“Quando fores orar, entre no teu quarto, fecha a porta e ores a teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê o escondido te recompensará”.( Mt. 6, 6)
Não sou católica praticante, acredito em Deus como força superior universal, não como o Salvador que se materializou no seu filho para vir ao mundo e fazer todas as coisas que dizem que ele fez, aliás, gosto mesmo é da parte da transformação da água em vinho, mas a citação acima me faz pensar e muito.
Primeiro e exatamente porque nos remete à meditação. O que é orar senão meditar a respeito da própria vida, solicitar ajuda para nossos problemas e para os dos demais? E como podemos meditar se não estivermos em completa sintonia consigo próprio, o que só se consegue com o silêncio, que possibilita uma interiorização de nós mesmos?
Para orar, meditar, encontrar soluções, é necessário que nos recolhamos, saíamos do ambiente em que estamos, fiquemos sós.
Pois é, para encontramos soluções precisamos, primeiro abrir a nossa porta de entrada de amor, e depois fechar a porta do nosso quarto para que ninguém possa incomodar este momento tão nosso, que não pode realmente ser partilhado com ninguem, a não ser com o cosmos, com o universo, enfim, com Deus, Gilberto Gil já ensinou isto.
Talvez por isso mesmo, por sempre procurar o caminho para abrir a minha porta e isolar-me dentro do meu quarto e conversar com Deus, é que fico inebriada com portas, as portas materiais, aquelas que servem de entrada e saída, de segurança e proteção, de liberdade ou prisão, de fechamento ou de abertura, portas enfim, cumprindo a sua própria função.
Por olhar as portas desta maneira é que bem as observo e agora, quando as portas da velhice se abrem para mim, tenho que encontrar saída para uma realidade que se apresenta não muito promissora, e resolvi dar mais atenção às portas, até o ponto de fotografá-las.
Faço isto aqui em Lisboa, porque aqui tenho como estar sozinha andando pelos becos e ruas, escadinhas sujas,lugares pouco recomendáveis pelos da terra, mas que eu, como daqui não sou, posso me aventurar a andar por eles sem sofrer qualquer tipo de discriminação dos meus congêneres; quando muito pensam que sou alguma turista louca, excêntrica, sei lá o que.
Porta na Baixa de Lisboa |
Lisboa- Sta Apolonia |
Todavia, não há só portas que guardam tristezas, embora fechadas elas são alegres por natureza, são portas pequeninas, que se abrem em dias de festas no bairro, que se abrem para que os habitantes da casa que resguardam possam sair e viver, portas que se abrem, tanto para permitir que os seus donos saiam quanto entrem, saim para procurar a felicidade e retornem com elas. Dão, todos os dias a chance de que aquelas pessoas que por ela passam sejam felizes e livres. Elas falam por si, são coloridas, tem aberturas para cartas, tem uma maozinha para anunciarem um visitante, ou talvez um cobrador inconveniente, muitas estão pintadas de verdes, para demonstrarem o quanto de esperança transmitem quando se abrem ou se fecham.
Tem portas imensas, guardadas por seguranças: Ah estas portas! O que elas podem esconder? O que elas não permitem que passe para fora? Corrupção, falcatruas, mortes,? Será que por isso mesmo é que são guardadas tão fortemente? E as portas das cadeias? Estas que asseguram o bem estar da população, aparentemente livres dos que, agora, não tem liberdade.
Portas outras, imponentes, guardam o saber, estas são efetivamente lindas, trabalhadas, fortes, áusteras, mas metem medo aos neófitos que por elas passam pela primeira vez; depois eles se acostumama e já nem ligam mais para a sua imponência; se estiverem fechadas até se recostam nela, lógico que pela segurança própria que elas lhe dão. Agora que ultrapassarm uma das barreiras do saber podem se dar a este luxo, de nelas encostarem-se e até mesmo refestelarem-se.
Porta Igreja de N.Sra. Fátima-Pt. |
Igreja N.S. da Boa Viagem-Ba |
Portas de Igrejas:, ah estas portas! Primeiro deveriam estar sempre abertas, mas não estão: as vêzes estão fechadas nas horas em que mais se precisa que elas estejam abertas. Descobri que santo também tem hora de almoço, e, ao menos aqui, algumas igrejas fecham para almoço, só falta colocar um plaquinha. Todavia, no Bonfim também é assim, já cheguei lá na hora do almoço e foi uma merda, pois se esperar gente de carne e osso comer já é difícil, imagine esperar que santos, que tem Jesus para estar sempre multiplicando, seja pão, seja peixe e ainda transformar água em vinho, acabarem de almoçar, almoço que pode se prolongar e ajantarar-se, virando uma uma comemoração “vinhobeberição”, e a a gente que fique esperando que eles cansem, se fartem e retornem aos seus postos de trabalho para ouvirem as lamúrias e os pedidos. É melhor mesmo estar alimentado e meio ébrio, a chatice é menor.
A porta da casa da Vera: esta é uma porta particularmente importante; é a porta que me acolhe aqui em Lisboa, de onde saio para as caminhadas, para as aulas, para as “descobertas”, mas que está sempre disposta a se abrir para o meu retorno. Para que fique bem trancada ela exige quatro voltas de chave; não me importo! Dou todas. As vezes volto da rua para ver se dei mesmo todas as voltas, embora ela, pelo lado de fora, tenha um dispositivo máximo de segurança, a chave só sai da fechadura se as voltas estiverem completas.
Príncipe Real-Lisboa |
Porta no Chiado-Lisboa |
A porta principal da Sociedade de Geografia de Lisboa; eta porta importante! Porta de acesso ao saber e à imponência de uma época, data de 1875. Quando se adentra àquela porta parece que voltamos no tempo e no espaço. E muitas outras portas se lhe seguem. A do salão principal do lado esquerdo onde funciona um restaurante; a do primeiro andar que dá acesso a biblioteca. Portas imensas que demonstram toda a importância do lugar que já comandou uma politica no país,mui principalmente em relação às colônias.
Oura porta que me deu um grande prazer em atravessá-la foi a do Arquivo Histórico do Ultramar. Poderosa, linda, guardando relíquias e permitindo o acesso a elas. Há um salão neste arquivo guardado por portas magistrais, que é qualquer coisa de emocionante, ficamos extasiados diante de tanta pompa e beleza.
Poderia falar de muitas portas,as que conheci, as que não consegui ultrapassar, as que me impediram de realizar sonhos, as que demonstraram as mentiras de muitos, as que esconderam vergonhas, mas um dia ainda falo delas, portas dão muitas e muitas crônicas.
Estação do Rossio.Lisboa |
Tasca em Guimarães-Pt |
Arembepe-Bahia |
Abram as suas portas, pois!
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