É domingo, por incrível que
pareça, dia das mães, um destes dias de consumo intenso criado pelo consumismo, que, aproveitando o
sentimentalismo falso de muitos, não de todos é claro, se aproveita para encher
as burras, como se o dia das mães tivesse data fixada no segundo domingo do mês
de maio.
Mãe é todo dia, mãe não tem data
certa, nem tempo certo, nem intensidade no amor. Mãe apenas ama, não porque tem
obrigação de fazê-lo, e sim porque uma parte de si está fora do seu corpo,
acabando de se desenvolver. O Elo de ligação entre esta parte que se
exterioriza e a que permaneceu no próprio corpo da mãe é uma coisa que ninguém,
que não passa pela experiência, entende.
Há mães de todas as maneiras,
mães boas, mães más, mães inteligentes, mães famosas, mães desligadas, mães
loucas, mães possessivas, mães irresponsáveis, mães sufocantes, mas estas
qualidades de cada mãe, não existem por ela ser mãe, e sim porque, antes de ser
mãe, ela é uma pessoa com todos os defeitos e virtudes, que se potencializam
quando a pessoa vira “mãe”.
Sei que sou uma mãe completamente
defeituosa, mas ninguém duvide que sou mãe: louca, alucinada, mandona, agressiva,
mas com todas as responsabilidades que adquiri no momento em que um outro ser,
que não pediu para vir ao mundo, saiu de dentro de mim.
Nunca fui amorosa, e nem mesmo a
maternidade me fez assim, continuo escondendo sentimentos, seja para
ascendente, seja para descendente, mas isto não indica qualquer coisa do meu
amor, seja pela ascendência, seja pela descendência. Não gosto de ser melosa, para mim esta
melosidade significa mais uma fraqueza de que amor. O meu amor se exterioriza
de diversas maneiras, principalmente, e, infelizmente, na parte material desta
relação de responsabilidade com o outro, mas nada e, nem ninguém, entra no meu
interior para saber o que é ter sentimento imenso que é o de saber que, apesar
de se ter de deixar que o outro cresça, que se liberte de suas entranhas, do
seu domínio, não se desliga a tomada em nenhum momento. Sofro quando aquele ser
sofre, choro se sei que ele não tá bem, penso no que ele pode estar pensando. Tenho
vontade de me meter nas coisas até hoje, embora tenha a ciência de que cada um
tem um destino e que ele está imbricado com cada ato que se pratica. O destino
não é dado por Deus, muito pelo contrário, o nosso destino, à exceção dos casos
de força maior, é fabricado dia a dia por nós mesmos e, por isso mesmo, mãe
sofre muito, porque vê, pode antever até, o que vai se passar na vida de um ser
tão amado, tão querido, que está fabricando erroneamente a sua própria vida,
mas que você, que o trouxe ao mundo, não pode intervir, porque há um momento
que fica tarde para isto, e a gente tem de se conformar, e, se possível, apenas
apoiar.
Há quem ache que devemos apoiar
os filhos em qualquer momento da vida e em qualquer situação: eu, pessoalmente,
não concordo com isto, porque não se pode, nunca, apoiar o erro, ainda que
muitas vezes o erro esteja dentro da nossa própria cabeça, que entende diferente
muitas coisas. As vezes esquecemos que a diferença de idade de uma mãe para um
filho é mesmo uma coisa “delirante”. É porque em muitos momentos deliramos, dizemos coisas que não
queremos, vemos coisas que não existem. Algumas mães são capazes de, esquecendo
dos seus preconceitos, dos seus valores, entenderem os seus filhos; eu não sou assim, efetivamente não sou assim,
e não entendo e nem aceito uma porrada de coisas, mas, apesar disto, não sou capaz de abandonar o meu pedaço mais de três meses, olhe que já tentei muitas
vezes. Deixo de dar dinheiro, deixo de ligar, deixo de procurar, digo a mim mesmo que vou deixar ele quebrar a
cara, aliás, se fosse contar as inúmeras vezes que disse isto, não existia mais nem um pedacinho
de cara dele, tava tudo lenhado e eu perderia um dos mais belos sorrisos do
mundo, que é o sorriso do meu filho quando ele está em um momento de felicidade
e eu posso olhar-lhe, sorrateiramente, para que ele não perceba o grande amor
que sinto, o grande desejo que tenho de que ele se encontre, seja feliz, viva
uma vida digna e saiba transmitir valores bons para os seus filhos.
Pois é, comecei este texto para
falar de televisão, porque liguei a
televisão cedo, e à exceção de dois programas, um rural e um outro de samba,
que por acaso é apresentado por Diogo Nogueira, o que já alivia mil e uma
“tesões”, hoje traz a família de Jair Rodrigues: todos os demais canais que a
antena alcança estão transmitindo pregações de todas o pastores e em todas
as igrejas possíveis, inclusive a
santa missa de Aparecida, o que eu acho um verdadeiro saco, pois não gosto
que entrem na minha vida assim, isto é
uma massificação do “cristo” que eu não
consigo entender, não aceito, não gosto.
Isto não significa que não tenha fé, tenho sim, mas não tenho uma fé
paga, que existe apenas porque Deus, ou seja quem for, vai atender-me na
proporção da minha contribuição. Bom, mas isto agora não interessa, o que
interessa mesmo é que, dia criado pelo consumo ou não, hoje é um dia que
filhos, que não são filhos vinte e quatro horas, como são todas as mães,
lembram que tem de comprar um “perfume”,
um “sabonete”, “uma roupa”, “um relógio”, até um carro uma viagem, uma joia
para os mais abastados para lembrar o que nenhuma mãe, em momento algum da sua
própria vida, esquece, que é ser mãe, que é ter um pedaço de si própria fora de
si própria, um pedaço que é maior do que o seu próprio corpo, de sua própria
alma, que sofre, chora, seja de agonia, seja de felicidade, seja, apenas, por
amor.
Por mais inacreditável que seja,
amo meus filhos, o que saiu de dentro de mim e os que a vida colocou no meu
caminho sem a minha efetiva participação, amo os três com a mesma preocupação
de mãe que quer que todos eles sejam muito, mas muito felizes mesmo!

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