terça-feira, 10 de novembro de 2015

Voce me cativa?

[...] eu não posso brincar contigo – disse a raposa. – Não me cativaram ainda.
-Ah! Desculpe – disse o principezinho.
Mas, após refletir, acrescentou:
- Que quer dizer “cativar”? [...]
[...]-É algo quase sempre esquecido – disse a raposa – Significa “criar laços”...
-Criar laços?
-Exatamente – disse a raposa, - Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Será para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo[...]
[...] Mas, se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. Os teus me chamarão para fora da toca, como se fossem música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim não vale nada. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos dourados. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará com que eu me lembre de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo....
[...]-A gente só conhece bem as coisas que cativou – disse a raposa. – Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo já pronto nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
-Que é preciso fazer? – Perguntou o pequeno príncipe.
-É preciso ser paciente – respondeu a raposa[...] (SAINT-EXUPÉRY 2009)