Alfama - Lisboa |
Mesquita em Istambul |
Essa minha última viagem
realmente conseguiu me tirar do sério nos aeroportos. Em Istambul, depois de
passar umas duas horas na fila, feito vaca de presépio seguindo os demais
passageiros, que como eu, tinham de submeter àquele martírio, ao chegar ao
guiché, sou informada que tenho de ter um visto e que ele é pago. Sabe o que
aconteceu? Tive de voltar tudo, entrar na fila para pagar o tal do visto, que
me custou 15 euros e, depois, entrar na fila outra vez seguindo aquela multidão
de pessoas diferentes, que apenas queriam conhecer Istambul. Confesso que,
mesmo com todo o desejo de conhecer Bizâncio, tive vontade de voltar. Não sei
se o problema não seria maior, porque, pelo visto, teria de comprar uma nova
passagem, porque fazer uma troca naquelas circunstâncias seria quase
impossível.
Bom o fato é que em todas as
filas eu só me lembrava dos judeus sendo encaminhados para as câmaras de gás. O
pior de tudo é que, como sempre, os próprios funcionários, sejam da companhia
área, sejam do governo, agem como se fossem as maiores autoridades do mundo,
tratam mal as pessoas, são ignorantes, parecem estar a fazer um grande favor
àquela multidão que, indignada, embora sem muita coisa a fazer, se submete.
Na TAP o problema ainda fica pior
com os brasileiros, vi algumas coisas que me deixaram boquiaberta. Bem que havia patrícios deles revoltados, que
grosseiros como os demais, disseram muitas liberdades aos funcionários da
empresa, o que de nada adiantou, as explicações eram ridículas. Ao menos, neste
particular, vi tratamento igual, embora para eles a revolta tenha sido bem
maior: então ser iguais aos subdesenvolvidos? Que coisa mais absurda!!!
Cheguei ao aeroporto antes das 07h30min,
e olhe que o meu voo era às 10h50min, acho eu, se não 10h50min era 10h40min,
por ai. Entrei na fila e só sai dela às 09h00min.
Depois tive que enfrentar outra fila, a daquela maldita fiscalização de bagagem
de mão. É incrível como os terceirizados das empresas de segurança assimilam a
falta de educação. Se bem que isto não é privilégio, apenas dos funcionários
dos aeroportos portugueses, quando digo portugueses, é porque também na Madeira
vi algumas cenas para lá de desagradáveis.
Funchal- Ilha da Madeira |
A gente tem de tirar cinto,
sapato de salto, botas, agora invocaram com o relógio. Quando fui para a
Madeira, mandaram tirar o relógio, eu não consigo tirar o meu com a pressa que
eles querem e digo que não vou tirar. Alguém me diz que vai apitar quando
passar pelo detector de metais, por incrível que pareça, não apita. Volto para
trás e dou risada. Antes disto tomei uma
bronca de uma “filha da puta”, porque trazia os meus “gosméticos” em um saco que
está fechado com um zíper. Não entendi o
que a mulher fez, pois grosseiramente e falando uma porção de coisas em tom
muito grosseiro, tirou todos de dentro deste saco, que já acompanha a mala, e
colocou em um saco plástico que é vedado com um fecho muito mais fácil de
abrir. Fico puta dentro das calças a olhar para aquela imbecil. Somos tratados,
todos, não só eu, como marginais, aquilo não pode ser considerado de outra
maneira, parecem nos dizer “Vocês são marginais, somente depois de passarem por
aqui é que, talvez, passem a cidadãos, antes, são todos suspeitos.” Realmente
não gosto do tratamento. A palavra, por favor, não existe no vocabulário das “grandes
autoridades aeroportuárias”, é isto que eles pensam que são, autoridades.
Garanto que não sabem nem mesmo escrever o nome direito. Tudo fica pior quando as
pessoas não sabem falar a língua deles, aí é que a coisa pega mesmo. Em alguns lugares faço tudo como um autômato,
pois não entendo porra nenhuma que eles falam, a exemplo da Turquia, em que
você para entrar no aeroporto, ou melhor, para adentrar ao local onde ficam os
guichês e os portões de embarque, já passa a bagagem de porão por uma esteira,
resultado: filas intermináveis. Agora entendo a razão do funcionário do hotel
dizer-me que teria de sair do hotel umas quatro horas antes do voo. Além da
fila da bagagem ainda tive de enfrentar a fila do “check in” e a da emigração,
quando tudo isto acabou era mesmo a hora de embarcar, sem direito a mais nada.
Corfu - Grécia |
Voltando á “bicha de Lisboa” é
assim que eles chamam fila por lá: um senhor alto, muito alto, se
desequilibrou, foi se apoiar naquela fita verde, ou preta, sei lá, e cai, cai
para trás com todo o seu peso e bate cabeça no chão, fico aflita, quero ajudar,
felizmente outros mais fortes de que conseguem levantá-lo. Ele diz que está
tudo ok. Não acredito que quem toma
aquela porrada na cabeça, fique bem, mas ele tá dizendo. À minha frente, um
casalzinho vai para Maputo, olho os sacos que estão no carrinho, cheio de
sucos, água, comida. Dou risada, marinheiros de primeira viagem que são,
certamente, não sabem que lhes vão tomar tudo quando passarem pelos
fiscalizadores da bagagem alheia.
Um outro casal com quatro filhos
vão para Luanda. Os meninos estão
impecáveis, arrumados, mas a senhora é mesmo uma Angolana, as vestes
demonstram, tudo muito colorido e espalhafatoso, e ele gosta de falar alto,
fala ao “celular” (telemóvel para eles) contando a miséria que está a “bicha”. Todos olham para ela,
porque todos participam da sua conversa com alguém que não se sabe quem é. Tive
vontade, em algum momento, de responder às suas perguntas.
Igreja em Melides - Alentejo - Pt |
A voz de um funcionário me afasta
destes pensamentos. Há uma ultima chamada para um voo, penso que para Amsterdão.
(é assim que eles falam). As chamadas se repetem, vejo um grupo de velhos, mais
de 50 pessoas, passarem à minha frente na “bicha”. Fico puta dentro das calças,
mas o que vou fazer. A culpa é da TAP, não deles. A fila diminui um pouco, mas
anda muito devagar. Finalmente chego ao “check in”, Vou colocar a mala na
esteira e a funcionária diz: não coloque
agora. Não percebo, mas não coloco a
mala, sou obediente, aliás, tenho de ser. Com isto entendo perfeitamente a
demora: demoram de tirar as malas das saídas que ficam nos diversos guichê,
resultado: só se pode colocar a mala do passageiro seguinte quando a do
anterior desaparecer na janelinha. Acreditem, é verdade: o processo durou quase
10 minutos, e eu ali com cara de tacho, botava a mala e a funcionária pedia
para tirar, tirava, colocava de novo; a esteira, entretanto, não corria, para
que as malas do passageiro anterior
saíssem pela janelinha. Tenho que dizer que uma das minhas malas tinha
30kg e a outra 27Kg e eu ali tirando e botando as miseráveis na esteira.
Entregue a bagagem, suada,
furiosa, pois queria entrar cedo na área de embarque, vez que ia procurar o perfume
que meu filho encomendou, vou para a “bicha” do exame das bagagens: coloquei a bolsa, a mala de mão, já tinha,
previamente, tirado o relógio, o casaco, o computador de dentro da mala. Passo
sem maiores problemas e aí é que fico sacaneada, porque o saquinho em que trago
os “gosméticos” é o mesmo usado que usei na viagem para a Madeira.
Passo ali; visto o casaco, coloco
o computador outra vez na bolsa, nem coloco mais o relógio, o deixo no mesmo
lugar. Só penso em colocá-lo quando chegar ao Brasil. O meu portão de embarque
é o 42-B, mas antes de chegar nele, mas uma bicha: agora é a do controle de
passaporte, que foi até rápida, não porque estivesse pequena, é que passei na
de “cidadão europeu”, porque as destinadas a todas as outras nacionalidades
estavam enormes.
Veneza |
Depois de andar muito, chego ao
portão de embarque. Sento-me afastada para aguardar a chamada e,
infelizmente, lembro-me do que me aconteceu em Veneza, pois não é que, na hora
do embarque, alguém me diz que a minha
viagem estava marcada para um mês depois, que a TAP errou ao marcar a volta e
que eu, idiotamente, não percebi tal erro.
Resultado: uma bicha pequena, mas demorada, para comprar outro bilhete e
embarcar para Lisboa. A demora na fila resultou
de problemas com o embarque de um cão. Acreditem se quiserem, um cão atrasou
alguns passageiros e a sua dona estava indócil.
Ufa, digo eu, parece que agora o
martírio acabou. Vejo a chamada na tabuleta e escuto a voz da funcionaria
chamando para o embarque, mais uma bicha e eu tô livre, penso eu: Ledo engano.
Acredite em Deus, tivemos de pegar o avião no pátio, e aí a merda: mais uma
bicha para entrar no ônibus que nos levaria até a aeronave. Fui a última do
primeiro ônibus. Fiquei bem à porta. Na minha frente, sentado, um homem bonito,
olhos claros, cabelos brancos, um terno preto impecável, mas com um aviso discreto:
sou padre, foi o que deduzi ao ver o crucifixo na lapela do paletó. Desligo-me do padre, mas, quando o ônibus
arranca quase caio e o padre ri e diz para me segurar. Olho para ele e penso: “sacana,
então eu vou caindo e este puto da risada!” Bom, esqueço o assunto e dou a
volta olímpica para chegar até a aeronave. Quando penso que tudo vai acabar,
fico esperando, dentro do ônibus fechado, com todas aquelas pessoas respirando
o mesmo ar, que liberem o avião. O padre
já se levantou e está junto de mim: pela ordem natural seria eu, ao menos
naquela porta, a sair por primeiro, no que eu já tava muito feliz, porque a
minha poltrona era a última, acredite se quiser, a última mesmo, 42G. Se eu
saísse depois de todos, imagine só o tempo que levaria até chegar ao lugar
certo, mas o padre estava agoniado, e penso que ele queria mesmo sair primeiro.
Ele falou muito mal da TAP, concordei com
as suas argumentações. Os passageiros estavam indignados ali dentro,
encolhidos, roubando o ar uns dos outros.
O padre cada vez mais falava e mostrava-se aborrecido, tanto que eu, muito cinicamente, lhe disse: “Padre, isto é para que nós cultivemos, ainda mais, a
virtude da paciência”. Ele sorriu, todavia, quando a porta se abriu,
efetivamente, ele foi o primeiro a sair. Graças a Deus a porta do meio foi
aberta e por ali embarquei e, felizmente, além de passar sozinha pelo corredor,
ainda tive o prazer de ser cumprimentada por um “hospedeiro” bonito, com um
belho olhar, que me acompanhou até o meu lugar, mas este é outro assunto, que
fica para uma próxima oportunidade. Quem vai viajar nos próximos dias, prepare-se com uma boa dose de paciência. Vai precisar mesmo.
Caraca! Que absurdo. Realmente minha amiga vc cresceu bastante! Mas como eu queria ver sua cara em "todas" estas circunstancias!
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