sexta-feira, 26 de abril de 2013

Comer, Rezar, Amar: tudo de bom!


Assistiu ao filme “Comer Rezar e Amar”. O filme nada tem de glamoroso, mas é uma estória de amor daquelas americanas com o final feliz que enche as vistas. Primeiramente os atores já levam 70%, ou mais, dos espectadores ao delírio, Julia Roberts e o “homaço” espanhol Javier Barden: ah como queria ela hablar bien español e decir in suyo oído com aquela sensualidade espanhola:  "Javier  te quiero, dejame amarte, estoy lista”. “PUERRA” isto é que era bom. Les gustou o “puerra”? Pensa que  poderia  dizer  “hijo de una puta madre”, pero es mejor puerra, pois os leitores saberão de que ela fala, perfeitamente.  Bueno, mas voltemos ao filme.  Há muitas partes engraçadas nele, mui principalmente a fome selvagem que a protagonista tem, a ponto de um dos aventureiros  lhe chamar de  “grocery”. 
O começo pelas ruas da Itália é qualquer coisa de maravilhoso, tem muitas saudades, até mesmo do hotel “SMERALDO” em que, além de ter a presença de uma amiga no quarto, nada conveniente, uma vez que estava com o seu marido e queria fazer um amorzinho à italiana, o que foi impedido pela presença querida, mas incomoda da amiga que vivia na Itália, o quarto ficava no final do corredor, o hotel, reservado pela amiga, que com toda a boa vontade, e sabendo das dificuldades de outrora, fez a reserva num hotel bem barato, mas que era tipo um albergue: muitos quartos em cada andar, com um banheiro coletivo, no final do corredor. Triste escolha, pois apesar de estarem instalados num quarto com banheiro privado, este ficava exatamente ao lado do banheiro coletivo, resultado: nada de dormir com as idas e vindas dos demais hóspedes à casa de banho, sem contar com os gritos de “amor” do casal homossexual que estava no quarto ao lado. Final: uma péssima noite e um mau humor insuportável no dia seguinte, compensado, entretanto, pelo passeio em Roma, com direito a subida nas escadarias da Piazza di Espagna (pensa que é assim), Piazza Navona, Campi de Fiori, dentre outros, e finalmente, a “Via Appia”, para onde foram quando encontraram um hotel familiar, pequenino, mas com quartos decentes, com um único defeito: os donos não pareciam gostar que os hóspedes tomassem muitos banhos, tanto que desligaram, diversas vezes, o aquecedor, fazendo com que, ela e o marido, acostumados a banhos em várias horas do dia, tomassem banho frio na madrugada fria.
Sim, o filme fez com que ela divagasse, voltasse àquele tempo que nunca mais voltará, poderá, o que certamente ocorrerá dentro em breve, voltar à Roma, mas não será nunca a mesma coisa, até porque, o companheiro da época já não é tão companheiro assim para fazer uma viagem a dois. Hoje, certamente, não aceitaria uma intrusa, por mais amiga que fosse no quarto do casal.
Volta ao filme exatamente no momento em que a atriz conhece o espanhol. Puta que pariu! O homem é mesmo a sensualidade em pessoa, o olhar, o corpo, as mãos, a boca, o riso safado. Tudo nele lembra-lhe alguém que há muito desapareceu, até mesmo a nacionalidade. E pergunta-se, porque a Penélope Cruz esperou tanto? E ela lembra que viu um filme há séculos atrás com os dois, o nome do filme era “Jámon, Jámon”, ela era bem menina ainda, mas ele, embora mais jovem, tinha a mesma sensualidade atual.
Vai se interessando pelo filme mesmo, a vontade de ver os dois protagonistas juntos lhe deixava excitada. Ficava imaginando como seria a cena de amor entre os dois, os olhos deles faiscavam quando se encontravam, mas ela tinha medo e a coisa ia sendo adiada, até que finalmente acontece, uma cena maravilhosa.
Todavia o filme não acaba aí, e a estória dos dois se prolonga, e ela vê a cena em que a mulher vai até uma curandeira para dizer que está com medo, que ela fez tanto amor que esta com algum problema vaginal, está ardendo. Neste exato momento a ficha cai, e ela sai dali e volta no tempo. Lembra que depois de muito tempo sem ter um homem, finalmente conhece alguém com quem vale a pena ter, ao menos, uma “relação sexual” e ela vai em frente.  Se sente linda, pois já estava entregando os pontos, pensava que ninguém mais olharia para ela, que ela jamais despertaria o desejo ou a atenção de alguém. Ledo Engano! Ela não só despertara a atenção como o desejo, talvez o seu próprio refletido no outro, mas a coisa andou bem. Demorou um pouco para que ela aceitasse o fato de que precisava ir para a cama com alguém, ela estava assustada e com medo, afinal já se passara muitos anos e ela achava que não saberia se comportar diante de outro homem: perdera a naturalidade nos atos.
O fato é que o desejo demonstrado pelo “senhor - rapaz”, que era mais novo que ela, lhe contagiou, e ela se viu andando de mãos dadas pelas ruas, sendo beijada em lugares públicos, embora não gostasse muito disto, tendo o seu corpo acariciado furtivamente, os cabelos cheirados. Era mesmo uma grande e agradável novidade. Sentir o tesão de um homem ao dançar é um dos melhores momentos para uma mulher, isto quando ela tem algum envolvimento com o par, pois não é com qualquer um que a pessoa pode se dar a este direito, mas com ele não, ele era diferente, ela bem o sabia.
O tesão dele teve que aguardar um pouco, o dela também, afinal não podia ser assim, tudo tão rápido. E a coisa foi crescendo, agora até uma pegada na mão já era motivo para um arrepio, o beijo molhado, sua língua sendo sugada deixavam-na completamente alucinada e ela sabia que não podia demorar mais. E aconteceu, num daqueles dias despretensiosos em que se acha que nada vai acontecer, depois de algumas visitas às Igrejas famosas, de um belo almoço, de uns copos a mais e de uma dançada no “privado” e, sem muitas palavras, ela foi para a casa dele, era como se aquilo fosse a coisa mais natural possível, e foi efetivamente: o que não foi nada natural foi o seu sangramento, dir-se-ia que ela era virgem, caso não soubesse o parceiro da existência de filhos. Pois não é que sangrou mesmo! E não só, também ficou incomodada por alguns dias; não que o cidadão fosse grosseiro ou avantajado, ou qualquer coisa, o problema era ela, que  se deixou atrofiar, achando que com isto poderia estar se preservando, se guardando não sabe bem para que.
É, mas o sangramento parou, as dores desapareceram e o amor foi feito, muitas vezes, em um lugar do mundo, que não precisa ser definido, apenas lembrado por quem interessa.  Não conseguiu nenhum Javier Barden, mas teve o seu “Adônis”, perfeito exemplar da sensualidade num corpo musculado de menino-homem. E salve a bebida, a oração, a comida (em todas as suas variantes) e ao amor.  Vivas à liberdade!!!!

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Inspire, Expire, Relaxe!


Deitada de bruços sentia as mãos vigorosas da massagista (terapeuta) no seu quadril, ouvia a voz lhe dizendo: “inspire pelo nariz e expire pela boca”.  Tentava fazer o que a voz ordenava, mas era difícil, até porque a sua respiração, muito peculiar a si, não obedecia ao comando de voz, e sim ao seu próprio ritmo, que fora determinado de há muito, quando ainda menina, percebera que tinha dificuldades respiratórias, nada que lhe causasse grandes estragos, mas adaptara-se ao movimento quase inverso, inspirar pela boca e expirar também por ela, ou pelo nariz.  O corpo procurando as suas particularidades, muito presentes na atualidade, pois o seu nariz insiste em fazê-la nasal todas as manhãs, ou então, ao longo do dia, confrontado com cheiros fortes, ou com alguma mudança de temperatura.   
A voz continuava, principalmente quando as mãos encontravam algum ponto de tensão. Aguentar a pressão delas nesses pontos ficava quase insuportável.  Tentava inspirar e expirar, mas o velho nariz não obedecia ao seu comando, estava muito acostumado ao ritmo que impusera à sua dona.
Braços! Agora era nos braços que se concentrava toda a força da pessoa que estava realizando a massagem. Ela já começava a achar que aquilo era um sadomasoquismo da sua parte.  Então pagava para sentir tantas e tantas dores? Para alguém ativar os seus pontos de tensão? Estava mesmo louca, somente um insano se permitiria isto, embora no seu consciente soubesse que, mais tarde, o alivio seria imenso, mas, enquanto realização do processo, era tudo uma sessão de tortura.
Tentava, e tentava muito, inspirar e respirar como lhe ordenavam, mas era praticamente impossível.  Tentava se concentrar no que estava fazendo, mas os pensamentos voavam, não estava ali:  viajava, retornava para viajar outra vez, mergulhar nos seus pensamentos, nos seus desejos, nos seus sonhos, de onde só retornava quando uma pressão em um ponto de tensão lhe trazia à realidade do que estava, de fato, acontecendo.
A pessoa que lhe massageava, aliás, isto acontece com quase todos os profissionais da área, parecia ter mãos muito pesadas, o dobro do seu próprio corpo. Ela ficava sempre impressionada com isto. As mãos ágeis pressionavam a sua coluna, todas as vertebras eram pressionadas: os omoplatas, ah estes omoplatas!  Quanta dor! Ela aguentava firme, mas em alguns momentos não conseguia conter um gemido e a voz continuava: “inspire pelo nariz e solte pela boca”.
De repente o ventilador de teto começa a fazer uma zoada diferente, faz um barulho esquisito e ela se transporta de uma vez, sai dali, agora ela está em um espaço que não identifica muito bem, mas sabe que, se ali não esteve, viu a situação em algum filme:  Camboja? Egito? Cuba?  Não, não vai identificar. Tem consciência plena de que aquilo não é criação da sua cabeça, que toda a cena existiu mesmo.  Um homem deitado num quarto feio, com paredes encardidas. A cama, com uma cabeceira desgastada, parecia suja e desconfortável. Ao lado da cama uma espécie de cômoda com uma bacia em cima, uma água suja, uma saboneteira com um pedaço gasto de sabão, uma mesa e uma cadeira completavam o mobiliário do quarto. O homem, meio reclinadona cama, fumava um cigarro e olhava a fumaça fazer espiral pelo ar, seus olhos seguiam atentamente as espirais até o seu desfazimento no ar.  Pendurado no telhado, um ventilador de teto com um ruído ensurdecedor girava  e fazia circular um ar quente.  O homem parecia estar acostumado com o ambiente, parecia fazer parte dele, o calor parecia não incomodá-lo. Recostado na cama, vestido de    camisa, que um dia foi branca, de mangas curtas, calça branca de linho e um cinto marrom, que parecia apertar-lhe a cintura, continuava a olhar as espirais de fumaça se desfazendo no ar, ajudando a poluir aquele ambiente.
“Relaxe, solte: inspire pelo nariz, expire pela boca”. O comando lhe tirou do devaneio, agora eram as pernas o objeto das mãos ávidas da massagista, ela sentia toda a pressão nos gomos formados pela celulite. A massagem não era para isto, mas era inevitável não perceber a existência deles.  “Não controle o movimento, deixe que eu conduza”.  Parecia muito fácil seguir a orientação da terapeuta, mas na prática não era assim.  Não gostava que ninguém ou nada controlasse os seus movimentos. Isto lhe fazia sentir-se fraca, mas então ela se entregaria assim a alguém que podia, até, lhe controlar os movimentos? Efetivamente não gostava da situação. mãos lhe pegando, quase maltratando-lhe, coisa que ela, efetivamente, abominava. Quanto pior quando um estranho é que se arvorava a fazer isto.
Tenta se concentrar, afinal fora parar ali por livre e espontânea vontade, ninguém lhe forçara a nada. Era uma tentativa de, desfazendo tensões do corpo, garantir um pouco de paz, se não duradoura, mas momentânea. Aliviar o peso das suas culpas, dos seus recalques, das suas raivas, tudo acumulado em algumas regiões do corpo: nela, especialmente, nos ombros.
O ventilador continua fazendo barulho e, aí uma vez, ela volta à cena anterior.  Um quarto sem janela, com paredes encardidas, e uma porta pequena de madeira velha com frestas que tiravam toda e qualquer privacidade. Divagava legal mesmo: então conseguia ver até isto!  Olhos que sorrateiramente tentavam espiar por entre as frestas da porta, o que parecia não incomodar ao homem deitado na cama. Nota um relógio com um grande marcador no braço direito do cidadão.  Percebe o rosto dele, o homem é bonito, tem um nariz finíssimo que se integra, perfeitamente, na sua fisionomia.  Os olhos fundos, com olheiras pretas, não conseguem lhe tirar a beleza. Tudo em preto e branco, não há cores na cena. Mesmo as paredes encardidas estão neste contexto bicolor.
“Vire de frente”. Novamente a cena se desfaz e ela volta para a massagem. Durante todo o tempo tenta ficar de olhos fechados, pensa que é mais fácil se concentrar e, também, deixar o profissional mais a vontade.  Novamente os seus pés são trabalhados. Ela sente dor, puxa o pé, que está firmemente preso nas mãos da profissional, que em nada alivia a pressão. “Sádica, pensa ela: que será que ela sente fazendo este estrago nas pessoas?"
“Tá maluca! Você que é masoquista: foi você quem procurou isto. A mulher só está fazendo o seu trabalho, ela não tem nada de torturadora, portanto...”
Sorri interiormente, percebe como é difícil concentrar-se, sabe que se o fizesse os resultados seriam bem melhores.
De repente sente que a mulher está sentada atrás da sua cabeça. Agora ela está concentrada nesta parte do seu corpo.  A cabeça gira para um lado e para outro, a mulher sente que ela não está relaxada e pede que ela se entregue, deixe a cabeça relaxada. Difícil, extremamente difícil, mas ela tenta, no entanto, o pensamento agora está centrado ali, mas não no que se passa pelo seu corpo, e sim no da mulher: “como será que ela está agora? Em que posição está sentada? Ela não tem cheiro, graças a Deus, porque seria muito ruim se ela não fosse limpa, pois se estivesse sentada de pernas cruzadas acima da sua cabeça e tivesse cheiro, ia ser uma merda”.
“´E mulher, você efetivamente tá doida!” pensa.
Percebe que não ouve mais o ventilador, abre os olhos e nota que ele fora desligado. Não viu a hora que a mulher fizera isto e toma consciência que, realmente, se afastou dali, tanto que não viu a movimentação dela para desligar o ventilador.
A massagem está no seu final, depois de muitos apertos em sua cabeça, na testa, de puxamento dos seus cabelos, ela fica ali, estendida no chão coberto por uma colcha grossa, braços e pernas estão leves, ela respira melhor, mas tem de levantar, e é o que faz obedecendo ao comando da voz: “Vire-se de lado e levante vagarosamente”. É o que faz. Levanta-se, agradece, paga, e sai do espaço. Está mais leve, com certeza, entretanto vem pensando no caminho para a casa:  “será que isto vai dar algum resultado efetivo? Será que vou ficar mais tranquila?”
Bom, agora é esperar, o primeiro passo foi dado.