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sábado, 28 de maio de 2011

Anônimo

O que significa anônimo? Anônimo – sem nome- do   grego “a” sem + “onoma” nome

Hoje em dia, nas telecomunicações – aquele que quer manter uma identidade escondida de terceiros.

Alguém que, deliberadamente esconde a sua identidade.

Um sem- vergonha, safado, mentiroso, aquele que não tem coragem, tem vergonha da sua própria condição, da sua incapacidade, da sua não coragem.

Para mim, anônimo, na perspectiva que estou analisando, é sinônimo de “covarde”. Covardia significa ter medo de: a) tomar alguma atitude que pode ter reflexos em si mesmo; b) não opinar para não ter o desprazer ou a obrigação de se justificar; c) não ter razão, mas, ainda assim, mesmo sabendo que não a tem, até pelo próprio desconhecimento do assunto, fazer críticas; d) esconder-se atrás da própria insignificância, porque o anonimato é “útil” para aqueles que significam, e sabe que são “ nada”, uma coisa que não tem valor, um “não ser”, e “um não estar”, que nunca vai conseguir “ser”, é um “não ontológico”; ontologia para quem não sabe, trato do que é, do ser, portanto, o anônimo jamais participará da existência. O ser é, está presente, se mostra não se esconde através de “um não ser”, um “nihil” (esta eu deixo para o anônimo descobrir, se capacidade tiver para saber o que é; o que duvido, pois quem não existe não pode mesmo saber “nada”

Os “anônimos”, que são covardes por natureza, até podem tentar mostrar-se, minimamente “inteligentes”, ou melhor, pensam que estão demonstrando cultura e inteligência, mas como atribuir tais capacidades para quem “não é”? Por isso mesmo, por ser desprovido da capacidade de discernimento e desprovido de uma parte do cérebro, aquela que guarda a massa encefálica, aquela responsável pelo se ser o que “se é”, não pode ser.

O cérebro de um anônimo, um “não ser”, certamente igual ao que um dia, quiseram “aqueles que eram” ou pensavam que” assim o eram, superiores, é primitivo; Brocca, Lombroso, Beccaria, este último, apesar de considerar a inferioridade, teve o êxito de “humanizar” o tratamento aos delinqüentes, aqueles que eram considerados assim pelos caracteres físicos, mui principalmente a forma da caixa craniana.

A primitividade poderia ser levada em consideração no julgamento dos “criminososos”, aqueles que o eram pela própria “selvageria” pelo meio em que viviam, por comportar-se de acordo com os seus próprios costumes, e, por isso mesmo, porque diante deles, não poderiam considerar a natureza criminosa dos seus atos, porque o ato era comum aos de sua  “raça”.

Esses ilustres homens acima citados não eram covardes, não tiveram medo de expor as suas idéias, combatidas na época, e até certo ponto aceites, mas, a exemplo de Lombroso, admitiram os erros das suas teorias e, corajosamente, tornaram isto público. Infelizmente, nem todos agem ou agiram assim, alguns, e isto falo da atualidade, tem medo e vergonha dos seus próprios argumentos, são ilógicos por excelência, e, por isso mesmo, são “incapazes de discernir”, de entender, de “assimilar”, qualquer tipo de conhecimento que outro traga e que irremediavelmente contrarie os seus, historicamente comprovado, até por documentos por os da sua própria “raça” produzidos.

Não sabem, e como não sabem, apesar de Sócrates, não o português, porque este não vale a máxima socrática do “só sei que nada sei”, porque ele, muito mais tendente para o “sofismo”, “sabe” de inverdades que são tidas como verdadeiras e servem de pressuposto de “validação” de uma grande “verdade” sofistica, criticam os que tem, minimamente, conhecimento de alguns assuntos, não de ouvir falar, mas porque para isto estudaram e se dedicaram anos a fio.

Porra! Não sei mesmo se um anônimo deve valer tanto, para que tanta coisa para dizer a um não ser que ele se convença que “não é”? Para que justificar a existência do que não existe? Que grande “merda” esta minha perda de tempo em discutir o “não ser”, o “não saber” o “não estar”. Sim, porque aquele que não é não pode ocupar qualquer espaço.

Bom, mas “eu sou” e “estou”, e procuro desesperadamente saber, tanto quanto posso, e por isso chego a incomodar até mesmo “um não ser”, que pelo desconhecimento de tudo, da história, não aquela inventada para cobrir de méritos atitudes insólitas, duras, racistas, desiguladoras, atrás de um princípio, ele mesmo criado para justificar todos os atos corretos, ou não, que foi nominado como o da “missão civilizadora”.

Na verdade, o “não ser” até por isso é covarde, tem medo de se saber participante de uma história não muito abonadora, história mostrada pelos próprios documentos produzidos pelos tidos como heróis civilizadores, história poderosa, capaz de alimentar, até hoje, um racismo, “sem vergonha” mostrado até mesmo nos programas sociais de atendimento àqueles que, pela própria história, deveriam ser considerados como cidadãos da “nação” portuguesa, francesa, espanhola, belga, inglesa.

Não se pode, pois, argumentar, discutir, falar, (usem  o verbo que quiserem), com quem “não é”. Com aquele que “não é capaz”, exatamente, por “não ser”, por não ser capaz de “estar” e assim poder entrar no mundo daqueles que “pelo conhecimento” “pelo estudo sistemático”, “pela observação” e aplicação do que “apreende e aprende” e continua aprendendo, porque é “um ser que nada sabe” e, por isso mesmo, procuram encontrar o saber a cada instante, sabendo, perfeitamente, que jamais o alcançara na sua totalidade, até porque é "um ser” que sabe, perfeitamente, das suas limitações e tem discernimento suficiente para “saber” que nada sabe diante da vastidão dos “saberes”.

Este ser que tenta desesperadamente “estar e ser” consegue perceber o que um anônimo que é um “não ser”, jamais perceberá por não ser capaz, e, por isso mesmo, transfere esta incapacidade para o outro que “é”, e que, contrariando as verdades ocidentais, a eugenia, não se tornou incapaz, como tentaram fazê-lo de todas as maneiras, até mesmo o fizeram tutelado, e que por isso mesmo não é reflexo dos “narcisos”. Sobreviveram como eram, resistiram e aí estão; impondo a sua presença incômoda para tantos que “se pensam capazes” e impregnados de pré-conceitos de terem sido derrotados por “selvagens”, “bárbaros” “indígenas” ou qualquer outra designação inferiorizante, embora, “GENTE” como todos os que são capazes de não se esconderem no “anonimato”. Talvez, daqui a uns 70 anos, o anônimo possa “vir a ser”, ou seja; mesmo com toda a covardia em vida, venha a ser idenficado, apenas e tão somente, porque a esta altura as leis vão fazê-lo por si, vão obrigá-lo a entrar, definitivamente, no “mundo do ser”, do “identificado”, “dos corajosos”, “dos que não tem medo”, por uma questão de direito a que se denomina “domínio público” onde o anônimo, mesmo apos a morte (biológica,) entra no “mundo dos vivos”, dos identificados, dos portadores de identidade seja de” cidadão”; seja de “assimilado”, seja de “indígena”: aí saberemos que podem ser “migueis”, “albertos”, “armandos”, “joaquins”, “manuelas”, “marias”, "joãos, enfim; mas que, certamente, envergonhará os seus descendentes, sendo, por isso, melhor que, agora, tenha um lapso de coragem e saia “do anonimato”, da sua insignificância, do “seu não ser”, ou então, permaneça nele, mas sem fazer criticas do que não conhece, do que não sabe, do que não apreendeu e não aprendeu, exatamente por ser um “nihil” .

A quem interessar não possa, peço desculpas. Ah! Tenho de ressalvar que na história existiram anônimos que, apesar do anonimato, contribuíram para que a sociedade, como um todo, seja esta em que nos encontramos hoje, “democrática, liberal, contemporizadora,” que se encaminha para uma possível igualdade dos seus membros, apesar de alguns ainda acharem que são superiores em razão da “cor”, “do poder aquisitivo”, “da eugenia”. Agradeço a coragem, até porque, agora, já não são mais anônimos.





E que Nossa Senhora da Saúde nos proteja, a todos, inclusive os anônimos! 

quinta-feira, 3 de março de 2011

A propósito de um comentário: "brasileiros não gostam de trabalhar"

Quando escrevi o primeiro texto sobre Lisboa, aquele que saiu publicado no Patifúndio, recebi varias críticas de portugueses, que se reportaram a mim, como se fosse eu a preconceituosa. Alguns, apesar de apreciarem o texto, disseram não poder gostar dele, porque tratava os portugueses, que nos acolhiam, (referência aos brasileiros que lá estão) de braços abertos, com muito desprezo. Outros, que também gostaram do texto, faziam criticas grosseiras a quem o escreveu, inclusive dizendo que pensavam que aquele tipo de idéia sobre os portugueses partia de pessoas não esclarecidas, aquelas coitadas que vão a Portugal a procura de trabalho, de melhorar os seus horizontes, de ilusoriamente enriquecer (isto sou eu quem diz), de fazer um pé de meia e voltar para a sua terra natal, comprar uma casa, enfim, melhorar mesmo a sua condição, mas, eles verificavam agora que não, era uma idéia disseminada entre todos, inclusive pessoas esclarecidas como eu.

Os brasileiros que leram o texto, ao contrário dos portugueses, acharam-no maravilhoso, e agradeceram-me por fazer um roteiro de Lisboa e por reafirmarem neles o desejo de conhecer aquela maravilhosa terra. Muitos amigos me disseram que fizeram cópias do texto e seguiram aquelas indicações quase à risca quando lá estiveram e adoraram tudo, embora não poupassem críticas ao tratamento recebido de portugueses em alguns momentos, principalmente daqueles que lhe dão com o turista, com o público. Um dos brasileiros chegou ao ponto de me dizer que teve que falar francês para ver se conseguia um melhor tratamento.

Pois é, o texto foi escrito há mais de um ano, já fiz muitos outros textos sobre Lisboa e Portugal como um todo. Gosto daquele país, gosto da sua história, gosto de ver a coragem dos homens portugueses nos descobrimentos, gosto de ver como um país mínimo, pode fazer tanto em tantos continentes diversos, Portugal, em África, em Ásia, na America, sozinho, afastado do resto da Europa, sim porque Portugal está de frente ao Atlântico, o que ele tem frente a si é a imensidão do Oceano, que os marinheiros portugueses souberam muito bem aproveitar, e aqueles que não eram marinheiros não souberam defender, permitindo que aqueles que não eram do mar, acabassem com os grandes tesouros encontrados através dele, enfim, a história das descobertas portuguesas é extraordinária e, realmente, tem de ser valorizada por todos, portugueses ou não.

O reconhecimento do poderio português, entretanto, não pode ser estudado apenas no aspecto do ufanismo, há que se dar atenção a forma, à maneira que os portugueses exerceram o seu domínio, há que se valorizar os acertos, verificar os erros, a contribuição ou o prejuízo causado aos povos por ele colonizados, enfim, colocar os pontos nos devidos “is”, com consciência cientifica.

É interessante como, quando se redescobre e se reconta a história portuguesa no que respeita ás suas colônias, consegue-se incomodar aos que só vêem acertos, heróis, superioridade.

Bom, mas não comecei este texto para falar sobre descobrimentos, nem sobre ufanismo dos portugueses, mas para comentar uma afirmação que ouvi em um programa de televisão, em que portugueses falavam o que achavam de brasileiros e o que brasileiros achavam dos portugueses. Não vi o programa todo, bem verdade, nem me lembro, sequer, do canal que era, mas, ouvi de uma pessoa do povo, uma mulher, parece-me que entrevistada no centro de Lisboa, ali pelas bandas do Rossio, que disse: “os brasileiros gostam de samba, de música, de praia, de diversão, e de não trabalhar”. 

Não consigo perceber como alguém que mora em Portugal, que possivelmente nunca saiu de lá, que não conhece o Brasil, que só conhece o Brasil de ouvir falar, ou melhor, de saber que o Brasil foi colônia de Portugal e tentar gozar os brasileiros por isso, abre a boca, para fazer um comentário deste tipo.

Com certeza, aliás, seria esperar muito, esta pessoa não deve saber que o Brasil é a oitava economia do mundo, e, certamente, não conseguiu esta façanha, sem que o povo brasileiro dela participasse com trabalho.

Também não deve saber que na America do Sul, por acaso o continente em que os brasileiros vivem, que alguns nem sabem existir, o Brasil ocupa uma posição de liderança, invejada por muitos.

Outrossim, esta pessoa não deve saber das nossas exportações, do que temos em termos de tecnologia, da nossa indústria, (exportamos automóveis, peças de automotores, motores) fabricamos e exportamos aviões, produzimos petróleo, exportamos grãos, frutas, carnes, e muitas outras coisas.

Também ela não deve saber que nós, os brasileiros, na sua grande maioria, acordamos às cinco da manhã para que possamos estar nos nossos postos de trabalho as 08h00min, que é o horário normal de começar expediente em muitas das nossas indústrias, e no nosso comércio. Será que esta pessoa sabe que as indústrias não param, que temos de trabalhar, evidentemente que em turnos, durante vinte e quatro horas? Será que esta pessoa não sabe por que nós somos produtores de petróleo, porque detemos uma tecnologia avançada em perfuração de poços, em refinamento de petróleo, etc. etc. etc.

Será que aquela senhora que, possivelmente, acorda às nove horas da manhã, para pegar trabalho, se é que trabalha, pois uma grande maioria dos portugueses da idade dela, ao menos a que ela aparentava ter, está “de baixa” (vivendo à custa da segurança social) pelos mais diversos motivos, sustentados por outros portugueses, que velhos e alquebrados, ainda trabalham como “porteiros”, “porteiras”, cozinheiros, garçons, para sustentar a segurança social que patrocina estas “baixas”, hoje pelo maior motivo que é a “não vontade de trabalhar” de muitos portugueses, que a escondem com “depressão” “estafa” “stress”.

Já vi muitos portugueses, de idade entre 36 a 50 dizer que vão pedir “baixa” por estarem cansados, o engraçado é que, estas mesmas pessoas, que estão de baixa, não estão cansados ou deprimidos, para viajar, para freqüentar a noite, para beber, para fazer academia.

Será que aquela senhora não percebe quem são as pessoas que trabalham, muitas vezes, clandestinamente, nas obras que estão acontecendo em todo o Portugal? Será que ela não percebe que uma grande maioria daqueles homens que começam o trabalho as sete da manhã, ou menos ainda, são brasileiros, africanos e outras nacionalidades, menos os portugueses? Sabe ela por que isto acontece? Certamente ela dirá que isto acontece porque o Governo português permite que os estrangeiros tirem os postos de trabalho dos portugueses, e até acho que eles têm razão, deveria haver uma política mais rígida em relação a este trabalho, não porque retire dos portugueses os lugares de trabalho, pois muitos destes serviços eles não querem, porque significam uma humilhação para pessoas tão civilizadas como os “europeus”, mas para que os trabalhadores não sejam explorados como são, bem verdade que existem inúmeros programas, são até anunciados na televisão, para amenizar tanto preconceito, tanta exploração, mas isto não é necessariamente uma questão humanitária, isto acontece porque  a União Europeia obriga a que os países da comunidade tenham estes programas, aliás, patrocina-os, uma maneira de afastar a xenofobia que caracteriza a grande maioria dos europeus, vide o recente caso da expulsão dos ciganos da França.  

Estes pobres diabos trabalham mais de 10 horas por dia, ganham por hora muito menos que qualquer português, que acaso exerça a mesma função, o que é muito difícil, trabalham com os tais “recibos verdes” não tem direito a assistência médica, a qualquer subsídio, enfim, são tratados como “parias”, que realmente são afinal não pertencem ao mundo dos civilizados europeus.

Morar! Será que esta senhora sabe onde moram os pobres coitados dos brasileiros, africanos, ucranianos, etc., que trabalham nestas obras e em outros empregos onde são explorados? Não ela não deve saber, e se sabe, jamais o dirá, a não ser que seja para criticar se houver algum que consiga sair do inferno e passar a residir no “purgatório”, lugar mais adequado a quem pode pagar mais de 500 euros por um apartamento, onde morará mais de duas ou três famílias, cada um confinado em seu quarto, muitos com dois três filhos, dividindo intimidades, fome, miséria, com um único pensamento, juntar algum dinheiro para voltar a tão sonhada terra com uma casa decente para morar, um futuro para os filhos.

Será que essa senhora tem conhecimento de que aquela estátua que fica em frente, ironicamente, ao Café “A Brasileira” no Chiado, é a de Fernando Pessoa? Nós brasileiros sabemos. Será que ela sabe quem foi Camilo Castelo Branco? Eça de Queiroz? Saramago? Alexandre Herculano? E tantos outros? Nós brasileiros sabemos, porque reconhecemos os grandes valores destes portugueses, porque não somos mesquinhos, miseráveis, porque sabemos dar o crédito correspondente ao que é bom, valorizamos o estes homens representaram e representam para a cultura, entretanto, a par destes homens, temos os nossos, que, com certeza, ela nunca ouviu falar, evidentemente, cultura do submundo, de preguiçosos, de homens que mostram a saga dos brasileiros, pobres, nordestinos, que vão à procura de trabalho em outras terras: Graciliano Ramos, Jorge Amado, Erico Veríssimo, José de Alencar, Machado de Assis e tantos outros. Não, essa senhora não deve saber que temos estes expoentes, não lhe interessa, o que interessa é dizer que nós, brasileiros, somos “preguiçosos”.

Fiquei realmente triste e assustada com a afirmação da senhora, mas vou relevar, porque se nós brasileiros somos preguiçosos, se não gostamos de trabalhar, se vivemos sambando, se nada fazemos, e, ainda assim, somos a 8ª economia do mundo, prestes a sermos declarados como 7ª, é porque somos mesmo abençoados, coisa que não deve acontecer em outros lugares do mundo, deve ser porque “Deus é brasileiro” e permite que, apesar de tudo, demonstremos que somos felizes e que temos esperança, não vivemos de passado, estamos construindo o nosso futuro sem ufanismos exagerados, sem esconder os nossos problemas, sem culpar ninguém pelos nossos dissabores, pela nossa incompetência e inapetência.

 Somos grandes em tudo: em terra, 8.514.876 km, em número de gente, 190.732.694, em número de analfabetos, em numero de pobres, mas somos grandes em generosidade, em amor, em esperança. Se adoramos “futebol” é porque ele nos dá felicidade, se gostamos de samba, é porque ele mostra a nossa energia, sem precisar de qualquer tecnologia, é o nosso corpo que demonstra do que somos capazes; se gostamos de ir à praia; é porque o mar nos retira os olhados que pessoas infelizes nos colocam; se bebemos é para comemorar e não para nos deprimir e esconder tristezas. Trabalhamos, e muito, fazemos com que o nosso Brasil, continue crescendo, e seja motivo de orgulho nosso, e da inveja daqueles que não sabem o que é “SER BRASILEIRO”.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Que triste constatação!

Largo do Rossio - Lisboa
Quando resolvi fazer o Mestrado em História da África, fiquei muito surpresa com as perguntas das pessoas, sejam aquelas que me foram feitas no Brasil, sejam as que me foram feitas aqui em Portugal.

Os questionamentos partiam de pessoas dos mais diversos graus de conhecimento. Desde colegas do curso de Licenciatura em História, de colegas de profissão (Juízes e advogados), estudantes de diversos níveis de escolaridade, profissionais liberais, enfim, muitas observações de uma diversidade imensa de questionadores.

Alguns, os mais letrados, dentre estes até mesmo o meu companheiro, (advogados, juízes, conselheiros de tribunais, ainda há no Brasil e igualmente em Portugal tal cargo, cujos membros gozam das mesmas prerrogativas dos juízes togados, membros do poder Judiciário), perguntavam-me para que eu queria saber dos africanos, jocosamente falando dos negros como se, ainda, estivéssemos em pleno século XVIII, quando os “pretos” eram tratados como seres inferiores, parentes mais próximos dos homens depois do macaco. Cansei de ouvir críticas a minha opção de estudar a África. Alguns chegaram a perguntar se eu queria saber como os africanos aprenderam a comer banana, ou como eles faziam para ficar com as palmas das mãos brancas e dentes, quando e se os tem, aliás, uma das características dos negros que conheço, e que são muitos, que vivem na Bahia, em especial, e no Brasil em geral.

Uns, menos agressivos, inquiriam-me sobre quais as vantagens que teria em saber coisas da África. Isto me daria algum retorno financeiro? Sim, porque a grande maioria das pessoas só faz algo se tiver algum retorno, ainda que ele não seja financeiro, mas alguma contra prestação deve haver a um comportamento dirigido a algo ou a outrem; é a história do dou para receber, como se esta máxima pudesse ser aplicada ao conhecimento cientifico, embora saiba eu hoje, que mesmo neste campo, em que dependemos de muitas pessoas nos arquivos, nas bibliotecas, nos museus, enfim, nos locais onde procuramos nossas fontes, o dar para receber é de uma importância brutal, tanto que uma pessoa que tenha poucos recursos, seja monetário, seja os relacionados com a aparência, quero dizer, o estar bem vestido, o ser bonito ou feio, o ser branco ou preto, até mesmo o ser europeu ou não, pode não receber tanto quanto outros, e já começo, realmente e, lamentavelmente, a entrar no assunto que me levou a escrever, a boa aparência, que ainda hoje está ligada ao cromo, à cor. Lembremos que todas as cópias que tiramos custam, nas faculdades, através das maquinetas que fornecem cartões e alimentam os nossos sonhos de investigadores, no meu caso completamente patrocinada pelos meus parcos recursos de uma aposentada brasileira, 0,10 e em outros arquivos, a exemplo da Biblioteca da Assembléia da República, 0,15 (quinze centavos de euro).

Os meus sobrinhos, cujas idades variam de 2 aos 24 anos, faziam-me as mais disparatadas questões, embora todos estudantes, alguns já com diplomas universitários, com a ignorância assustadora que nós brasileiros temos das coisas da África.Aliás, agora estamos tentando, através de uma legislação que, oxalá, seja efetivamente eficaz, quero dizer aplicada mesmo, que todos os currículos escolares tenham, como disciplina obrigatória, História da África, um resgate tardio, mas de louvável iniciativa. Um deles perguntou-me o que eu queria saber da África? Qual o meu interesse em aprender coisas sobre negros? Por que eu tinha de ir a Portugal para fazer este tipo de estudo, se na Bahia o que menos falta é negro. Continuando, disse-me ele, que se eu quisesse poderia, caso saísse viva e ainda na posse do meu computador, livros, cadernos, enfim, toda a parafernália que temos de utilizar nos nossos estudos, ele poderia ir comigo ao Curuzu, ou em qualquer outro bairro de periferia de Salvador, e analisar o comportamento dos negros, dizia ele que não sabia bem para que, porque negro é negro, se não suja na entrada o faz na saída, em qualquer lugar do mundo.

Travessia em Maputo - Oceano Indico
Em Lisboa, logo que cheguei, as perguntas eram variadas. Por que eu vim fazer o mestrado aqui em Lisboa, quando poderia fazê-lo no Brasil, com tantos negros? Como se o estudo da África só se refira a negros, trafico e escravidão, como se neste continente não existissem brancos e tantas outras coisas a estudar: cultura, etnicidade, nacionalidade, tradição, usos e costumes, geografia, etc. etc. etc. Outros perguntavam-me o que eu lucrava com este estudo sobre os “pretos”, palavra que me soa muito pior de que o ‘’negro” utilizada no Brasil para identificar as pessoas de cor não branca, e que derrama sobre mim uma série de preconceitos e pré conceitos vivos, atuais, jocosos, raciais.

Um português da Covilhã (região portuguesa) me disse que se eu queria estudar os “pretos” poderia eu ficar no Rossio, (praça localizada na baixa de Lisboa), no final da tarde, onde teria uma verdadeira África e não precisaria estudar tanto e nem ir ter à África, como gostaria e efetivamente irei, embora alertando-me para o fato de que talvez não saísse dali com a minha carteira de cédulas.

Largo de Sao Domingos - Lisboa
Em um círculo um pouco mais fino, quero dizer, um pouco mais educado, é assim que os portugueses de uma classe média, como eles se acham, formada por técnicos especializados, que têm de ir ao Algarve no verão para manterem o “statuo quo” de civilizados e pertencentes a uma elite que eles pensam existir, disseram-me, após algumas argumentações a respeito de uma pessoa como eu, Juíza do Trabalho no Brasil, estar a estudar à altura, isto já fazendo uma alusão à minha própria idade e à minha completa, para alguns, formação, que seria eu, mais uma, a falar mal dos portugueses. O engraçado, desta colocação é que partiu de uma pessoa nascida em Moçambique, embora portuguesa, filho de portugueses que estavam fora de Portugal a serviço da Pátria, nas tropas que lutavam para que o território africano não fosse perdido, antes de 1974.
Arquivo Histórico de Moçambique
Que noções têm todas estas pessoas a que me referi sobre o que é a África? Quem são os culpados de tanta ignorância em relação a este Continente que para alguns resume-se ao Egito, Marrocos, Rio Nilo, escravidão, e para outros, como uma portuguesa que conheço e que trabalha em um grande grupo franco-espanhol aqui instalado, (Portugal) que se orgulha de ter tirado o décimo segundo ano e de, na pratica, ser melhor de que muitos que freqüentam as universidades, do que, em relação algumas pessoas, não tenha a menor dúvida, que a África não é onde fica o Egito, que este país ficava na Ásia, até o dia da nossa conversa? E como entender que tentar reproduzir os acontecimentos históricos através das fontes existentes, aproximar-se o mais possível do real, é falar mal seja lá de quem for.

É assustadora a ignorância de muitos sobre a África e da sua importância, seja para portugueses, seja para brasileiros, seja para os próprios africanos.

tese do doutorado
Não desisti do Mestrado, já obtive o grau de Mestre, hoje, conheço um pouco mais da África lusófona, conhecimento insuficiente, bem sei, mas que já me permite, identificar a África lusófona como ela deve ser identificada: Angola, São Thomé, Cabo Verde, Moçambique, Guiné Bissau e não só esta, como também um pouco da que foi colonizada por franceses, ingleses, belgas, espanhóis, alemães. Conhecimento que me permite, hoje, entender porque, em Moçambique o Governo volta a utilizar as autoridades tradicionais (gentílicas) como um elo de ligação entre ele, Estado, e o povo, valorizando a cultura tradicional, que nenhum colonizador, e nem a política pós colonial conseguiu apagar ou afastar.

Isto é real, não é uma ficção, e só demonstra a necessidade de uma revisão do ensino da África no Brasil e no mundo, colocando-a no seu devido lugar: Plagiando um compositor brasileiro, (Chico Cesar) no lugar em que sempre esteve o do de “Mama África”.