terça-feira, 13 de junho de 2017

Viva a Santo Antonio

Estou completamente emocionada, vou caminhando vagarosamente subindo a ladeira que vai me levar até a Sé de Lisboa. Hoje é um dia especial. Lisboa está em festa, aliás, em festas, por onde ando vejo as pessoas sorrindo, felizes. Velhos, pobres, adultos, crianças, homens, mulheres, jovens todos unidos em um só desejo, participar da grande festa da cidade.

As velhotas e velhotes são os mais alegres, parecem que esperam o mês de junho para colocar para fora toda a vontade de viver, mesmo com todos os problemas. Todos saem de suas casas: arraias vão pipocar aqui e ali, em uma praça perto, ou uma praça distante, não interessa, o arraial vai acontecer.
Há uma multidão se encaminhando para a Sé. A rua já está fechada para carros e os passeios já estão cercados; passam poucos carros, somente os carros autorizados, agora é só esperar. Consigo chegar na Sé, depois de ter passado pela Igreja de Santo Antônio de Lisboa, aliás, o responsável por tudo isto que está prestes a acontecer.

Me posiciono o lado da Igreja da Sé, dali vejo quase tudo e ainda tenho a possibilidade de comprar uma imperial. A Igreja está fechada ao público. Os canais de televisão já estão posicionados, há entrevistas e gente querendo aparecer de qualquer maneira. Eu estou no meu espaço, de onde posso ver, sem ser vista, pois não gosto desta exposição, não consigo perceber como o povo faz questão de ficar em frente à câmera.

De repente mais e mais pessoas chegam e ao longe ouço as sirenes dos carros e motos da polícia, que vem abrindo caminho para um cortejo que desconheço. Estou ansiosa, falam tanto deste evento que acontece todos os anos e agora eu tenho a oportunidade de estar aqui e participar dele, que estou mesmo curiosa e ansiosa. As pessoas vibram, Ônibus chegam, muitos deles, de onde descem pessoas vestidas a rigor, mulheres de longos, cabelos arrumados, homens de terno, crianças, enfim, todos estão arrumados para uma grande solenidade. Alguém junto de mim explica que são os convidados. Eles saem dos ônibus e adentram à catedral da Sé, somente eles podem entrar. O público tem de ficar do lado de fora, a Igreja não comportaria a multidão que se aglomera para ver tudo.
De repente um buzinaço, olho para a ladeira e vejo  um carro lindo se aproximando, visualizo um Rolls Royce, Que maravilha! A seguir mais um carro antigo, depois mais outro, e outro, e outro, todos trazendo as noivas.
Eles vão parar em frente a catedral e deles saem noivas felizes, radiantes, cada uma com o sorriso mais largo que a outra, afinal elas foram escolhidas em meio há muitas que se candidataram a este casamento que é feito todos os anos e patrocinado pela Prefeitura de Lisboa. Este ano foram dezesseis, n ão sei se o número é fixo.

O público delira, é mesmo fantástico poder participar disto e ver tudo tão de perto.

As noivas entram, a televisão filma, entrevistas, etc. Todos participam e estão mesmo muito felizes, a gente pode sentir que aquilo não é ´falso.

As noivas estão lá dentro. A rua continua fechada e o povo ali esperando a saída delas. A cerimônia demora. O sol está forte, mas ninguém arreda o pé. Já estou na quarta ou quinta cerveja. O xixi já começa com as suas ameaças. Tenho de procurar um local para desaguar. Olho em volta. Não vejo nada que possa parecer com uma casa de banho. Tenho de arrumar um lugar, senão vou fazer feio. Tenho de perder o meu lugar. Desço a ladeira até a Igreja de Santo Antônio, ali tem um restaurante que tem um dos melhores, se não o melhor, pastel de bacalhau de Lisboa. Vou ter que comer alguns (eles são pequeninos) e aproveitar e ir até o sanitário, apesar da vergonha que tenho de fazer isto, mas não dá para aguentar.  É o que faço. Tomo, apesar da vontade intensa de ir ao banheiro, outra imperial, tinha de justificar o “mijador”, após a segunda imperial tomo coragem e vou ao sanitário. 

Um alivio total e pronta para mais dez imperiais e para ver a saída das noivas, que agora começam a aparecer à porta da igreja.

Elas saem mais felizes do que entraram, cada uma com o seu séquito parentes, que ordeiramente se dirigem aos seus ônibus já posicionados.

A esta altura a coisa fica monótona e eu resolvo voltar ao restaurante dos pasteis de bacalhau. 

Descubro que tem moela e peço uma, sento à mesa, a única que sobrava, só tem dois lugares, um deles divido com um estranho, fazer o que? Tomo mais umas duas imperiais e saio descendo a ladeira para alcançar a rua Augusta, já são quase três horas da tarde. Lisboa faz um calor imenso.  Caminho pela augusta e chego ao Rossio. A cidade vibra, v ou para os lados da praça da figueira de lá vou entrar pela mouraria a dentro, vi umas barracas armadas em um larguinho eu fica após entrada do restaurante do Zé da Mouraria.

Bingo, já tem movimento. Aquilo ali vai pegar fogo mais tarde, a sardinhada  vai comer no centro, vai ter dança e tudo mais. Vejo, defronte onde sentei, uma mesa enorme em frente a uma casinha com duas janelas e uma portinha, e de cara associei à casa da Mariquinhas da qual a Amália Rodrigues fala na música. Há na casa cortininhas de renda, lindas por sinal. Há flores na jardineira que fica na janela e há, ao lado da mesa grande uma churrasqueira que começa a trepidar.  À mesa há senhoras,senhores e crianças: Ouço um sotaque conhecido,  e vejo que naquela mesa estão uns seis ou sete brasileiros, integrados à comunidade eles curtem  como os portugueses  a festa de Santo Antônio.

Fico ali, bebo, como chouriço assado, converso com os patrícios. Sei que vou ter saudades deste dia. 
Logo mais vou para a Avenida da Liberdade ver o desfile das marchas.  Marcha da Mouraria, Marcha de Alfama e muitas outras. Penso que Alfama ganha. Vamos ver, o importante e participar, sorrir, ver a alegria e é assim que oi dia 13 vai chegar..


Viva a Santo Antônio!

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