Sou uma
escritora que escreve para não leitores. Engraçado não é? Como ser escritora sem
ter leitores. Uma escritora sem leitores não é uma escritora, é um zero esquerda,
mas eu continuo escrevendo, inúmeros textos, dissertações, teses, livros sérios
e científicos, romances eróticos, contos vários, artigos científicos, enfim,
sou efetivamente uma escritora.
Mas para que
escrever? Pergunto-me sempre, entretanto a tela branca do computador no "Word"
é convidativa, a solidão também, junto os dois e escrevo. Escrevo sobre tudo,
tudo o que você puder imaginar pode virar um texto, Ah sim, ainda tenho mania
de corrigir textos dos outros, imagine só, eu corrigindo texto do alheio, o
interessante é que quem pede a correção confia, literalmente, no meu taco.
Taco, a palavra me veio e eu já desvirtuo todo o meu pensamento, e fico a me
perguntar o que me sugere “taco”? Pensamentos vários; um instrumento qualquer de um jogo que também não
sei o nome; um pedaço de alguma coisa; um pedaço de madeira; um cacete. Ah! Eu
sabia que ia parar aí, sim porque há muito que não vejo um taco, para este fim
mesmo que todos estão pensando, aliás, não tenho taco de nada, nem de carinho,
nem de amor, nem de atenção, e nem do que bem gosto, aliás, do que todos que
são saudáveis gostam: de sexo, não tenho nem um taco e nem um “taco” de sexo,
os tacos parecem que estão com medo, ou talvez, uma aversão imensa a mim; como
o mundo está passando por uma revolução sexual, talvez eu esteja sendo mais
apreciada por aquelas que não têm taco, mas tem a aparência real de tê-los.
Prefiro os que têm taco e não disfarçam, aliás, acho que se hoje vir um taco
tenho uma sincope, talvez seja por isso que eles não aparecem, pois o dono do
taco não vai estar disposto a levar uma sexagenária para o hospital apenas e
tão somente porque foi apresentada ao seu taco. Efetivamente tenho de concordar
que estou num beco sem saída: ver ou não ver um taco, pegar ou não pegar em um,
saber ou não como usar adequadamente o taco? Questões que me deixam boquiaberta
exatamente por saber que estou mesmo com estas questões na minha cabeça. Eu que
escrevo sobre tantas coisas, boas ou más, mas escrevo, agora fico com esta ideia
fixa de “tacos” na cabeça. Será que não tenho uma coisa melhor para pensar?
Claro que não, a resposta é automática, não tem coisa melhor que um bom taco
para se dar algumas tacadas. O pensamento começa a me excitar um pouco e fico pensando
qual taco seria adequado para esta manhã solitária de segunda feira, em que já
vi duas receitas na televisão, imaginem só: alguém que necessita de um taco vendo
pela televisão receitas: uma de pão e outra de maionese, quanto pior, ambas “light”!
quando o que quero mesmo é saber de coisas “heavy”, pelo menos no aspecto da
alimentação, em todos os sentidos. Quero comer coisas solidas que preencham os
espaços, que sejam sentidas. Quero, na
verdade, em determinado aspecto, me sentir entupida, esta á a palavra, entupida
no exato sentido de toda preenchida, sem espaços sobrando. Tudo completamente
acoplado. Há como queria isto! Entretanto, estou é vendo maionese de linhaça,
vejam só a que ponto cheguei. Disfarço,
e para desviar o pensamento do foco “taco”, mudo de canal outra vez, agora é
uma moça bem bonita que fala de história do Brasil, fala de pintura e escultura
no período colonial, ela está no museu da Inconfidência numa daquelas cidades
históricas de Minas Gerais, Ouro Preto, patrimônio histórico cultural da
humanidade. Quero prestar atenção, mas
não consigo porque quero acabar este texto, embora não saiba qual será o seu final,
porque se não houve um motivo sequer para um começo, como saber um final. Lembro-me:
o começo existe, estou questionando a minha condição de escritora sem leitores.
Bom se sou uma escritora sem leitores, e se ninguém vai ler esta zorra”, porque tenho de me
preocupar com um fim? Aliás, não tenho que me preocupar com nada: nem
principio, nem meio, nem fim, portanto
vou continuar a escrever até achar que devo parar. Mudei de canal outra vez, aliás este comando é outro aliado
dos solitários, como funciona meu Deus, você fica trocando de canal como se ali
fosse aparecer uma cura para a sua solidão, para o seu desespero, para sua
excitação. Paro num telejornal, há uma greve no Galeão, os funcionários que são
responsáveis pelo Raio X das bagagem estão parados. Acho a noticia interessante
e fico imaginando se fosse possível se fazer um Raio X dos pensamentos. Sorrio,
e penso: “quantos problemas iam acontecer”. Já pensou você ser flagrado
com os seus pensamentos mas mesquinhos sem poder fazer nada para escondê-los? E
os pensamentos eróticos, aqueles que
você tem quando vê uma pessoa que lhe chama atenção, que desperta a sua libido,
puta merda! Ia ser um verdadeiro caos: muito pior do que o que está acontecendo agora no aeroporto, que só envolve bagagens, coisas materiais: imagino mulher batendo em homem, mulher batendo em mulher, homem batendo em homem,
homem batendo em mulher, um Deus nos acuda, gente morrendo, enfim, ia mesmo ser
muito engraçado. Mudo outra vez o canal, agora
vejo um cara careca falando de
esporte, e ele diz que hoje é aniversário, ou sei lá o que, de uma madre
paulina, que dizia, bom como ele coloca o verbo no passado, é possível que seja
aniversário de morte: “a luta é o
caminho para a vitória”, concordo com a madre,
mesmo não sabendo quem ela é ou foi, mesmo achando estranho que ela tenha sido
lembrada em um jornal que fala de esporte, vá ver que é porque a frase tem duas
palavras que são bem utilizadas no esporte: “vitória e luta”, mas, alienada disto, aproveito a deixa e vou lutando, ou seja,
escrevendo, baboseiras ou não, vou escrevendo, esta é a minha forma de lutar
para conseguir a vitória, que é ser lida por você leitor, a quem agradeço se
estiver, neste momento, lendo este texto de uma escritora, que, agora, com a
sua leitura deixa de ser uma anônima para,
vitoriosamente, se saber uma UMA VERDADEIRA ESCRITORA.
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