Bem
verdade que não acreditava na estória do fim do mundo, nem na primeira, a de
Noé com o dilúvio, e nem nesta agora que, de acordo com as informações, seria
com fogo, o que não estranharia, porque a quentura está insuportável, não só
hoje, pois isto vem acontecendo há muito tempo.
Lembra que quando esteve no Alentejo
e na Extremadura quase morre de
calor e abafamento, mais de 40 graus, sem vento, sem nada, tudo num paradeiro
que parecia mesmo que estava em uma
cidade fantasma. E quando esteve em Vegas
e em Fenix nos Estados Unidos, o calor era mesmo insuportável, nesta ultima cidade, a quentura era entremeada com fortes tempestades de
raios, embora não caísse uma gota d’água do céu. Lembrou-se, ainda, de
Correntina, uma cidade do interior da Bahia, colada com o Centro-Oeste, o calor abrasador contrastava com a temperatura
da água do rio, salvo engano, de nome
Corrente ou das Pedras, já não lembra.
Se a temperatura era de 40º, a da água era de 10º, o que fazia o seu
cabelo ferver quando nela entrava para despachar a cerveja bebida aos borbotões, não
só pelo próprio vicio, como para
amenizar o calor. É, começa a entender o que as profecias queriam dizer: Não
que a terra fosse realmente pegar fogo, mas ele instalava-se calmamente, os
seus efeitos podiam ser sentidos. As
labaredas que saiam do chão demonstravam
bem o que o interior da terra
estava programando. A seca no
nordeste, as geleiras se dissolvendo, a falta de água se alastrando em todos os
lugares. O certo é que, entretanto, o mundo não acabou e ela sobreviveu, não só
ela, como todos os habitantes da terra,
e, por isso mesmo, comemorou-se o Natal, com todas as baboseiras de sempre,
ela, não o fez, porque preferiu dormir
na sua solidão de sempre, compartilhada com
ela e ela.
Felizmente,
ou infelizmente, não gastou
dinheiro com o Natal, pois sequer
comprou presente para si própria, o privilégio
do natal do ano findo foi para os dois netos gêmeos e para o filho, mais
ninguém.
Ela,
por sua vez, ganhou presentes antecipados, um deles, surpreendentemente, 11
dias antes do Natal, quando foi comunicada que iria voltar a residir em
determinado local. Achou bem engraçado isto, uma decisão desta e ela era
comunicada apenas, como se ela fosse um objeto qualquer, sem sentimentos, sem
desejos, sem decisões, sem voluntariedade.
É assim e pronto. Daí para frente
vem articulando questões que ainda não foram respondidas, mas ela vai deixar o
tempo passar, ver onde as coisas chegarão. Já não tem medo de mais nada, tem a
certeza que saberá sair de todas as dificuldades, sejam elas para o bem ou para
o mal, sofrerá sim, mais uma vez, mas nada que lhe tire o sono, pois está bem
certa de que não será, de nenhuma maneira, manipulada por quem quer que seja. O
seu amor, o seu respeito não é suficiente para que ela se anule em favor de
qualquer causa ou coisa, ou de alguém. O mundo, certamente não irá se acabar
se, mais uma vez, nada der certo.
Desiste
de procurar respostas, vai seguir um conselho que ouviu muitas vezes em terras
distantes: “Viva um dia após o outro”. Vai saber controlar a sua ansiedade sim,
ela se policiou muito, acha que o que passou nos últimos sete anos da sua vida
lhe deu esta capacidade, a de pacientemente esperar, embora continue odiando
esperar pelo outro, porque sempre gostou e gosta de tomas as suas próprias
decisões e sozinha, só não agindo assim, quando há uma outra pessoa envolvida
na estória a quem a sua decisão possa
atingir.
Não
há efetivamente de ser nada, nisto tudo há só uma certeza. O mundo não acabou,
mas dentro de si acabaram muitas coisas. A vida lhe deu esta condição: a de ir
murchando por dentro; portanto, se o mundo tivesse acabado mesmo, nada
importaria, as suas chamas todas foram
consumidas bem antes do dia 12.12.2012,
por maridos, filhos, irmãos, família em geral, amigos: cada um lhe usando à
sua maneira, cada um lhe retirando um pouco
de si própria, cada um contribuindo para uma transformação interior
enorme. Ela já não crê em muita coisa: se apega a Deus como um grande suporte,
mas ela sabe das suas dúvidas em relação, também, a isto. Vai seguir, com
certeza, tentando efetivamente viver,
como algures alguém tentou lhe ensinar: “cada dia” sem se preocupar muito com o
que poderá vim, com o que os outros querem e pensam que podem fazer consigo.
Rio Jacuípe-Ba |
Rio Tejo - Lisboa- Pt |
De
qualquer maneira haverá sempre um rio onde ela poderá desafogar todas as suas
dores, os seus dilemas, as suas dúvidas, os seus anseios: um rio com as suas
águas correntes, a que ela vai recorrer como já o fez tantas vezes, ainda que
não seja o rio da sua própria aldeia e que ela o tenha de partilhar com tantos
quantos, iguais a ela, procuram a paz olhando o movimento das suas águas, a
mudança das suas cores, os reflexos da luz do sol e da lua.
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