Tomei conhecimento, ontem, que a
Justiça carioca mandou recolher de livrarias alguns livros, dentre eles um que
está fazendo muito sucesso no mundo todo: "Cinquenta tons de cinza".
Tomei um susto danado, pois não acreditei no que estava lendo, pois não se
admite uma proibição desta, a esta altura.
Fiquei a me perguntar: O que leva
um Juiz a deferir um pedido deste? Pois, certamente, como o Judiciário depende de provocação, alguém
fez este pedido: uma pessoa física, uma pessoa jurídica, sei lá; qualquer das
duas me espantaria da mesma maneira.
Em principio associei a ação a
algum pedido de instituições religiosas,
que, como sempre, com a falsa moral que as caracteriza, acharam que o livro é
pernicioso. Depois pensei que poderia tratar-se de alguma associação de pais,
também levados pela falsa moral; por outra, achei que poderia ser algum pedido
de alguma editora não satisfeita com o
sucesso da que acreditou e encarou a edição. Bom, tive mil e um pensamentos e
consegui não justificar, com nenhum deles, a tal proibição.
Então os menores de dezoito anos
não podem comprar o livro por que? Será que o conteúdo do especifico livro dos diversos tons de
cinza é estranho a estes “menores”,
muitos deles, já pais e sabedores
de todos os segredos do “amor”. Então os jovens que “ficam” não sabem o que está explicito naquele livro. Que
falsa moral é esta que leva uma pessoa a solicitar do judiciário uma medida
para proibir a circulação do livro? E que judiciário é este que atende a este
pedido?
E se o autor da ação tiver sido a
Igreja, esta então, qual o direito que ela tem de solicitar um tipo de proibição desta,
enquanto dentro dos seus claustros e esconderijos fabricados, suas paredes
seculares, suas celas, descobrem-se, a
cada dia, casos e mais casos de abusos sexuais.
Estou pasma, boquiaberta. Um país que mostra uma televisão “sensual” em
todos os momentos, novelas que trazem cenas
quase de sexo explicito, e que ainda exporta tais cenas para o mundo: um
país em que as mulheres no carnaval
estão expostas semi nuas, alguma vezes completamente nuas mesmo, apenas com um
tapa sexo, um país em que a chamada para a transmissão do carnaval traz uma
manequim nua, apenas com o corpo
pintado. Um país que exporta mulheres para que se prostituam em países estrangeiros tem o
direito de proibir a circulação de um
livro que fala da aventura sexual de um
casal, isto para não lembrar das manchetes de jornal que mostram jovem leiloando a sua virgindade, que tem um programa de televisão tão na moda,
embora de extremo mal gosto, chamado Big Brother, este reality show que mostra
a intimidade dos que participam dele, o que significa cenas de sexo entrando
pelos lares de todas as famílias brasileiras.
Fico pensando como é que a Justiça não tira do ar os programas
sensacionalistas que todos os dias, sem
pedir qualquer licença, e muitas vezes sem que o expectador tenha alternativas,
são veiculados pelas emissoras, a exemplo daqueles programas que mostram a violência nas
cidades. Então o menor de 18 anos está preparado para ver a policia trocando
tiros com bandidos, em alguns momentos, até matando , sem qualquer motivo pessoas inocentes, sem que a
pessoa tenha, sequer, chance de se
defender. Então onde está a justiça que permite que
documentários e mais documentários a respeito do craque e outras drogas sejam
veiculado, inclusive demonstrando como e onde
se pode achar esta maldita pedrinha, neste particular não me venham
falar de que esta veiculação é serviço
de utilidade pública, que serve para
mostrar ao jovem o que a pedra do mal pode fazer com um ser humano. Nas reportagens que são mostradas, com
certeza, não é esta a finalidade. Como admitir que documentários a
respeito das cadeias mostrem presos fumando, com celulares, comandando quadrilhas de dentro dos presídios, isto sim,
deveria ser proibido, porque isto faz
com que o nosso jovem não acredite não só no sistema, como na própria justiça.
Admira-me muito que a justiça tenha
sido acionada para retirar o livro, ou os livros, de circulação: gostaria mesmo
de ler o pedido para entender como o Juiz foi convencido e determinou a
proibição. Tantas e tantas coisas para
solucionar, processos e mais processos acumulados nas mesas de trabalho dos
Juízes, corregedorias cobrando serviços, fixando metas, tentando combater a
corrupção. CNJ aposentando Juízes
compulsoriamente, judiciário sendo desmoralizando pelos demais poderes da
República, e o Juiz, no meio de tudo isto, resolve proibir a circulação de um
livro. Qual será o objetivo da medida?
Resguardar a juventude brasileira? Claro que não, pois se assim fosse o que
deveria ser proibido efetivamente, não somente com a edição de leis que não são
cumpridas, era a venda de bebidas álcoolicas aos menores, festas tipo “rave”,
acho que é assim que escreve, nas quais, a quilômetros de distância já se sente
o cheiro da “erva” sendo queimada,
tragada, cheirada, etc, isto para não
fala em drogas mais pesadas que rolam nestes eventos.
E os eventos públicos que
acontecem, a exemplo das festas que antecedem o carnaval e o próprio carnaval
em si. Quantos e quantos jovens se drogam durante vários dias, sem que nenhuma
providência seja tomada. Será que no
carnaval tudo pode ser feito sem quaisquer restrições. As relações sexuais
acontecem na rua, dentro dos blocos, sem que nada seja proibido, sequer
empatado.
Por que quem provocou a justiça em nome dos bons
costumes e de uma falsa moral não se preocupa
em procurar um meio de fazer um programa de planejamento familiar para
ajudar a retirar das ruas, da pobreza
uma grande quantidade de brasileiros, pois se houver um
controle de natalidade efetivo, sério, logicamente a quantidade de
pessoas carentes diminuirá sensivelmente, porque o dinheiro que o governo paga
em auxílios que em nada ajudam aos brasileiros e brasileiras, a não ser
como meio de proliferar a pobreza e a marginalidade, porquanto aquele que recebe tais benefícios, sabendo
que não morrerá de fome, prefere ficar na mesma vida de sempre às custas dos trabalhadores deste país que pagam os
seus impostos em dias, muitos, sem
aumento efetivo em seus
vencimentos por longos anos, que inclusive
tem número reduzido de filhos exatamente porque tem a consciência
exata do que é alimentar e educar uma criança sem a ajuda do
governo em absolutamente nada, seria
muito melhor aplicado, distribuído com mais justiça, equidade.
Pois é, não entendi, penso que
não vou conseguir entender tal proibição, que inclusive abre uma porta para um
censura da qual há muito nos livramos. Imagine se alguém quiser publicar um
livro que diga algo sobre os
bastidores de um grande hotel, de uma
caminhada tal qual o Caminho de
Santiago, aliás, que será de logo
lançado na praça uma estória que tenha os momentos picantes de uma
relação, seja ela amorosa ou não, seja somente pelo prazer do sexo, e veja a
sua “obra” proibida de circular em nome de uma moralidade inexistente,
fictícia, que serve, apenas, para esconder exatamente o que o livro traz em sua ficção,
que para muitos é a sua própria realidade sendo exposta, e, por isso mesmo,
para que continue escondida, oculta, deve ter a sua divulgação proibida.
Em tempo, o Juiz proibiu a
exposição dos livros que não estivessem devidamente selados, sob o argumento de
que ali nas prateleiras, sem vedação alguma, qualquer jovem poderia manuseá-lo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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