quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Música - Entre o real e o imaginário


  
Roberto Carlos canta “DETALHES”, ela ouve e presta atenção à letra: se emociona, lembra-se de quando foi lançado o disco e que ela ganhou um “compacto” com somente duas músicas, mas ela só se lembra de uma delas, que é exatamente esta: DETALHES.
Tinha apenas dezessete anos, trabalhava em uma empresa que comercializava água mineral, ela estava no auge da sua beleza de menina, ainda não podia ser considerada uma mulher, tinha tudo para sê-lo, aliás, os seus chefes, que eram muitos na empresa, uma limitada com quatro sócios e mais um gerente assim pensavam, o último deles resolveu que ele é que tinha de ser o primeiro homem da sua vida. Sem dúvida ele conseguiu ser, mas apenas o primeiro homem que lhe mostrou, efetivamente, quão canalhas podem ser aqueles que têm algum poder e pensam em utilizar este poder para receber favores, o que hoje caracteriza, e bem, o “assédio moral”. Todavia, o cara não conseguiu nada, apenas ensinar-lhe que devia evitar os homens apaixonados ciumentos, que querem ser dono do outro e não medem esforços para desemprenhar este ridículo papel.
Pensa consigo própria, perdeu a chance de receber uma bela indenização, não só desta empresa, mas de algumas outras em que trabalhou. Dessa vez os “felinos” escaparam, não só os “felinos” como também os “equinos” e os “pinheirais”.  Mas nada disto, de todas as vicissitudes que passou por força da sua inocência e beleza, todas as suas desventuras com estes homens mais velhos, lambões, idiotas e ridículos não conseguiram tirar o seu “frescor” a sua juventude, a sua vontade de viver e de vencer, tampouco acabar com os sonhos que a música DETALHES lhe fazia viver hipoteticamente, pois ela sonhava mesmo com uma calça “LEE” desbotada, que era a moda da época, e só servia se fosse comprada no cais, “contrabandeada” sabe-se lá de onde. Ela tivera duas, não lembra muito bem como elas chegaram até si, mas teve duas “LEE” LEGÍTIMAS.  Ia trabalhar muitas vezes com ela, preferia ir de calça, dado que quando ia de vestido para o trabalho e escola era um Deus nos acuda. Ela vestia realmente muito curto, se subisse uma escada tinha de segurar o vestido para que a bunda não aparecesse, a roupa era tão curta que , quando era feita por sua mãe, ou por alguma tia, as calcinhas eram feitas no mesmo tecido, para disfarçar o indisfarçável. Hoje ela vê as jovens usando o mesmo recurso para mostrar o “rabo”, suas formas e curvaturas, algumas até a própria profundidade.
O fato é que DETALHES lhe levava a sonhar muito e ela lembrava-se de seu primeiro namorado, um rapaz lindo, com o qual, infelizmente, não fez amor, do que até hoje se arrepende, talvez em outra encarnação eles se encontrem, esta ainda é uma esperança.
Roberto Carlos continua a cantar, agora já é “Falando sério” e ela se vê no momento atual da sua vida: e as palavras são mesmo cruéis. “Falando sério é bem melhor você parar com estas coisas de olhar para mim com olhos de promessas, depois sorri como quem nada quer”. “Você não sabe, mas é que eu tenho cicatrizes que a vida fez”.  Ela tem mesmo cicatrizes profundas, que foram deixadas por tantos quantos passaram pela sua vida: “amores”, amigos”  “familiares”. Ela é sensível, embora muitos não creiam nisto. As cicatrizes dos amores continuam, ao que parece, abertas, as antigas porque não cicatrizaram direito e deixaram marcas indeléveis, as mais novas porque ainda estão abertas, doidas, e lhe reportam  mesmo a fatos  atuais.
A música muda, agora é Cavalgada, ela sorri, já teve esta música ofertada para si em uma festa, um cowboy  interiorano do sul do seu Estado lhe  ofereceu.  Hoje sorriria muito, mas à época ficou indignada. Cavalgada é mesmo pesada para alguém oferecer  a outrem, isto  num começo de nada, porque  realmente nada aconteceria entre ela e o ofertante, aquilo era pacifico: afinal  ela estava ainda apaixonadíssima pelo seu companheiro de então, não que ela o tenha esquecido, mas o amor anterior era mais forte, mas possessivo, mais vivido, porque era de ambos.
Mas as recordações  agora são outras,  Roberto Carlos canta  “Café da Manhã” e ela lembra de quantas e quantas vezes  a situação a que a música se reporta foi vivida com muita intensidade nos diversos  motéis da  sua cidade , nos quais  ela ia com a pessoa que virou o seu grande e imenso amor, vivido, sofrido, doído que parece não querer acabar nunca. Resta, ao menos, uma lembrança.
Está pensando em terminar isto, mas a música  que  segue é pior ainda, mas ela gosta de sofrer e ouve: “Mas acontece que eu não sei viver sem você, as vezes me desabafo me desespero porque, você é mais que um problema, é uma loucura qualquer, mas sempre acabo em seus braços.......”
Bom, ela não quer mais ouvir nada, se a cada música que ouvir  associar  algum fato por si vivido, terá muito que chorar, contar, sofrer;  melhor  terminar como bem diz Djavan:  “Desinflama meu amor, tudo seu é muita dor, VIVE”.
  

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