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domingo, 4 de agosto de 2013

De Arembepe ao Cabula - Um epopeia

Rapaz é mesmo uma epopeia! Se Homero fizesse esta viagem certamente escrevia outra Odisseia, mas, desta feita, contando as aventuras e uma heroína chamada “Esmeralda”, e, certamente,  não encontraria, de volta ,a Ítaca do seu herói.
Sai daqui as 06h00min da manhã. Como não sei andar direito por esta área da cidade e porque tinha mesmo de fazer uma prova, resolvi deixar o carro na casa de Glória e ir de transporte público. No primeiro dia optei pelo táxi. Deixei o carro no supermercado, ali no começo da estrada do coco, e peguei um táxi. Paguei na ida a bagatela de 60,00 (sessenta reais) o mesmo ocorrendo na volta. Isto me fez desistir desse meio, e no segundo dia e fui para casa de Glória: deixei o carro e peguei um ônibus as 06h30min. Felizmente o ônibus estava vazio e eu fui sentadinha, mas ele ia enchendo no decorrer do percurso. Quando cheguei à entrada do Costa Azul sai do ônibus e peguei um táxi, paguei 30,00(trinta reais). Na volta, depois de estar com os pés esfolados, porque andei em demasia por dentro do campus da Universidade, o que me deu uma grande saudade de Lisboa, porque o que fiz ali e que me tomou umas duas horas ou mais, eu faria em questão de minutos, e aí vi mesmo o que é a injustiça de europeus debocharem de Portugal considerando-o como um “terceiro mundo” dentro da comunidade. Não é não: Portugal oferece aos seus acadêmicos serviços, que se não perfeitos, são essenciais e ajudam a todos. Se de vez em quando as máquinas quebram, aceita-se, porque é normal. Aqui, passei trinta minutos esperando que uma moça, sozinha, com uma só copiadora, tirasse cópias para um rapaz, que estava dentro do cubículo onde ficava a máquina. O que fiz, perguntei se havia outra copiadora, me informaram que havia outra sim, e lá se foi Esmeralda, irritada, de sapato alto, segurando o vestido, apenasmente encadernar documentos, o que era exigido pela banca que examinaria a documentação. Chegando ao local indicado, e já entregando a documentação apenas para encadernar, vejo que a máquina, aquela que faz os furinhos no papel, estava com problemas, e olhe que só existia ela, a única.  O rapaz, completamente despreparado para este trabalho intelectual, estava nervoso. Felizmente, antes que ele conseguisse, manualmente, colocar a espiral nos furinhos, alguém chegou à copiadora para pedir que uma página fosse colocada no que já estava encadernado, e ai notei que esta tal página estava faltando nos meus papéis. Outra novela.  Tirar uma cópia da minha inscrição via internet. Rapaz andei naquele campus! Subi, desci, fui, voltei até que uma alma boa, usou o seu próprio instrumento de trabalho e conseguiu tirar a maldita cópia da inscrição.  Voltei à copiadora e o processo de encadernação durou, exatamente, uns 40 minutos. Nisto eu já estou angustiada, porque o pessoal queria que toda esta papelada fosse entregue 1 hora antes da tal prova, e eu lá vendo a hora passar, a me irritar, o estomago a dar sinais da insatisfação. De repente, sinto os pés a incomodar, olho o que esta acontecendo: a sandália, simplesmente, tinha arrancado a pele dos meus dedos dos pés, e eu não podia fazer nada, tinha que segurar a dor e a onda, e lá fui eu fazer a prova, doída, chateada com tudo, inclusive me perguntando que merda estava fazendo ali. Será que eu precisava mesmo passar por isto?
Bom, encadernado os documentos, lá me vou para a prova, tensa, nervosa, mas isto não interesse. Prova acabada e eu peguei, outra vez, um táxi para voltar para Itapuã, mais 35,00(trinta e cinco reais).  Já entro, pois, com dívida, caso passe na seleção.
No outro dia tinha de falar de mim. Não sabia quanto é difícil falar de si próprio para outras pessoas, mas quem tá na chuva tem de se molhar e lá fui eu. Desta vez resolvi ir de transporte público, tinha tempo e, portanto, sai da casa de Glória às 07h00min e fui para a estação de transbordo de Mussurunga, não depois de esperar, no final de linha da Praia do Flamengo, uns 30 minutos para que um dos ônibus parados no local saísse dali.  Chego a Mussurunga e vou procurar o ônibus que vai para o Cabula. Alguém me diz que é no numero 14, para onde sigo e pego uma fila imensa:  esperamos, todos ali, por uns 35 minutos pelo coletivo. Felizmente, quando ele chegou tive a oportunidade de ir sentada. Agora sim começa o périplo: To pensando que o caminho vai ser o mesmo feito pelos táxis. Ledo Engano!  O ônibus efetivamente subiu a ladeira que ia sair no Saboeiro, eu acho que é este o nome, e eu já radiante dizendo: Porra é tão rápido, se eu soubesse disto tinha vindo de coletivo desde o primeiro dia.  Idiota!!! O ônibus sobe a tal da ladeira, mas faz um caminho completamente diverso.  Fico olhando tudo aquilo e pergunto a alguém, este ônibus vai mesmo para a Universidade. Alguém responde vai sim, não se preocupe.  Preocupar!! Não, eu estava mesmo era desesperada. Eu tinha horário para estar no local e as horas passando e com elas o ônibus passando por lugares desconhecidos, feios, nunca vistos antes, se visto completamente remotos na minha mente, que arquivou, se o fez e perdeu o arquivo, talvez defensivamente para não me fazer lembrar que a pobreza, a miséria, já passou pela minha vida assustadoramente. Bom o fato é que eu seguia vendo aquilo ali num misto de surpresa, apavoração, nervoso, angústia, tudo misturado e junto, não me deixando identificar nada. Alguém diz: “Largo do Juliano Moreira”, me dou conta que eu podia até mesmo soltar ali e seguir direito para o Hospital, eu estava mesmo à beira de um colapso de nervos, e o lugar mais adequado para tratamento disto estava ali, bem pertinho de mim, O Hospital Juliano Moreira, que trata das enfermidades da mente e asila os portadores destas disfunções.
Felizmente, a passagem pelo local é rápida, mas isto não me deixa segura, pois fico pensando, se entrar um doido aqui neste ônibus, o que poderíamos fazer? Nada, e aí penso porque que não mudam este estabelecimento de lugar, por que não se coloca ele em lugar mais afastado da cidade. Alguém poderia argumentar que ficava muito afastado, mas o progresso, que, diga-se de passagem, não vejo na região, fez com que o local fosse demograficamente ocupado.
Pergunto outra vez a alguém: já esta perto da Universidade? Alguém responde: está sim, fica logo depois do Roberto Santos, E eu penso, porra nenhuma, depois do Roberto Santos há uns bons quilômetros ainda para se chegar, e com este engarrafamento vai ser uma tortura.  Chega o hospital Roberto Santos, eu continuo achando o caminho diferente. Descubro o que é: o táxi e meu carro passam pela rua direta, mas o coletivo entra na rua do hospital. Um verdadeiro caos: pense um ônibus fazendo uma curva onde é difícil até para um carro pequeno manobrar.  Já estava disposta a descer do veículo e ir, quem sabe, andando, mas os pés não me permitiriam isto, a pele arrancada insistia em me dar sinais do ocorrido.  Fico no ônibus que consegue fazer a tal da curva e pega a pista principal. Anda muito ainda e eu pergunto a uma senhora que esta junto de mim: Já esta perto da Universidade? E ela me diz: "é o próximo ponto". Peço desculpas por incomodá-la, ela diz que não tem problema, mas eu sei que tem, porque ela estava com o fone de ouvido e teve de tira~lo para me dar a informação.  Aliás, muitos no ônibus estão usando o tal aparelhinho, o símbolo da individualidade, cruel, ignorante, miserável.
Finalmente chego à Universidade, e me dirijo à sala onde vou apresentar um memorial, ou seja, falar da minha vida para pessoas que desconheço. Pensei que deveria apenas falar de coisas profissionais, e não dei muito atenção a coisas pessoais: Pois não é que tinha de falar de coisas tipo: se sou casada, se tenho filhos, mãe, irmãos, coisas que não entendo, mas continuo dizendo: "quem tá na chuva tem de se molhar".
Depois de esperar um pouco faço a tal apresentação, que em principio foi até tranquila.  Acaba tudo, agradeço a atenção da banca, formada de três mulheres, cada uma com um perfil, e mais uma vez vejo eu nunca vou conseguir ter um “arquétipo” esperado por todos; aquele de membro do Judiciário, mas isto não me afeta mais. Apenas dou risada das coisas.
Saio da Universidade e resolvo voltar para a estação Mussurunga e dai para Stela Maris.  Começo a esperar o ônibus da Estação Mussurunga, demora muito, quando chega, felizmente vazio, entro, pago e sento-me. 
Uns três quilômetros depois vem a informação: O ônibus quebrou. Puta merda! Falo para mim mesmo. O motorista insiste, o ônibus não sai do lugar, quebrou a porra da caixa de marcha. Saímos todos do ônibus, a cobradora, uma mulher capenga, liga para a empresa, para o setor manutenção.  Alguém brinca e ela grita para o motorista, que alguém, que não me lembro do nome, disse que ele vai sair de férias e quer levar o carro com ele, ambos sorriem, eu não acho nenhuma graça da brincadeira e da situação. Todos do lado de fora, 10, 15, 20 minutos; não passa nenhum outro estação Mussurunga. Desisto de esperar, isto depois de ouvir uma mulher querendo desfazer um plano de saúde, porque o anterior era de quarenta e ela passou para um de 30,00, mas a empresa diz que ela não pode se desligar com menos de um ano e que o valor de 40 vai ser descontado até que o prazo de complete. Tenho vontade de intervir, mas para dizer o que: Que eu estava ouvindo a conversa alheia? Fico quieta e não me pronuncio.
Resolvo que vou tomar outro ônibus para qualquer lugar, ou  então pego um táxi. O táxi não passa, os que passam estão lotados. Já me arrependo de não ter tomado um táxi no supermercado que fica próximo à Universidade. De repente uma luz:  um ônibus Cabula-Pituba via Boca do Rio. Penso: Salvação!  Pego o ônibus e vou até a Boca do Rio e lá pego um para Itapuã, é o que faço. Fico felicíssima quando, com poucos minutos, vejo o ônibus chegando à Paralela, começo a fazer o trajeto para a Boca do Rio, olho o relógio e ligo para Glória perguntando se ela quer almoçar comigo. Ela diz que sim e ai eu digo que é para ela me pegar em Itapuã. O ônibus segue o seu percurso e vejo-o fazer o retorno na Eduardo Magalhães, meu coração já dá pulos, daqui a pouco saio desta porra. O ônibus estava cheio, eu estava em pé, sentindo o cheiro do sovaco de um homem bem no meu nariz, sentindo a minha bunda sendo alisada pelo sei lá o que: bolsas, pernas, braços, enfim.   Aí a tragédia acontece.  O ônibus, ao invés de seguir direito para a Boca do Rio, entra na primeira à direita no Imbuí.  Gente do céu, que nunca pensei, sequer, que o Imbui fosse grande, que dirá tão grande.  O coletivo anda por ruas apertadas, muitos prédios, lojas. Andei, andei , andei, andei tanto que achava que estava indo diretamente para Itapuã. E aí, o que acontece? A zorra do ônibus sai no mesmo lugar. Eu não posso deixar de me expressar: “Cacete, ele volta para o mesmo lugar”. A mulher que esta ao meu lado, agora eu já estava sentada, me diz: Ele ainda vai andar muito, vai para o outro lado, acho que Fonte das Pedras, sei lá. Outro périplo, a zorra anda, anda, anda, e de repente volta, novamente, ao mesmo lugar, começamos tudo outra vez, vamos pela rua principal do Imbuí e pegamos a Boca do Rio, agora sim, vou chegar à Orla, mas aí outro engano: o ônibus vai por um caminho que não conheço e quando desemboco em algum lugar é no Centro de Convenções. Caralho! Penso, e agora, o que faço? Bom vou soltar no Supermercado, penso e é exatamente o que faço.  Num malabarismo retado, atravesso a rua e vou esperar um transporte para Itapuã, pego um ônibus para Lauro de Freitas e depois de uns 20 minutos, finalmente, chego à Itapuã e vou esperar Gloria.
Depois de tudo isto, mesmo sem muito dinheiro, temos que compensar todas estas aventuras desagradáveis, mesmo com um sentimento cruel na alma, por pensar que, a grande maioria faz isto todos os dias e eu, que apenas fiz desta vez, estou tão magoada, tão angustiada, tão revoltada.
Vou comer filet a parmegiana no Bela Nápoli do Shopping Litoral Norte, e, para lembrar de Lisboa, tomo um Monte Velho, pelo qual pago mais de cinco garrafas que conseguiria comprar, com o mesmo valor, em Portugal, 58,00 (cinquenta e oito) reais, em Lisboa, no supermercado, custa, apenas, 4,70 (euros). De qualquer maneira, momentaneamente, esqueci da dor no pé, das angústias, de tudo enfim, e brindei com Glória : Saúde!!!!!  

sábado, 7 de maio de 2011

Você sabe qual o coletivo de "muriçoca"?

Por que complicar o que é fácil? Vocês lembram-se da lista imensa de coletivos que a gente aprendia, ou ainda aprende, não sei,  se no primário, hoje ensino fundamental? Eu ainda lembro-me de alguns, porque no meu tempo de escola a gente tinha mesmo de decorar aquela imensa lista de coletivos:

Alcatéia - lobos

Manada – bois

Nuvem – gafanhotos

Constelação – de estrelas

Matilha - de cães

Vara – de porco

Tropa - de burros

Cáfila – de camelos

Conclave – de bispos, acho que cardeais para eleger o papa, sei lá.

Digam-me para que porra eu quero saber que uma porção de camelos enfileirados é uma “cáfila”, eu nem vivo no Oriente Médio, não moro no Katar, onde a troca da guarda é feita com os “guardas” montados em camelos. Também não vou ser trocada por uma “cáfila”.

E “Vara”, para que “diabos”eu quero saber que muitos porcos formam uma vara? Grossa, diga-se de passagem, imaginem uma vara feita de porcos! Palavra mais desapropriada para esta coletividade.

Conclave então que desuso! Os papas demoram tanto para morrer, que o coletivo é de uma inocuidade imensa, a tendência é desaparecer.

Bom, mas há um coletivo que abrange todos os outros e a gente não precisa ficar lembrando desses vocábulos criados para exprimir grandes quantidades de coisas iguais: pois é, eu sei de um que me foi ensinado pela minha colaboradora.

Um dia estava eu em casa, acho que vendo alguma coisa na televisão, e a minha colaborada chega á porta da sala e me diz:

- Dona Esmeralda, dentro do quarto lá do fundo tem um cardume de muriçocas:

- Como é que é? Tem um cardume de que?

E ela com toda a propriedade repete:

- Um cardume de muriçocas.

Tentei controlar o riso, não queria que ela percebesse que estava me “pipocando” de rir por dentro por causa daquele coletivo tão bem aplicado, que quando aprendi era equivalente a muitos “peixes” e. também  para não lhe dizer que o coletivo era de peixes e não deveria ser aplicado em relação à muriçocas, que, aliás, de coletivo tinha mesmo só a quantidade e as picadas, pois não aprendi na escola tal coletivo para estas pragas, que incomodam muito, talvez, quem tenha idealizado os coletivos nunca tenha tido contato com estes pernilongos malditos.

Naquele dia recomecei a pensar nos coletivos; descobri que já tinha esquecido um monte deles, e tive de concordar que um “cardume” poderia substituir mesmo todas as grandes coletividades de qualquer coisa. Por que não? Além de tudo ter-se-ia a vantagem de não errar nunca, erraríamos somente uma vez e pronto, o erro viraria um sofisma e passaria a ser uma verdade real aceitável por todos que apenas diriam: vi um cardume de carangueijos, um cardume de “gajas”, enfim com a utilização do vocábulo “cardume” já se estaria dizendo que havia uma grande quantidade, todos entenderiam perfeitamente.

Bom, mas eu tive o privilégio de, em muitas oportunidades, ouvir este coletivo lá em casa. O que eu pensei ser um erro, que eu não saberia consertar, porque nunca soube mesmo, e até hoje não sei, talvez o mais próximo seja “nuvem”, qual o coletivo de muriçoca, passou a ser comum lá em casa, inclusive, eu própria comecei a usá-lo; seja a sério, seja na gozação.

Lá em casa muitos livros era um “cardume” de livro; bolas de natal que ficavam guardadas para a época própria eram referidas assim: -  Tem de comprar mais enfeites para a árvore de natal?

-  Não Dona Esmeralda, tem um cardume de bolas lá no armário.

Fiquei com o “cardume” na cabeça. E quando eu queria mesmo me referir a quantidades e usava esta palavra, vi que algumas pessoas me olhavam diferente, como se eu tivesse falando uma grande barbaridade. Lógico que ninguém se atrevia a consertar o erro, mas imagino quantas vezes não devo ter sido criticada por errar uma coisa tão boba. Afinal uma doutora Juíza não pode cometer um erro deste. Nunca me preocupei com isto e continuei, na gozação, ou não, porque as vezes me atrapalhava mesmo e dizia com muita propriedade, aquela que me foi transmitida por minha colaboradora: vi um cardume de gente na rua hoje, vi um cardume de pássaros, e assim por diante.

De tanto divulgar este fácil coletivo, ganhei adeptos, pois não é que em Lisboa o meu amigo Zé, a quem contei esta estória, me veio com esta: “Tem um cardume de africanos no Martin Muniz”!

Pois é, para quem esqueceu os coletivos dou um conselho: usem “CARDUME” para qualquer coisa em quantidade. É fácil e todo mundo vai entender o que você quer dizer.