segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Parabéns "Espanha"

Hoje, meu pai – AURENTINO MARTINEZ GARCIA, se vivo estivesse, faria 93 anos.  Não sei se queria isto, até porque ele, como hoje minha mãe, teria uma vida inútil, sofrida, dolorida. Ele morreu de câncer na laringe  há 30 anos atrás, quando tinha 63 anos. Minha mãe, oito anos mais nova que ele, ficou viúva aos 54 anos e, pasmem! Nunca mais se interessou por alguém, pelo menos que nós, os seus filhos, tivessemos tido notícia.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Hoje sou

Sou uma escritora que escreve para não leitores. Engraçado não é? Como ser escritora sem ter leitores. Uma escritora sem leitores não é uma escritora, é um zero esquerda, mas eu continuo escrevendo, inúmeros textos, dissertações, teses, livros sérios e científicos, romances eróticos, contos vários, artigos científicos, enfim, sou efetivamente uma escritora.
Mas para que escrever? Pergunto-me sempre, entretanto a tela branca do computador no "Word" é convidativa, a solidão também, junto os dois e escrevo. Escrevo sobre tudo, tudo o que você puder imaginar pode virar um texto, Ah sim, ainda tenho mania de corrigir textos dos outros, imagine só, eu corrigindo texto do alheio, o interessante é que quem pede a correção confia, literalmente, no meu taco. Taco, a palavra me veio e eu já desvirtuo todo o meu pensamento, e fico a me perguntar o que me sugere “taco”?  Pensamentos vários; um instrumento qualquer de um jogo que também não sei o nome; um pedaço de alguma coisa; um pedaço de madeira; um cacete. Ah! Eu sabia que ia parar aí, sim porque há muito que não vejo um taco, para este fim mesmo que todos estão pensando, aliás, não tenho taco de nada, nem de carinho, nem de amor, nem de atenção, e nem do que bem gosto, aliás, do que todos que são saudáveis gostam: de sexo, não tenho nem um taco e nem um “taco” de sexo, os tacos parecem que estão com medo, ou talvez, uma aversão imensa a mim; como o mundo está passando por uma revolução sexual, talvez eu esteja sendo mais apreciada por aquelas que não têm taco, mas tem a aparência real de tê-los. Prefiro os que têm taco e não disfarçam, aliás, acho que se hoje vir um taco tenho uma sincope, talvez seja por isso que eles não aparecem, pois o dono do taco não vai estar disposto a levar uma sexagenária para o hospital apenas e tão somente porque foi apresentada ao seu taco. Efetivamente tenho de concordar que estou num beco sem saída: ver ou não ver um taco, pegar ou não pegar em um, saber ou não como usar adequadamente o taco? Questões que me deixam boquiaberta exatamente por saber que estou mesmo com estas questões na minha cabeça. Eu que escrevo sobre tantas coisas, boas ou más, mas escrevo, agora fico com esta ideia fixa de “tacos” na cabeça. Será que não tenho uma coisa melhor para pensar? Claro que não, a resposta é automática, não tem coisa melhor que um bom taco para se dar algumas tacadas. O pensamento começa a me excitar um pouco e fico pensando qual taco seria adequado para esta manhã solitária de segunda feira, em que já vi duas receitas na televisão, imaginem só: alguém que necessita de um taco vendo pela televisão receitas: uma de pão e outra de maionese, quanto pior, ambas “light”! quando o que quero mesmo é saber de coisas “heavy”, pelo menos no aspecto da alimentação, em todos os sentidos. Quero comer coisas solidas que preencham os espaços, que sejam sentidas.  Quero, na verdade, em determinado aspecto, me sentir entupida, esta á a palavra, entupida no exato sentido de toda preenchida, sem espaços sobrando. Tudo completamente acoplado. Há como queria isto! Entretanto, estou é vendo maionese de linhaça, vejam só a que ponto cheguei.  Disfarço, e para desviar o pensamento do foco “taco”, mudo de canal outra vez, agora é uma moça bem bonita que fala de história do Brasil, fala de pintura e escultura no período colonial, ela está no museu da Inconfidência numa daquelas cidades históricas de Minas Gerais, Ouro Preto, patrimônio histórico cultural da humanidade.  Quero prestar atenção, mas não consigo porque quero acabar este texto, embora não saiba qual será o seu final, porque se não houve um motivo sequer para um começo, como saber um final. Lembro-me: o começo existe, estou questionando a minha condição de escritora sem leitores. Bom se sou uma escritora sem leitores, e se ninguém  vai ler esta zorra”, porque tenho de me preocupar com um fim? Aliás, não tenho que me preocupar com nada: nem principio, nem meio, nem  fim, portanto vou continuar a escrever até achar que devo parar. Mudei de canal  outra vez, aliás este comando é outro aliado dos solitários, como funciona meu Deus, você fica trocando de canal como se ali fosse aparecer uma cura para a sua solidão, para o seu desespero, para sua excitação. Paro num telejornal, há uma greve no Galeão, os funcionários que são responsáveis pelo Raio X das bagagem estão parados. Acho a noticia interessante e fico imaginando se fosse possível se fazer um Raio X dos pensamentos.  Sorrio,  e penso: “quantos problemas iam acontecer”. Já pensou você ser flagrado com os seus pensamentos mas mesquinhos sem poder fazer nada para escondê-los? E os pensamentos  eróticos, aqueles que você tem quando vê uma pessoa que lhe chama atenção, que desperta a sua libido, puta merda! Ia ser um verdadeiro caos: muito pior do que o que está acontecendo agora no aeroporto, que só envolve bagagens, coisas materiais: imagino mulher batendo em homem, mulher batendo em mulher, homem batendo em homem, homem batendo em mulher, um Deus nos acuda, gente morrendo, enfim, ia mesmo ser muito engraçado. Mudo outra vez o canal, agora  vejo um cara careca  falando de esporte, e ele diz que hoje é aniversário, ou sei lá o que, de uma madre paulina, que dizia, bom como ele coloca o verbo no passado, é possível que seja aniversário de morte:  “a luta é o caminho para a vitória”,  concordo com a madre, mesmo não sabendo quem ela é ou foi, mesmo achando estranho que ela tenha sido lembrada em um jornal que fala de esporte, vá ver que é porque a frase tem duas palavras que são bem utilizadas no esporte: “vitória e luta”, mas,  alienada disto,  aproveito a deixa e vou lutando, ou seja, escrevendo, baboseiras ou não, vou escrevendo, esta é a minha forma de lutar para conseguir a vitória, que é ser lida por você leitor, a quem agradeço se estiver, neste momento, lendo este texto de uma escritora, que, agora, com a sua leitura deixa de ser uma anônima para,  vitoriosamente, se saber uma UMA VERDADEIRA ESCRITORA.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Perambulando por Veneza

Quase três meses se foram e ela parece ainda passear pelos Becos  de Veneza, se perdendo  entre eles  a todas as vezes que sai do hotel para ir para qualquer lugar. Era até engraçado: a noite no quarto do Hotel  Bela Veneza, onde ficou hospedada, ficava  fazendo, mentalmente, o caminho faria dia seguinte: sairia do hotel viraria à esquerda, novamente à esquerda e pegaria o caminho para a Praça São Marcos, simples assim. Qual  o que!  No outro
dia, simplesmente,  se perdia, mas não se importava,  não tinha compromissos maiores e queria andar mesmo por Veneza, queria, entretanto, afastar-se do borburinho dos turistas.  Ponte dos Suspiros, Praça São Marcos, Gôndolas, A Ponte Rialto, etc., não ela não queria bem isto. Para chegar ao hotel, caso tomasse um dos vaporetos de qualquer lugar, teria de passar por quase todos estes lugares, portanto, não queria isto,  mas era inevitável, se se perdesse nos  becos de Veneza, ia dar no grande canal, na Praça São Marcos, enfim.
Um dia saiu andando margeando, onde podia, o grande canal, e  depois, não sabe mesmo onde,  entrou à esquerda, deu numa rua imensa, larga, diferente das demais por onde tinha andando até agora, quase todas becos que só comportavam, em alguns locais, uma pessoa indo outra vindo. Nessa rua larga havia diversas casas lindas e muitos restaurantes, diferentes dos restaurantes que margeiam o grande canal, parecia que aquele espaço  era frequentado, efetivamente, pelos venezianos. Pequenos mercados, padarias, frutas vendidas nas calçadas. Parou, comprou uvas e ameixas, continuava andando e chupando, ou melhor, comendo as uvas, que eram verdes, doces e enormes.
Andou muito e viu um jardim à direita, entrou nele e, atravessando-o
todo, foi, novamente, parar  no grande canal, mas em uma parte em que a laguna se abre completamente e você visualiza, de uma  outra maneira, o centro de Veneza, que está longe,  ela vê e a silhueta  da Igreja, do Campanário, algumas torres que não identifica, nota que  andou muito, eu esta bem distante mesmo do centro, não sabe onde está, mas sabe que  voltando pela  margem do canal, ou  atravessando novamente o jardim, vai chegar, outra vez, no centro. Não tem qualquer medo, parece saber perfeitamente tudo.
Fica ali admirando tudo, anda mais para frente, chega até um lugar que não pode mais  andar para lugar nenhum, porque é só agua. Dá na marina, há uma igreja  do outro lado e  ela atravessa a ponte e chega na Igreja, está praticamente sozinha, não vê qualquer pessoa por perto. Chega  á Igreja e entra,  como sempre,  reza e faz um pedido: ainda acredita no que sempre lhe disseram: “quando se vai pela primeira vez em uma igreja se faz um pedido”. Ela sempre o faz, mas como pede uma coisa diferente em cada uma que vai, e depois não se lembra a quem e o que foi pedido, nunca soube se eles foram atendidos pelo santo certo. Independentemente disto, de ver realizados os seus pedidos, continua pedindo.
A Igreja parece dourada, os raios do sol fazem com que tudo por perto pareça dourado, até ela mesma, que tirando uma foto parece estar muito bronzeada,  dourada mesmo,  as árvores ajudam, pois as folhas estão castanhas, quase  douradas também.  Vai até a ponta  da marina, olha tudo, e tem de voltar, porque por ali não há mais caminho de terra a percorrer. Atravessa uma ponte e  passa por um conjunto  de casas, como se fosse um conjunto habitacional. Prédios baixo, portas e janelas hermeticamente fechadas, pensa para si “Nem com tamanho sol  eles abrem as janelas”, sempre  observava isto em Portugal, parece que a Europa toda é assim mesmo. Uma porta se abre,  sai uma senhora pequenina, com vestes escuras, uma andar cansado. Uma outra porta abre-se, agora é um casal de idosos que sae  dali e segue, de braços dados, para a caminhada de final da tarde.
Há folhas no chão. No jardim há flores e estátuas,  ela segue sem muitas preocupações, segue a trilha do  caminho, que não sabe onde vai dar, mas  tem a intuição de que sairá bem próximo ao  jardim em eu tinha entrado antes, e depois de  uns quinze minutos, efetivamente, chega ao tal jardim, de um outro lado, mas é o mesmo jardim. 
Agora há muitas pessoas, crianças brincam, velhos passeiam.  Cachorros em guias passeiam com os seus donos, alguns fazem cooper. Ela  continua a sua caminhada olhando tudo, observando, apenas isto. Não conversa com ninguém, pois, como  sempre está só. Ela já não se incomoda tanto de estar só, aliás, para fazer aquele caminho, daquela  maneira, precisava estar só, pois com certeza ninguém lhe acompanharia naquela caminhada sem destino.
Mas o dia vai se escondendo, o sol  reflete nas águas do canal, que ganham vários tons, desde  prata até o amarelo, confundindo-se com o próprio raio de sol. Ela tira várias fotos, que ficam lindas mesmo. É a Veneza encantada que vê, sente, aprecia.
Anda vagarosamente, vê casais sentados nas muretas, sente inveja dos beijos ardentes, dos amassos, dos agrados, dos olhares. Chora, queria estar ali de uma forma diferente, talvez dando esses mesmos abraços, trocando as mesmas carícias, enfim, mas não é possível, então continua   sua caminhada de volta ao hotel, por  caminhos outros, pensando tão somente em uma coisa: está a realizar um sonho  de muito tempo, que é de conhecer Veneza, e, de uma maneira ou de outra, amanhã vai ter a companhia de alguém ,com quem idealizou fazer esta viagem  enquanto no auge do romance de ambos.
Continua caminhando, há muita gente na rua e ela percebe que
está se aproximando do centro nevrálgico de Veneza, ou seja, está perto, pertíssimo, do hotel, mas antes de chegar nele, uma parada, para tomar um bom vinho, sozinha, em uma mesa qualquer de uma terraza qualquer em Veneza. É o que faz.