O dia amanheceu calmo, mas ela
tinha uma sensação estranha, um presságio de notícias ruins, e, infelizmente,
às 10:00 da manhã, tudo se confirmou.
O telefone fixo toca, ela segue
para onde fica o aparelho. Vai sem
querer ir, era como se tivesse a certeza que não ia receber uma boa notícia.
Todavia, tem mãe, irmãos, filhos e netos.
- “Alô”.
- “Bom dia, quem fala”
- “A senhora ligou para quem”
- “Para a Sra. Cornélia Semog “
- “É ela”
- “Sra. Cornélia fui encarregada
de lhe passar uma notícia desagradável, e o faço eu porque a família está
transtornada.”
Tomou um susto e, imediatamente,
recordou do seu amanhecer e do pensamento que teve enquanto se dirigia ao local
onde ficava o aparelho.
- “Sim, pois não, o que houve”? E
na sua particular irreverência: “Quem morreu”?
- “A Sra. já sabe?”
- “Sabe de que minha senhora”?
- “A Senhora está perguntado quem
morreu, sinal de que já deve saber de alguma coisa!”
- “Sra. o que: Qual é o seu nome?
Diga logo o que aconteceu pois está me deixando nervosa.”.
- “Meu nome é Izolda com “z” e sou
amiga da família”
- “Que família minha senhora, adiante
logo o acontecimento”
- “Bem que me disseram que a
senhora era um pouco esquentada”
- “Pqp: a senhora vai falar ou
não, se isto for um trote a senhora vai se dar mal”
- “Vou falar sim, é que a informação
não é nada boa”.
- “Vou desligar esta merda, e a
senhora vá sacanear outra pessoa”
- “Já sacaneei hoje, se a senhora
entende assim a comunicação que tenho a fazer, já sacaneei umas três pessoas”
- “Caracas, vou desligar mesmo! “
- “Dona Cornélia se a senhora
soubesse a notícia que tenho para lhe dar, a senhora me tratava um pouco
melhor, com mais educação, porque eu que não tenho nada com a estória, ´que fui
solicitada para falar consigo”
- “Sra. sei lá o que, Izolda com
“Z”, eu vou desligar, não tenho tempo a perder, se a senhora não quer cumprir a
sua obrigação “moral” acho eu, o problema é seu. Certamente, se alguém morreu e
eu tiver de saber, no momento certo saberei, portanto, como não lhe conheço,
como não tenho a menor ideia de quem tenha morrido que faça parte da minha
relação de amizade, e se fosse alguém da minha família eu já saberia, até porque
eu seria eleita, à unanimidade, para pagar as despesas funerárias, não vou
ficar aqui falando com alguém que não
tenho qualquer relacionamento, afinidade, conhecimento, enfim, não vou ficar
falando com a senhora.”
Bate o telefone e vai fazer as
coisas que tem de fazer, mas a porra do telefone toca outra vez.
- “Dona Izolda com z vá a merda”
- Cornélia, sou eu Cornidilia: Quem é
esta Izolda com “z” que lhe deixou tão irritada? Por que você está tão nervosa?
Então você já sabe o que aconteceu não é?”
- “Pqp, outra vez!!! Eu não sei de banana nenhuma e parece que não
vou saber. A outra estava neste mesmo papo e por isso já atendi assim. Mas o
que foi que houve mesmo, você vai dizer logo ou vai fazer rodeios para falar? Se
for assim eu vou desligar o telefone porque vocês estão me fazendo ficar
nervosa”.
- “Calma Cornélia, você só tem de
respirar um pouco, ficar calma, pois a noticia é realmente ruim.”
- “Que cacete, que notícia ruim é
esta que vem de cagado. Dizem que notícia ruim chega logo, mas esta parece que
não quer ser noticiada, pelo menos para mim, pois, ao menos, duas pessoas
diferentes já sabem”
- “É: por isso que ninguém queria ligar para você,
todos temendo a sua reação!”
- “Rapaz, vocês tão mesmo de
sacanagem comigo! Que diabo aconteceu?”
- “Não fale o nome do demo; neste
momento o melhor é falar em Deus”
- “Cornidilia, vou esquecer da
nossa amizade e do elo que nos une e vou mandar você para aquele lugar.
- “Cornélia é mesmo difícil falar
com você: todo mundo tem razão mesmo, você é grossa, ignorante, nem mesmo num momento
deste, e para te dar uma notícia desta, a gente tem de abrir qualquer precedente
para você, não vou falar nada, procure saber o que aconteceu sozinha.”
Cornidilia desligou o telefone na sua cara e
ela, que já estava espumando de raiva, de curiosidade e tensão, ficou sem saber
o que tinha conhecido. Pensou em ligar para alguém, mas desistiu: uma terceira
pessoa ia ligar se o caso fosse mesmo importante, ela saberia, se é mesmo que
alguém tinha morrido, da notícia.
Outra vez o telefone toca, desta
vez o celular; ela olha o número no visor, não reconhece aquele número. Os três
algarismos do início demonstram que a ligação não é local.
- “Atendo, não atendo, atendo,
não atendo”. Continua olhando para número sem tomar qualquer atitude”. Decide não atender e vai preparar alguma
coisa para comer, mas outra vez o telefone toca, agora os dois começam a tocar
concomitantemente.”
- “É realmente alguém que eu devo
conhecer bem morreu, pois não é possível que tanta gente ligue para mim em um
dia de sábado, neste horário, em que a grande maioria que conheço já está se
preparando para começar “os trabalhos””
Vai atender o celular. De novo o
mesmo número que não conhece. Não atende. Vai para o fixo, há um número que
também não conhece e que não é local. Fica olhando os dois telefones; no
pensamento faz “uni, dune, te etc., o
escolhido foi você”. Dá risada, pois só neste momento é que percebe o que significava
uni, dune, ter, que tanto usou na sua infância para escolher alguma coisa, (um
dois e três) e este pensamento faz com que ela dê uma imensa gargalhada e é
assim que atende ao celular.
- “Sra. Cornélia Semog”
- “Sim”
- “O meu nome é Cornelson”
- “Como”?
- “Cornelson, é estranho mas é este mesmo. Sou de Bombinhas,
Santa Catarina, estou indo para a Cornuália e, alguns amigos comuns mandaram
que eu procurasse a senhora, para me dar algumas informações sobre o local”.
- “Sr. Cornelson, acho que lhe informaram erroneamente, não
conheço a Cornuália, a não ser através
de um livro que li há tempos atrás. “Catadores de Conchas” acho eu, penso que
fica na Inglaterra, Irlanda, não sei bem, portanto, não lhe posso dar qualquer informação”.
- “Como a senhora não sabe! Estou
aqui na minha mão com um artigo escrito por si, e amigos comuns me deram o seu
telefone.”
- “Continuo achando que houve um grande
engano, ou uma coincidência extrema, pois nunca escrevi nenhum artigo, nunca
estive em lugar com este nome, enfim, acho que por força do meu nome, Cornélia, resolveram
me enfiar uma Cornuália, que não conheço, não quero conhecer. Esta questão de "corno" é assim, todo mundo sabe e quer tirar um sarro.”
- “Bom, mas não é possível, porque dias atrás encontrei um nosso amigo comum, que infelizmente faleceu, e foi ele quem
me deu o seu número”.
- “Quem faleceu meu senhor”,
- “AH a senhora ainda não sabe,
não posso crer, ele falava tanto na senhora, ele que dizia que a senhora foi
uma das pessoas mais dignas que ele conheceu, que ele admirava tanto. A Senhora
que deveria ser a primeira a saber, ainda não sabe do falecimento dele”.
“Pqp! Realmente hoje não é o meu
dia: Olhe aqui senhor não sei das quantas, vou desligar e tenha um péssimo dia e
que a sua Cornuália se transforme mesmo em uma grande "corno" e como manda a tradição, que o senhor seja o último a saber, aliás, o senhor,
decididamente, está indo para o lugar adequado”
Desliga o telefone e já não
aguenta mais, a curiosidade o nervoso a agonia. O celular toca de novo.
- “Vá a merda”,
- “O que? Que é isto Cornélia? Bom
mas parece que você já sabe.”
- “Sei de que?
- “Sua reação ao telefone já diz
tudo”
- “Tudo o que?”
-“ Do seu nervoso, da sua
aflição, da sua angústia, mas não se preocupe, tudo vai dar certo, nós
estaremos aqui, juntos com você”.
- “De que você está falando Cornalina?”
- “Dele, obviamente, estou falando
dele”.
- “Dele quem?”
- “Do pai de seu filho”
Danou-se, pensou ela, que tinha três
filhos de parceiros diferentes.
- “De que filho cacete?”
- “Do seu marido”. Ele vai ser
sepultado daqui a pouco, acho que daqui há umas duas horas. Das diversas
mulheres que ele teve só falta você, todos estão aqui comentando a sua
ausência, tem até aposta se você vem ou não.
Você devia vim, o enterro em si ainda vai demorar e se você vier agora
ainda vai ter tempo de ver as mulheres todas se entreolharem querendo uma matar
a outra, cada uma no seu nincho com a família, quero dizer ela e os filhos, você
sabe que são muitas, isto aqui está mesmo hilário, você devia vim. Tem gente
aqui falando que ele teve toda razão em lhe deixar, uma pessoa que é tão
rancorosa, tão ruim, que nem no momento deste vem prestar solidariedade, tinha
mesmo de ser deixada”.
- “Como é que é! Quem morreu
mesmo?
- “Você ainda não percebeu? Ele, o
pai de seu filho”
- Olhe, quer saber, não sei de
quem você tá falando, se você no disser o nome não vou saber qual dos pais de
um dos meus filhos faleceu, portanto... Além do mais, nenhum dos meus filhos me
disse nada até agora, bem improvável, pois, que estejamos falando de algum dos
meus maridos.”
- “O mais mulherengo mulher! Pois
só de ex, aqui, tem umas quatro, só falta mesmo você para completar a zorra”.
Desliga irritada o telefone. Fica
pensando, qual deles faleceu, se foi um de seus maridos, porque o filho
respectivo não ligou para dizer,ele sim, ou um dos tios, é que deveria lhe
ligar para dar a notícia.
O celular toca outra vez, olha o
número, e reconhece o telefone, seu coração acelera.
“Alô meu filho, eu já sei de
tudo, você quer que eu vá com você para o enterro? Se quiser eu vou. Nesta hora
vou esquecer o que aquele sacana fez comigo e você, vou passar por cima de
tudo, vou apenas lembrar que ele é o seu pai vou te dar apoio.
“Como é minha mãe? Meu pai
morreu!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
kkkkkkkkkk
ResponderExcluirMuito bom! Mas sacanagem dar uma notícia destas assim! rsrs
Bjs