domingo, 21 de outubro de 2018

Um conversa entre o vigilante e o lavador de carro


Ontem, pela manhã, como de costume em todos os dias, sai para  fazer a minha caminhada matinal. Como sempre, estou a andar em um mesmo espaço, já conheço quase todos que transitam no local naquele horário; a grande maioria de empregadas domésticas que chegam para o trabalho; os moradores locais, que levam os seus cães para fazerem as suas necessidades, outros que se dirigem à praia ou seguem para as academias próximas. Uma senhora que todos os dias me diz que tem inveja da minha disposição, inveja que julgo crescente, porque eu tenho, aproximadamente, uns dois anos que faço a caminhada no mesmo sítio e ela nada. Um vigilante que, chegando ou saindo do turno, carrega a sua gaiola com o seu pássaro de estimação.
Entretanto, tem duas pessoas que vejo religiosamente: o vigilante de um condomínio, que,às seis da manhã, já não fica dentro da portaria, e sim no outro lado da rua, de onde pode avistar as pessoas que entram nela vindo da orla, a espera de ver o colega, com quem vai trocar o turno, se aproximar, é visível a sua impaciência para que o companheiro chegue, mas isto não lhe tira a educação de dar o bom dia à madame: (a madame sou eu), e o lavador de carros dos proprietários que vivem naquele condomínio,
Pois bem: o vigilante que é um homem robusto, careca, deve passar dos quarenta e cinco anos, e o lavador de carros baixinho, moreno, não me lembro da sua fisionomia direito, mas deve ter de cinquenta pra lá, estavam conversando; pego apenas um ponto da conversa, como é evidente, pois não podia parar para ficar ouvindo o que conversavam, mas deu para perceber que tratavam de convivência com mulher:
O lavador de carro, justo na hora que passei fez o seguinte comentário:
- Agora não quero mais mulher nenhuma morando comigo: Depois do que a última fez, vou viver sozinho. Nunca mais boto uma mulher em casa.
O outro retrucou: Pois é o que vou fazer também: Daqui há uns dois anos isto acaba, e também não vou querer mais nenhuma lá em casa:
Segui andando e querendo entender esta colocação do vigilante: Daqui há dois anos isto acaba. Pensei comigo: então a relação dele tem prazo de validade fixado? Por que será que ele vai precisar esperar ainda dois anos? E tentando adivinhar o que a do lavador tinha feito: Será que deu um corno nele? 
“Esmeralda, o que você tem com isto? Preste atenção a sua caminhada e deixe de pensar  na vida dos homens” 
Todavia, o pensamento não se afastava, e eu fiquei retada porque tinha de me afastar e não poderia ouvir o fim da conversa. Voltando no caminho, peguei outro trecho:
-Agora pego a mulher e levo para casa e pronto e no outro dia ela vai embora, diz o lavador de carro.
- Tá doido! Retruca o vigilante:  Leve para qualquer lugar, menos para sua casa, nem deixe ela saber onde você mora: estas porras  são assim: Vai um dia, dois, três: com uma semana já começa a levar uma roupa aqui outra ali, tudo treita, em um mês ela já levou as roupinhas todas e já está instalada e querendo mandar e mudar as coisas da sua casa, e o pior, comandar a sua vida.
Não pude deixar de rir: pois vi mesmo o filme, É assim mesmo: tanto homem quanto mulher agem da mesma maneira: chegam de mansinho como quem não quer nada e vão se apossando de você, da sua casa. Mulher! ainda pior, porque modificam tudo, à título de agradar, claro que a si própria, mudam posição dos móveis, arrumam gavetas tirando as coisas do lugar, fazem comida, mexem nas coisas para descobrir a vida do homem. Bom, o homem, entra também da mesma maneira: uma roupa hoje, uma cueca amanhã, mais não sei o que no outro dia, e de repente querem comandar a vida da mulher, querem que elas se separem de algumas amigas, de amigos, deixe de ir a lugares, enfim, começa o inferno.
Quero dizer a vocês que nada disto aconteceu comigo, entretanto, tenho presenciado coisas do tipo com algumas pessoas que conheço e conheci ao longo da vida. Vi relacionamentos que começaram assim, com uma calcinha hoje e uma cueca amanhã, darem certo, mas, também, vi relacionamentos muito errados, tão errados que foi necessária a intervenção de terceiros: família, policia, juiz, para que o intruso saísse da casa do outro.
Mais ainda, vi pessoas que conviveram apenas por meses, questionarem bens do outro. Dá para acreditar? Acreditem porque é verdade mesmo, há pessoas inescrupulosas, que se sentem realmente prejudicadas.
E quando um deles já tem filhos! Merda total; pois o intruso quer tomar as rédeas, lhe dizer como você deve criar o seu filho, disputam espaço, dinheiro, carinho, enfim
Bom, mas não comecei o texto para discutir este tipo de comportamento, Só ´fiz o texto porque achei interessante e engraçada a conversa dos dois personagens, e é uma pena que não a tenha ouvido toda, pois deve ter saído muitas outras pérolas dali.  A realidade, o cotidiano daquelas pessoas, a crônica da vida.

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