente, mudarão, mas como se anda para frente, mesmo com erros, que muitas vezes dão a impressão de que são renovados, mas que não são, porque cada erro ter uma nuance diferente, tem a sua própria especificidade, ela percebe que um novo e tenebrosos momento se aproxima. Ainda não tem noção exata do que é, da consequência efetiva do que está para acontecer, mas sabe que, envergará, tal qual a planta no jardim de sua casa, entretanto, não cairá. Mais uma vez encontrará forças para encarar tudo, passar por cima, vencer mais uma etapa, e ainda que um galho se quebre, um outro renascerá, talvez com mais viço, com mais brilho, e quem sabe: com muito, mas muito mais mesmo, esperança, fé, alegria e amor!!!!!
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