Realmente, ela acha que é preciso
mesmo coragem para, sem subterfúgios, dizer que a pessoa que lhe foi tão cara
um dia, ainda continua fazendo parte do seu sonho, do seu devaneio, das suas
dores e angústias, como também das horas dos prazeres buscados, construídos com
as recordações dos grandes e bons momentos vividos.
A letra da música é linda,
sensacionalmente real, vida de dois que se desmoronou, desgastada pelo tempo,
pela transformação do amor em dor, como ele bem sabe dizer poeticamente e, como
tal, aliviando a dor de transformar tudo em dor mesmo. Entretanto, ainda que
tenha sido assim, que infelizmente já não dê mais, fica toda uma história, que
por mais que se tente esquecer, sobrevive, às vezes, como ele mesmo diz, até no
próprio corpo, quando, buscando pelas memórias, ele reage como se vivendo
estivesse os momentos quentes em que o coração acelera, a respiração fica
ofegante, em que se têm espasmos de prazer.
Ah sim Martinho, como se concorda
com você! E como se deve ter pena daqueles que não são capazes de, como você, dizer
isto a alguém, daqueles que continuam com o orgulho de um dia ter sorrido
quando acabou mesmo com o coração dilacerado.
Não é pessoa adepta de cultivar a dor, sem dúvida alguma: acha que nenhum
ser humano merece fazer isto consigo próprio, mas também não pode concordar
que, por um orgulho idiota, bobo, próprio dos covardes, se deixe de dizer a
outrem o quanto ele representou, ou ainda representa na sua vida. Fraqueza!
Diriam alguns: os imbecis que não têm sentimentos grandiosos, apenas mesquinhos, para consigo e para com outros.
É calada, bem sabe; é estranha, arredia,
também o sabe. Pode passar séculos sem ver ou falar com uma pessoa, tenha sido
ela muito ou pouco importante na sua vida, mas o seu coração continua
acelerando, quando recorda dos momentos lindos, vividos com grande ternura, com
grande emoção, enfim, com um grande amor pelos que passaram pela sua vida, e
nela deixaram marcas indeléveis.
Certamente, e concorda mais
ainda, com o letrista afortunado, que quando se transforma tudo em dor, o
melhor mesmo é cada um ir para o seu lado, mas é necessário que o outro saiba,
perfeitamente, que não foi fácil, que as angústias povoaram por muito tempo sua
vida. Não interessa quanto o tempo tenha passado, não interessa se se está, ou
não, com outro alguém, porque quando a saudade bate forte no peito, há que se
entender que, embora distantes e irremediavelmente separados, as coisas não
acabaram como deveriam, pois restaram lembranças tamanhas que somente elas são
capazes de nos fazer vibrar. Não há, pois, nada de errado em dizer o que se
sente ou o que um dia se escondeu a uma pessoa, não é necessário citar nomes,
porque as partes interessadas vão saber do que se fala, sem que ninguém, fora
do elo de dois, participe disto.
Martinho canta, ela escreve, alguém pinta, outro faz comida, enfim, em cada criação dos que querem falar do
seu amor, ou do seu ex amor, não tão ex amor assim, está presente a
cumplicidade que uniu e desuniu, há momentos íntimos tão grandes, momentos só partilhados entre os dois, que nenhum envolvido atual vai perceber, porque,
pensa ela, cada dois tem um “nosso” impenetrável exclusivo, que, mesmo os
amigos mais íntimos, não sabem ou percebem. É na cumplicidade do amor, que se
faz uma música com uma letra tão linda como é esta: EX AMOR
Para tantos quantos tenham um “ex amor”, que tenha sido assim tão
forte como o descrito na letra, diz: não
tenham medo, vergonha de dizer o quanto ele foi importante e o quanto ele se
faz presente na sua vida, e o quanto você “se possui” na sua intenção.
Gostaria que tu soubesse
O quanto que eu sofri
Ao ter que me afastar de ti
Não chorei
Como um louco eu até sorri
Mas no fundo só eu sei
Das angústias que senti
Sempre sonhamos
Com o mais eterno amor
Infelizmente
Eu lamento mas não deu
Nos desgastamos
Transformando tudo em dor
Mas mesmo assim
Eu acredito que valeu
Quando a saudade bate forte
É envolvente
Eu me possuo
E é na tua intenção
Com a minha cuca
Naqueles momentos quentes
Em que se acelerava meu coração”
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