sexta-feira, 1 de julho de 2011

Uma presente de São João

São João  preparou uma surpresa, desta feita, agradável.

Recebe um telefonema de alguém muito especial dizendo que chegaria a Lisboa no dia 24, onde passaria um dia e meio.

Primeiro uma reação ruim, porque era estranha aquela sensação de alguém, que  fora tão intimo,  ligar para dizer que passaria um dia e  meio  na cidade, onde, outrora, passaram dias, viajaram muito, curtiram muito, foram imensamente felizes, e agora,  isto:  vou passar um dia e meio aí, e estou com um amigo.

Passou os dias pensando nisto, achando inclusive uma coisa  mesmo muito estranha por tantos outros aspectos ainda.  Estava fora do Brasil e, por ironia, o destino lhe prepara esta. Vai ser visitada por  uma pessoa que, tempos atrás, era o seu parceiro de visitas a outrem. Se isto acontecesse há algum tempo atrás, certamente, o outro, com quem ele viajava, seria ela.

Bom, mais o fato é que o dia chegou.  Ele chegou tarde, e a metade do dia, que ele passaria em Lisboa, foi-se, sem que ela o tivesse visto, recebera, apenas um lacônico telefonema: Chegamos agora, estamos no Hotel Mundial e vamos procurar algum lugar para jantar.

Nem se arriscou a oferecer-se para ir ter com eles, pois, se quisessem  a companhia dela  o telefonema seria diferente. Pensou consigo: eles querem  aproveitar Lisboa, á noite, sozinhos, portanto...

E mais uma vez a sensação esquisita,- Uma dorzinha no peito,  pois, as vezes ainda  achava que tinha ligações fortes com aquele homem e o “nao estar” numa situação destas ainda lhe machucava.

O dia seguinte chega, ela que  esperava o telefonema, que não vinha,  já estava ansiosa, a amiga, mais ainda, porque tinha preparado uma pequena recepção para eles, não sem razão, porque: primeiro, pelo tempo que moram juntas a amiga já conhecia todos da sua familia, logicamente, com exceção do seu filho que aqui ja viera, por ouvir falar, e agora conheceria ele, que chegava para uma visita relâmpago,  também era um velho conhecido dela, porque já fizera, inclusive, parte da familia; segundo porque gostava mesmo de mostrar onde ela ficava aqui em Lisboa.

Cansada de esperar, pediu o número do hotel e ligou, falou com ele, que atendeu e disse que estavam saindo para ir a alguns lugares  que o amigo queria rever e conhecer.  Frustação! Espanto! E se deu conta, mais uma vez, não se vinha a Lisboa por causa dela ou por ela, e sim por Lisboa, apenas, porque se por ela fosse, evidentemente, que àquela altura estariam juntos.

- Tá bem, mas eu pensava que vocês queriam a minha companhia neste tour.

- Bom, nós achávamos que íamos lhe incomodar, mas se você pode,  ficamos aqui e aguardamos.
Embora cheia de receios, porque agora ela era que achava que estava incomodando, pois parecia a si que eles queriam estar sós naquela  esticada em Lisboa, foi para o Hotel.

O coração aos pulos, realmente, aquele homem conseguia mexer consigo de uma maneira para lá  de intensa.

Quando estava pedindo que o chamassem pelo telefone na recepção do hotel,  ele aparece e não só ele; havia  mais três amigos.

Tomou susto, não sabia que havia mais dois, achava que era só ele e o cardio particular, e começou a preocupar-se, agora, com a amiga que se preparou apenas para receber dois.

Procurou um momento em que eles não notassem ligou para ela e, pedindo desculpas, disse que a quantidade de gente era maior e falou o número de pessoas. A amiga, como sempre, não se importou, - E que venham eles -.  Depois do telefonema ficou a vontade, sabia que a amiga providenciaria tudo, e foi fazer o passeio por Lisboa, aquele de turistas mesmo.

Primeira parada: Elevador de Santa Justa;: ficam ali conversando na “bicha” esperando o elevador, e neste momentos é que se percebe o quanto  o sistema é inviavel. Uma fila imensa de pessoas para  subir, e o ticket é pago dentro do elevador, onde só existe uma funcionária para cobrar, fazer o elevador funcionar; enfim, não se explica. No entanto, tudo isto fica para trás quando se chega no alto, embora também tenham feito  outra coisa errada, é que no alto do elevador, onde se vê o  Tejo e metade de Lisboa (centro)  e mais o outro lado; tinha um bar, que foi retirado. Havia música e brasileira, era muito bom tomar algumas cervejas, ainda que para lá de cara, com aquele visual. A vista é magnifica, você se encanta mesmo.

Daí saíram pelas ruínas do Carmo de onde alcançaram o Chiado. Passaram por Pessoa, que continua sentado ali esperando que os seus admiradores lhe rendam homenagens, o que, sem dúvida alguma, foi feito.

Dali desceram  junto à praça Camões, uma das ruas  que dá no Cais Sodré. Ali embaixo foram ao Mercado da Ribeira, de onde saíram e tomaram uma Ginja, atendidos por um brasileiro. Na garrafeira, alguns bons vinhos.

Tomaram o elétrico e foram para a Torre de Belém: Imponente, linda, cheia de história daqui e de lá, das colônias, continuando com a sua  missão de mostrar o caminho correto a quem entra em Lisboa pelo Tejo.

Depois, uma caminhada até o Monumento dos Navegadores,  ainda em Belém, mas já na praça onde fica  o mosteiro dos Jerônimos; aqui, uma parada estratégica para um xixi,  chops, conversa fiada;  mais brasileiros servindo, e ela se sente feliz, lembrando que aquele momento,  há algum tempo, era a sua própria vida, que parecia voltar  com pessoas novas, mas o velho “casal” parecia ter renascido, estavam juntos, felizes, e com os amigos dele, o que ele tanto gostava.

Ele voltou ao hotel para pegar as encomendas que trouxera para ela, os outros entraram nos Jerônimos; Que coisa fantástica, ali se tem a sensação que se é muito pequeno. Aquilo é de uma grandiosidade tão intensa que a pessoa se sente mínima.  Fica-se o tempo inteiro a perguntar como o homem conseguiu fazer tudo aquilo, num tempo em que não havia qualquer tecnologia, isto é, igual a de hoje. Arcos perfeitos,  sustentação perfeita, claustros enormes, azulejos trabalhados no refeitório,  madeira trabalhada na sala do côro, granito e mármore esculpidos com detalhes que fazem com que se pense que se esta em um sonho, que aquilo não é real. Os questionamentos são inevitáveis: Como eles conseguiram isto? Quantas pessoas devem ter morrido nesta obra? Quanto tempo se levou para concluir esa  obra?, Enfim.

Mas a amiga ta esperando e eles precisam ir até a casa, já são duas horas da tarde e eles saem do Jerônimos e seguem para  a casa dela, em Carnaxide.

Alegria total, a amiga esta feliz, tal qual ela. Em principio quatro homens, de uma vez só, naquela casa, já era motivo de uma grande festa, porque ali não entra homem normalmente, a não ser o “encanador”, o Sr. Armando, que agora ja lá não tem o que fazer, porque a máquina de lavar louça já não faz mais parte do mobiliário, o homem do gás, da energia, da água, enfim. Depois era o  “homem” que estava ali em carne e osso, e a prova viva de que já tivera um companheiro, que não fora um  “marido virtual” como alguns pensavam.

Divertiram-se a valer, lembranças de outros amigos, casos; tudo enfim lembrava o seu antigamente com aquele homem. As pessoas notavam a sua felicidade e até faziam comentários sobre “os dois”, não muito bem aceitos por ele.

O queijo da serra da estrela fez sucesso absoluto. O Cartuxa mais ainda, aliás, recomenda-se; torradas, presunto, tudo artigo de primeira e de Portugal. Comeram, beberam, conversaram, mas tinham de ir. Ainda iriam até a Expo.

Foi o que fizeram, pegaram o taxi e foram para a expo, uma parte moderna e linda de Lisboa, onde se pode ver a grandeza da Ponte Vasco da Gama, o aquário, a estrutura arquitetônica da estação de comboio, autocarro, metro, uma grandiosidade da engenharia portuguesa. 

Ali sentaram no Senhor peixe, comeram  ameijoas, camarão, tomaram imperiais e mais conversa fiada. Não havia compromissos, a não ser o de voltar ao hotel, o que fizeram um pouco mais tarde, porque eles queriam  ir ao fado. Ela deixou-os e foi  para casa mudar de roupa, entretanto, no caminho, parou, parou para  beber mais uma taça, quase tomou uma garrafa de vinho sozinha. Para variar, chorou, pelas lembranças, pelo dia, pela saudade, aquilo era êfemero e fulgaz, e estava saindo, mais uma vez, sem que ela quisesse, das suas mãos.

Um telefonema lhe tira  deste momento de tristeza, era ele, que dizia que os planos tinham  mudado, que ela viesse para o hotel de onde sairiam para jantar, eles estavam cansados e queriam dormir.

Chegou ao hotel e foi até o oitavo andar,e mais uma boa e agradável surpresa.  Ali tem um restaurante de onde se pode ver toda a praça do Martim Moniz, e muitos outros lugares de Lisboa, ficou encantada.

Saíram do hotel e foram até as Portas de Santo Antão, mais piadas, mais risos, mais alegria.Comeram bacalhau atendidos por um brasileiro, tomaram vinho branco, sorriram. mas a hora era chegada, e ela tinha de se despedir, não havia outro maneira:  triste, mas  conformada, ela o fez, e, mais uma vez, sozinha, retorna  para casa.

No caminho se questiona: Será que isto foi um sonho?

Na manhã do dia seguinte o mesmo questionamento: Isto foi um sonho?

Se não tiver sido, agradece aos personagens dele: Carlos,Carlinhos, Juarez, Miraldo e Vera:

 MUITO OBRIGADA!     

2 comentários:

  1. Esmeralda,

    Fico feliz pelo presente.Imagino como foi... Melhor em saber que na casa de nossa amiga surgiu 04 homens, para mudar o ar dos tradicionais visitantes os encanador, bombeiro, rsrsr
    Este ano São João foi fantástico!!
    Abraços.

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  2. Querida Merinha,
    Encontrei Carlinhos hoje pela manhã, na caminhada que fazemos na orla. Ele me contou sobre a viagem e do reencontro de vocês em Lisboa. Que legal!
    Ao ler o seu relato, fiquei com uma enorme saudade dos velhos tempos: dos prazerosos encontros na casa grande, das tortilhas, dos longos papos, do círculo de amigos, das cervejadas, principalmente de você mesma, com seu imutável carisma.
    Um beijão. Amo-te muito.
    Luciano

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