Ele, ou ela, tem um amante; para os mais velhos, ser amante era uma vergonha, ter alguém na família que era amante, era tragédia, mui principalmente se você fosse mulher. É porque homem podia ter quantas amantes quisesse, mas uma mulher ter um amante; ah aí a coisa pegava! Aliás, ainda pega. Uma filha solteira que era amante de alguém era tida como “prostituta”. Enfim, era muito desagradável ser “amante” De padre então: confusão geral.
A palavra vem do latim amante, quer dizer desde a sua origem ela é igual, não sofreu qualquer corruptela: o seu significado foi perenizado, amante é amante e pronto, é aquele que ama sempre, repare que a palavra parece gerundiar. Ser amante é estar amando sempre, é uma qualidade e um estado de espírito. O substantivo e o adjetivo se confundem, e na sua grande maioria, apesar de ser um substantivo comum aos dois gêneros - a palavra ou a situação é tão boa que é comum de dois - se fosse uma coisa ruim seria atribuída ao sexo masculino ou ao feminino individualmente, como se fosse possível ser “amante” individualmente, sempre foi mais comum atribuir tal qualidade à mulher. A condição de ser, ou estar, amante é a existência de um outro; há que se interagir, e como! para se garantir esta adjetivação. A palavra é sonora e perfeita – AMANTE- ia ficar para lá de feio se ela tivesse gênero, imagine um homem dizer que tinha uma “amanta”; coisa mais feia! Parece que se fala de um animal irracional.
Mas não quero falar aqui do amante como um ser que ama, mas daquele qualificativo que é atribuído àqueles que têm relações fora da própria relação, aquela que se não abençoada por Deus- o sagrado matrimonio - é pela lei dos homens: - contrato -. Quero, pois, falar da relação que é considerada ilícita.
Ilícita! A palavra é muito forte. Por que ilícita? Onde está a ilicitude no fato de ser amante? Que crime foi cometido? Não é uma ilicitude penal, não é uma ilicitude civil, nem sequer temos mais o adultério tipificado como crime e nem como causa de separação judicial (ou será que ainda temos? será que somos tão retrógados que ainda admitimos isto como causa de divórcio?). Não sei e nem quero saber, estou afastada do código civil, aliás, queria me afastar de todos os códigos. O ilícito, na verdade, está dentro do campo da moralidade. O individuo que tem uma relação estável com outro fica condicionado à só, e exclusivamente, ter esta única pessoa para ter as relações outras: sexual, familiar, obrigacionais, etc. Se passa a ter outro relacionamento com alguém, de cunho amoroso, ele (a) infringe as leis morais, aquela moral mentirosa incutida em nós desde que nascemos praticamente. É pernicioso ter “amante”- Um homem ou uma mulher tem de ser fiel ao seu parceiro para o resto da vida, não pode ser um amante, tem de ser o companheiro, o marido, a mulher, ou a esposa do homem: enfim, vocês caem de saber das obrigações dos cônjuges, que têm obrigação moral de respeitar o outro e amá-lo por toda a vida. Bom, veja só que contrassenso, (acordo ortográfico) se tenho de amar outro para o resto da vida, a minha condição, pois, é de amante – o ser que está sempre amando.
Bem mais o que quero mesmo falar é do amante, aquele que pratica a ilicitude de amar quem “pertence” a outrem, aquela de quem uma música cantada por Betânia – EU SOU A OUTRA- fala: “Ele é casado, eu sou a outra na vida dele, que vive qual uma brasa, por lhe faltar tudo em casa, ele é casado, eu sou a outra que o mundo difama, que a vida ingrata maltrata [...]Quem me condena como se condena uma mulher perdida, só me vêem na vida dele, mas não o vêem na minha vida...”
Todavia, não e bem assim como a letra da música: há vantagens quando se é amante: primeiramente você vai ser um substantivo assexuado, pois comum de dois gêneros é assim: não tem sexo definido, tanto pode ser um homem como uma mulher, a palavra vai ser igual. Depois você vai ser, ao mesmo tempo, um substantivo, que pode ser até mesmo próprio, e um adjetivo, porque você vai virar uma qualidade, que é a de ser amante: “Olhe ali, lá vai o (a) amante de fulano(a) de tal”! Viu que você já passou de substantivo para adjetivo? Depois, se você for mulher, nunca será alcunhada de “patroa”; “dona encrenca”; “policia” dentre tantos outros desqualificativos para lá de desagradáveis com os quais as esposas dos amantes são nominadas. Também você nunca vai estar ocupada (o) para nada enquanto estiver ao lado do “amante”, porque ele (a) tem um tempo todo disponível para o outro quando estão juntos. Você estará sempre cheiroso (a), bonito (a), bem vestido (a) procurando agradar o outro. No caso do amante ser uma mulher, aí sim é que as vantagens são inúmeras: você além de sempre estar bonita, limpa, cheirosa, porque você vai sempre saber a hora que o parceiro vai estar com você, porque ele trabalha com as disponibilidades de horário, você nunca será pega de surpresa; você nunca estará fedendo a comida, desarrumada, suada, cheirando a detergentes, porque sua profissão é “amante”, não dona de casa, esposa, mulher, patroa, enfim, você não tem estas obrigações que aquelas que deveriam ser amadas para todo o sempre - Amem - têm.
Possivelmente, você não terá uma casa, a não ser que você tenha um amante bem rico e que queira a exclusividade. Exclusividade, eis outra palavra importante numa relação entre “amantes”; o amante não tem obrigação de ter exclusividade, até porque a própria relação entre amantes já afastou o exclusivismo, pois sempre haverá outro na relação, o parceiro (a) do amante, aquele que a moral dos homens reconhece como legitimo (a). Bom se não existe a obrigação da “fidelidade”, então você pode ser amante de muitos a um só tempo, bastando, apenas, manter a exclusividade momentânea quando se está a dois.
Outra grande e imensa vantagem para os (as) amantes: Você vai conhecer lugares maravilhosos, escondidos, românticos, lugares que jamais serão conhecidos pela esposa (o), sabem por quê? Porque você não pode ser visto pelo grande publico, então o (a) “amante” vai procurar sempre lugares que ele (a) não freqüenta com a família; vai fazer viagens com você, vai lhe mostrar coisas que conhece, vai lhe dar presentes, vai lhe proporcionar muitas coisas, que jamais serão vividas em companhia do seu parceiro (a) licito.
No sexo: Ah no sexo! “Aí é que é bom: o (a) amante” vai querer se superar mesmo, vai fazer com você tudo o que ele não faz com a “patroa” ou com “patrão”, pois com eles, em muitos casos, há o receio de que o outro ache que é imoralidade fazer isto ou aquilo. Com o(a) amante a liberdade é total, não há impedimentos, não há falta de respeito, não há tabus, tudo pode ser feito sem melindres, e então a coisa pega fogo, e acho mesmo que aí é que está a grande vantagem do(da)amante.
Se você quer a exclusividade, acaba todo este clima, porque a rotina vai tomar conta da sua vida e você vai deixar de ser “amante” para virar, exatamente, o parceiro de quem o outro está querendo escapulir, ao menos por algumas horas. Aí você vai começar a questionar: Por que ele (a) não está comigo agora? Por que não pode dormir aqui? Porque não podemos nos encontrar aos finais de semana? É porque tem isto: amante que se preza só tem final de semana com o objeto do seu amor, se estiver viajando a negócios; como se negócios fossem feitos aos finais de semana, mas o parceiro legal acredita, até acha que o (a) pobre coitado (a) trabalha demais, se sacrifica pela causa da família; Otários (as)! Se você começa a querer tudo isto, a relação vai terminar, porque você vai querer ir para a cozinha para fazer a comidinha que o outro gosta, e aí, por mais perfume que coloque, o cheiro da comida vai estar em você, se for fritura então, ela vai impregnar os seus cabelos e você vai ficar fedendo, e então a pessoa vai achar que e tudo igual à sua própria casa, daquilo que ele (a) quer se livrar, ao menos, momentaneamente. Se você for esperto (a) jamais deixe que do relacionamento surgir algum imprevisto; to falando de filhos. Neste tipo de relação eles acabam com tudo, criam problemas sérios, seja com você e o (a) seu amante, seja com a sua própria família, com os filhos outros que por acaso você tenha, enfim, você se desestrutura todo. Se você for mulher então, o seu “casamento” com certeza estará acabado, e não só ele, a sua relação com o “amante” também: um porque não quer, e o outro também porque não quer: um porque não quer dar o atestado de “corno”, e o outro porque não quer quaisquer amarras com você, e vai ficar puto porque você deixou isto acontecer, como se ele não tivesse qualquer participação na estória, a culpa é sua, você é que foi irresponsável. Enfim, você acabou de desgraçar a sua vida toda. Se você tiver filhos da sua relação estável, a coisa ainda piora mais; porque eles vão lhe ver como realmente você é vista pela sociedade; como uma “vagabunda”.
Assim, aconselho a quem tiver uma relação extraconjugal, que apenas seja “amante”, não ultrapasse a fronteira entre o substantivo e o adjetivo. Não queira ser sujeito, se for, seja oculto, discreto. Não conjugue verbos que não possam virar ações efetivas, não tenha pretensões, apenas ame, é para isto que você existe; afinal você é um “amante”, você tem uma qualidade que inerente ao seu atual estágio, que é o de dar e receber amor, sem cobranças, sem compromissos, apenas seja, e faça alguém, feliz nos momentos em que a vida lhe proporcionar as oportunidades para que você possa exercitar esta sua qualidade, que você adquiriu com esforços próprios. AMANTE.
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