terça-feira, 22 de janeiro de 2013

É mesmo cinza


Tomei conhecimento, ontem, que a Justiça carioca mandou recolher de livrarias alguns livros, dentre eles um que está fazendo muito sucesso no mundo todo:  "Cinquenta tons de cinza".  Tomei um susto danado, pois não acreditei no que estava lendo, pois não se admite uma proibição desta, a esta altura.
Fiquei a me perguntar: O que leva um Juiz a deferir um pedido deste? Pois, certamente,  como o Judiciário depende de provocação, alguém fez este pedido: uma pessoa física, uma pessoa jurídica, sei lá; qualquer das duas me espantaria da mesma maneira.
Em principio associei a ação a algum pedido de  instituições religiosas, que, como sempre, com a falsa moral que as caracteriza, acharam que o livro é pernicioso. Depois pensei que poderia tratar-se de alguma associação de pais, também levados pela falsa moral; por outra, achei que poderia ser algum pedido de alguma  editora não satisfeita com o sucesso da que acreditou e encarou a edição. Bom, tive mil e um pensamentos e consegui não justificar, com nenhum deles, a tal proibição.
Então os menores de dezoito anos não podem comprar o livro por que? Será que o conteúdo  do especifico livro dos diversos tons de cinza é estranho a estes “menores”,  muitos deles, já pais  e sabedores de todos os segredos do “amor”. Então os jovens que “ficam” não sabem   o que está explicito naquele livro. Que falsa moral é esta que leva uma pessoa a solicitar do judiciário uma medida para proibir a circulação do livro? E que judiciário é este que atende a este pedido?
E se o autor da ação tiver sido a Igreja, esta então, qual o direito que ela tem de  solicitar um tipo de proibição desta, enquanto dentro dos seus claustros e esconderijos fabricados, suas paredes seculares,  suas celas, descobrem-se, a cada dia, casos e mais casos de abusos sexuais.
Estou pasma, boquiaberta.  Um país que mostra uma televisão “sensual” em todos os momentos, novelas que trazem cenas  quase de sexo explicito, e que ainda exporta tais cenas para o mundo: um país  em que as mulheres no carnaval estão expostas semi nuas, alguma vezes completamente nuas mesmo, apenas com um tapa sexo, um país em que a chamada para a transmissão do carnaval traz uma manequim nua, apenas  com o corpo pintado. Um país que exporta mulheres para que se  prostituam em países estrangeiros tem o direito de  proibir a circulação de um livro que  fala da aventura sexual de um casal, isto para não lembrar das manchetes de jornal que mostram jovem  leiloando a sua virgindade,  que tem um programa de televisão tão na moda, embora de extremo mal gosto, chamado Big Brother, este reality show que mostra a intimidade dos que participam dele, o que significa cenas de sexo entrando pelos lares de todas as famílias brasileiras.
Fico pensando como é que  a Justiça não tira do ar os programas sensacionalistas  que todos os dias, sem pedir qualquer licença, e muitas vezes sem que o expectador tenha alternativas, são veiculados pelas emissoras, a exemplo daqueles  programas que mostram a violência nas cidades. Então o menor de 18 anos está preparado para ver a policia trocando tiros com bandidos, em alguns momentos, até matando , sem  qualquer motivo pessoas inocentes, sem que a pessoa  tenha, sequer, chance de se defender.  Então  onde está a justiça que permite que documentários e mais documentários a respeito do craque e outras drogas sejam veiculado, inclusive demonstrando como e onde  se pode achar esta maldita pedrinha, neste particular não me venham falar de que  esta veiculação é serviço de utilidade pública, que serve para  mostrar ao jovem o que a pedra do mal pode fazer com um ser humano.  Nas reportagens que são mostradas, com certeza, não é esta a finalidade. Como admitir que documentários a respeito  das cadeias mostrem presos  fumando, com celulares, comandando  quadrilhas de dentro dos presídios, isto sim, deveria ser proibido, porque isto  faz com que o nosso jovem  não acredite  não só no sistema, como na própria justiça.
Admira-me muito que a justiça tenha sido acionada para retirar o livro, ou os livros, de circulação: gostaria mesmo de ler o pedido para entender como o Juiz foi convencido e determinou a proibição.  Tantas e tantas coisas para solucionar, processos e mais processos acumulados nas mesas de trabalho dos Juízes, corregedorias cobrando serviços, fixando metas, tentando combater a corrupção. CNJ  aposentando Juízes compulsoriamente, judiciário sendo desmoralizando pelos demais poderes da República, e o Juiz, no meio de tudo isto, resolve proibir a circulação de um livro.  Qual será o objetivo da medida? Resguardar a juventude brasileira? Claro que não, pois se assim fosse o que deveria ser proibido efetivamente, não somente com a edição de leis que não são cumpridas, era a venda de bebidas álcoolicas aos menores, festas tipo “rave”, acho que é assim que escreve, nas quais, a quilômetros de distância já se sente o cheiro da “erva” sendo  queimada, tragada,  cheirada, etc, isto para não fala em drogas mais pesadas que rolam nestes eventos.
E os eventos públicos que acontecem, a exemplo das festas que antecedem o carnaval e o próprio carnaval em si. Quantos e quantos jovens se drogam durante vários dias, sem que nenhuma providência seja tomada.  Será que no carnaval tudo pode ser feito sem quaisquer restrições. As relações sexuais acontecem na rua, dentro dos blocos, sem que nada seja proibido, sequer empatado.
Por que  quem provocou a justiça em nome dos bons costumes e de uma falsa moral não se preocupa  em procurar um meio de fazer um programa de planejamento familiar para ajudar a retirar das ruas, da pobreza  uma grande quantidade de brasileiros, pois  se houver um  controle de natalidade efetivo, sério, logicamente a quantidade de pessoas carentes diminuirá sensivelmente, porque o dinheiro que o governo paga em   auxílios que em nada  ajudam aos brasileiros e brasileiras, a não ser como meio de proliferar a pobreza e a marginalidade, porquanto  aquele que recebe tais benefícios, sabendo que não morrerá de fome, prefere ficar na mesma vida de sempre às custas  dos trabalhadores deste país que pagam os seus impostos em dias, muitos, sem  aumento efetivo  em seus vencimentos por longos anos, que inclusive  tem número reduzido de filhos exatamente porque tem a consciência exata  do que é  alimentar e educar uma criança sem a ajuda do governo  em absolutamente nada, seria muito melhor aplicado, distribuído com mais justiça, equidade.
Pois é, não entendi, penso que não vou conseguir entender tal proibição, que inclusive abre uma porta para um censura da qual há muito nos livramos. Imagine se alguém quiser publicar um livro que  diga algo sobre os bastidores  de um grande hotel, de uma caminhada  tal qual o Caminho de Santiago,  aliás, que será de logo lançado na praça  uma estória  que tenha os momentos picantes de uma relação, seja ela amorosa ou não, seja somente pelo prazer do sexo, e veja a sua “obra” proibida de circular em nome de uma moralidade inexistente, fictícia, que serve, apenas, para esconder  exatamente o que o livro traz em sua ficção, que para muitos é a sua própria realidade sendo exposta, e, por isso mesmo, para que continue escondida, oculta, deve ter a sua divulgação proibida.
Em tempo, o Juiz proibiu a exposição dos livros que não estivessem devidamente selados, sob o argumento de que ali nas prateleiras, sem vedação alguma, qualquer jovem poderia manuseá-lo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!   

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