terça-feira, 31 de maio de 2011

Cá onde vivo em Portugal


Chama-se Carnaxide, nome estranho, mas muito interessante, porque fica mesmo imponente você dizer que mora em Carnaxide, no Conselho de Oeiras. Alguns acreditam que o nome tem origem no arabe "carna +axide" e significa terra vermelha, outros dizem que tem origem no celta e signfica pedra soltas. Fico com a segunda, porque efetivamente, apesar de ter barro vermelho, ha mesmo muitas pedras na serra de Carnaxide. É a terceira frequesia mais antiga do país.

Carnaxide fica entre Lisboa e Cascais, se você for pela A-5, mas não tenha qualquer preocupação, porque você pode chegar à Carnaxide por diversos caminhos. Eu chego sempre pela A-5, ou ainda por Algés, Linda-a- Velha. Se resolver ir pela A-5  tome o “autocarro” na Marques de Pombal; pegue a” 13” ou a “7” e siga  olhando a beleza do Parque Eduardo VII, as Amoreiras, a própria estrada, em que você pode, em algumas passagens, ver o Tejo, a Ponte 25 de abril, o aqueduto e tantos outros monumentos e lugares lindos, como sói acontecer nesta bela cidade que é Lisboa e seus conselhos adjacentes. Um detalhe; aqui estes carros que vem para estas bandas são chamados de camionetas, e é por isso que, ao invés de usar o artigo masculino, usa-se o feminino, perceberam? 

Se for de taxi, a maneira mais rápida de chegar a Carnaxide, isto é; dependendo do horário, vá pela A-5, se gasta, apenas, 10 minutos, ou até menos, dependendo do trânsito e do “fogareiro”, taxistas, nome mais engraçado para designá-los.

Se for por Algés vocês tem opções: podem pegar o elétrico na Praça da Figueira, ou em qualquer ponto do percurso, que passa por uma boa parte do centro de Lisboa, e você vai adorar, porque vai passar por bares, museus, tudo margeando o Tejo, é sensacional, vai chegar a Alcântara, Belém, vai avistar o monumento dos descobrimentos, a torre de Belém, os Jerônimos, a famosa pastelaria dos não menos famosos pastéis de Belém, enfim, vai ver coisas maravilhosas, e  vai chegar a Algés, onde você vai sair e pegar ou a “114” ou a “1” ou a “2”. Se você preferir,pode chegar a Algés de Comboio, pegue o comboio para Cascais, Oeiras ou São Pedro do Estoril e saia em Alges, vai dar no mesmo terminal.

Bom, os ônibus fazem diversos percursos, prefiro a 1, porque ela vai pelo Juncal e ai você pode bem ver o Tejo, resplandecente. Vai subindo as ladeiras e vai olhando ele se aproximar, sumir, reaparecer mais longe, em qualquer momento lindo, maravilhosos. Eu adoro e, se um dia morar definitivamente em Lisboa, este caminho poderá ser um endereço.

Bem, mas o que queria mesmo era falar de Carnaxide, do lugar em que vivo na companhia da minha amiga Vera, que há sete anos me recebeu de braços e sorriso abertos na intimidade da sua casa, uma típica casa portuguesa, com certeza, ao menos muito cheia de coisas antigas, muitos livros, e pouco espaço para a circulação, mas adorável. Da janela do meu quarto posso ver o Tejo, bem verdade que limitadamente, mas é o Tejo e a paz que a sua visão me dá.

A Vera mudou o meu quarto, agora ela me deu uma cama de casal e pintou uma parede de verde, a minha cor. Agradeço tanta gentileza e vontade de me agradar, eu é que não sei se agrado muito a ninguém, tenho uma maneira de ser diferente, não sei dar carinho e não sei recebê-lo muito bem, não gosto que me toquem, sou estranha neste particular, mas recebo muito das pessoas que me querem bem, a exemplo desta baixinha de quem aprendi a gostar e que é um grande guarda costa para mim em Portugal, guarda-costas mesmo, apesar do tamanho; embora seja melhor chamá-la anjo da guarda.

Carnaxide tem duas partes: a parte Velha e a parte nova, a parte nova foi planeada, é assim que eles falam, e, portanto, é mesmo toda arborizada, com ruas largas edifícios modernos, espaços definidos; a casa da Vera fica num destes espaços. Fico mesmo num lugar privilegiado, porque se vejo o Tejo da varanda do meu quarto e da sala, também vejo a serra de Carnaxide, que fica atrás do nosso prédio; esta merece um comentário à parte.

Carnaxide velha me lembra a Espanha, as suas aldeias. Há casas muito parecidas com a da minha família em Touron, Caldelas, Pontevedra- Galicia-Espanha. Gosto de andar pelas ruinhas, ver os becos tradicionais, as casinhas baixinhas com duas janelas, como se fossem dois olhos sempre ocultados pelas cortininhas rendadas, que muitas vezes ocultam olhos bem abertos e atentos às vidas alheias, uma pequena porta entre as janelas. Paredes normalmente pintadas de brancos e enfeitadas com pequenas floreiras embaixo das janelas.

Ando muito em Carnaxide velha, porque nas minhas caminhadas passo por muitos lugares, vejo “castelos”, casas imensas, igrejas, cemitério, enfim conheço Carnaxide, que é auto-suficiente. Têm inúmeras agências bancárias, multibancos em todos os lugares, escolas, comércio, mercados, tantos os sofisticados, como os pequenos e o popular, onde você pode comer comprar peixe fresco, frutas, verduras, “favas” folhas diversas, aqui há uma profusão delas, imagine que aqui se come “grelos”. Restaurantes, bares, cafés, igrejas, bibliotecas, centros culturais. Há uma parte industrial em Carnaxide, que sedia, inclusive, uma parte, acho eu, de uma emissora de televisão, que não sei qual é, talvez a SIC.

Carnaxide confronta-se com Queijas, e é logo no começo deste outro Conselho, quando você acaba de atravessar uma ponte, daquelas que você se sente em um passado bem remoto, você já esta lá e no Santuário de Nossa Senhora da Conceição da Rocha, aonde vou sempre procurar a força que esta senhora pode me dar, afinal, ela é rocha e eu, como pedra que sou, posso crescer com a sua força, e quem sabe um dia, me tornar uma rocha poderosa, verde, claro, mas não um verde desmaiado, um verde forte, transparente, como convém a uma esmeralda, uma preciosa pedra verde.

Vou até o Santuário sempre que faço a caminhada para os lados de Queijas, e ainda que não faça, mesmo descendo a serrra de Carnaxide prolongo o caminho para adquirir esta força. Atrás da Igreja há um jardim, posso dizer assim: é privado, está fechado, mas há acessos e eu entro e fico ali por algum tempo, olhando o rio que passa naquele local, um rio com águas claras, rasas, nunca o vi cheio, e espero mesmo que não, porque se ele encher mesmo vai alagar as casas que ficam na sua margem de não só, vai causar estragos. Sento no banco do jardim e vejo a água correr e o tempo com ela, nunca é igual, e por ela, e por causa dela, o caudal do rio vai se modificando.

Bem, mas ando muito mesmo é pela Serra de Carnaxide, e aí meu amigo, é que você pode ver a diversidade, a beleza, a paz. Fico emocionada tanto subindo como descendo a serra, embora ali já tenham me perguntado “se eu estava a trabalho”, porque lá em cima, no topo da serra, ainda há o comércio do corpo, talvez dos piores corpos do país, pois as vendedoras são velhas comerciantes deste ramo de atividade, que praticam o seu comércio até mesmo ao ar livre, utilizando-se de panos com que cobrem o local onde praticam o seu ofício no próprio mato que as protegem dos olhos curiosos dos transeuntes, que não são muitos. Pois não é que fui confundida com uma delas. Me retei um pouco, mas depois isto me fez rir muito, não só pelo ridículo da própria situação, mas porque entendi que também eu estou “velha” e com ares de comerciante do corpo.

Mas, este é um caso a parte, porque o que quero mostrar, não sei se consigo com palavras, é a beleza da serra. Na subida, você ainda não está acostumado e se cansa um pouco, quando o corpo equilibra a energia, o desgaste da subida, vire para a direta e olhe: o TEJO começa a ser vislumbrado e vai crescendo diante de você cada vez que você alcança um ponto mais alto da serra, é realmente lindo! Gosto, gosto mesmo, me emociono, choro, peço a Deus ajuda, mas sigo adiante porque tenho de ir e voltar. Passo por inúmeras mansões e pelos seus jardins; vejo rosas que querem ganhar a liberdade e atravessam as cercas para mostrar a sua beleza ao exterior, dessas posso arriscar a tirar uma foto, não vão me acusar de invasão de privacidade. Jardins lindos em casas hermeticamente fechadas como diria a minha amiga Malena, as únicas demonstrações de vida nessas casas, são os cães e as flores.

Do alto vislumbro uma boa parte da serra e vejo todas as torres que compuseram, um dia, o que foi ali o aqueduto das águas livres, que levava água para estas paragens: vejam a construção, me sinto dentro da história, participando dela.
Tenho que começar a descer, e venho pelo lado contrário pelo qual subi, e lá está o Tejo, agora já não preciso virar-me para olhá-lo ele esta na minha frente. O azul dele, em alguns momentos, se confunde com o do céu, mas não posso ficar olhando somente para o Tejo, há muito que se ver na serra, a diversidade ali é gritante; vejo pinheiros, árvores de natal frondosas e perenes, não temporárias como no Brasil, que só aparecem no Natal, tem espécies várias. As flores, ah essas são mesmo extraordinárias! Rendas brancas, rosas, lilases, vermelhas, amarelas, é realmente emocionante. De repente uma grande e inebriante surpresa. CACTOS – cactos grandes cheios de espinhos, mas que dão flores, nunca tinha reparado isto, e faço ilações, às vezes a aparência pode esconder uma beleza interior linda e a gente não dá por isso, mas a natureza se encarrega de mostra-nos e alertar-nos para isto, fico mais humana, acho eu. Vou olhando tudo, observando tudo, esvaziando o corpo das toxinas e emprenhando a alma de energia positiva. Muitas vezes a emoção não agüenta e sinto as lágrimas rolarem, não me importo, este choro é de felicidade, é agradecimento a Deus por mo permitir participar de tanta beleza

Chego ao sopé, ainda tenho um pouco de resistência, e decido que vou até a Igreja da Nossa Senhora da Conceição da Rocha complementar a energização, se é que ainda é necessário, e passo pelo castelo de Marvão, não um castelo com as características de um grande castelo, mas é uma construção imponente.  queria conhecer os donos só para passar da entrada, deve ser lindo, é imponente o muro, uma fortaleza.

Passo novamente pela parte velha de Carnaxide; vejo a Igreja de São Romão de Carnaxide, o chafariz, subo por uma ruinha tipicamente portuguesa, estreita com casas que ainda conservam a antiguidade, dentro e fora, com sorte posso ver uma senhora toda de preto, cabelos grisalhos a falar muito e gesticular sem que se faça entender, pelo menos por mim.

Sigo, passo por um dos inúmeros túneis feitos nos prédios para dar passagem aos transeuntes de um lado para outro, portugueses são mestres nestes túneis, agora já não mais com arcos, agora, mais modernos, tem uma forma quadrada, mas a tradição continua: cortar caminho. As escadinhas também, são utilizadas em profusão, um outro recurso. Há várias por toda Lisboa e por toda a Carnaxide,passo por muitas delas.

Alcanço outro lado, outra rua, a que já vai dar na rua onde moro, passo pelo “talho” onde compro carne e onde uma vez o senhor que me atendia falou-me sobre o meu desparecimento dos “bailes”, fiquei bem intrigada, porque não me lembrava, de maneira alguma, dele; depois, com um pouco de esforço, lembrei que ele tocava numa das bandas que animavam os bailes da Ribeira, aos sábados e domingos. Fiquei entusiasmada, pois o cantor, a atração, era quem me reconhecia, eu, uma das participantes da festa, uma entre, verdadeiramente, 300 pessoas, mais ou menos. Porra! Pensei: devo mesmo ser diferente e “gostosona”. Pois é, aqui é assim, as profissões se fundem e um “talheiro”, deve ser assim, pois quem trabalha em um talho só pode ser talheiro, pode, a qualquer momento, virar um vocalista, o antigo crooner de orquestra.

Continuo a andar e passo pelo sapateiro, que tem uma barraquinha na rua: e aí outra surpresa, pois não é que o homem me chama de “menina” e me diz a mesma coisa, ”a menina esta sumida” olho curiosa para ele e pergunto por que ele diz isso, e ele me fala, nunca mais vi a “menina” no baile, dou risada e vou embora, não vale a pena, sequer, dizer mais nada.

Passo pela frente da escola, viro a esquerda, me lembro que tenho de comprar algo no “seu Miguel” o mercado tem nome, mas eu lembro mesmo é do nome dos donos, Dona Fátima e o Sr Miguel, um mercado que têm tudo nos seus mínimos metros quadrados: compro peras, uvas, frutos secos e diospiro, desta vez é só isto, porque ali posso comprar do uísque e vinho a papel higiênico e produtos de limpeza, tudo enfim: bacalhau do bom, peixes congelados, pão, enchidos, queijos, água das pedras com sabor limão, a melhor de todas as águas gaseificadas de Portugal.

Bom, apresentei-vos Carnaxide e um pouco da sua diversidade. Tem muito mais a mostrar. Se um dia vierem a Portugal e se tiverem tempo, passem aqui, pois, como já disse antes: Portugal não é só Lisboa, Belém, Cascais, Porto, Coimbra, é tudo isto, e muito mais.




sábado, 28 de maio de 2011

Anônimo

O que significa anônimo? Anônimo – sem nome- do   grego “a” sem + “onoma” nome

Hoje em dia, nas telecomunicações – aquele que quer manter uma identidade escondida de terceiros.

Alguém que, deliberadamente esconde a sua identidade.

Um sem- vergonha, safado, mentiroso, aquele que não tem coragem, tem vergonha da sua própria condição, da sua incapacidade, da sua não coragem.

Para mim, anônimo, na perspectiva que estou analisando, é sinônimo de “covarde”. Covardia significa ter medo de: a) tomar alguma atitude que pode ter reflexos em si mesmo; b) não opinar para não ter o desprazer ou a obrigação de se justificar; c) não ter razão, mas, ainda assim, mesmo sabendo que não a tem, até pelo próprio desconhecimento do assunto, fazer críticas; d) esconder-se atrás da própria insignificância, porque o anonimato é “útil” para aqueles que significam, e sabe que são “ nada”, uma coisa que não tem valor, um “não ser”, e “um não estar”, que nunca vai conseguir “ser”, é um “não ontológico”; ontologia para quem não sabe, trato do que é, do ser, portanto, o anônimo jamais participará da existência. O ser é, está presente, se mostra não se esconde através de “um não ser”, um “nihil” (esta eu deixo para o anônimo descobrir, se capacidade tiver para saber o que é; o que duvido, pois quem não existe não pode mesmo saber “nada”

Os “anônimos”, que são covardes por natureza, até podem tentar mostrar-se, minimamente “inteligentes”, ou melhor, pensam que estão demonstrando cultura e inteligência, mas como atribuir tais capacidades para quem “não é”? Por isso mesmo, por ser desprovido da capacidade de discernimento e desprovido de uma parte do cérebro, aquela que guarda a massa encefálica, aquela responsável pelo se ser o que “se é”, não pode ser.

O cérebro de um anônimo, um “não ser”, certamente igual ao que um dia, quiseram “aqueles que eram” ou pensavam que” assim o eram, superiores, é primitivo; Brocca, Lombroso, Beccaria, este último, apesar de considerar a inferioridade, teve o êxito de “humanizar” o tratamento aos delinqüentes, aqueles que eram considerados assim pelos caracteres físicos, mui principalmente a forma da caixa craniana.

A primitividade poderia ser levada em consideração no julgamento dos “criminososos”, aqueles que o eram pela própria “selvageria” pelo meio em que viviam, por comportar-se de acordo com os seus próprios costumes, e, por isso mesmo, porque diante deles, não poderiam considerar a natureza criminosa dos seus atos, porque o ato era comum aos de sua  “raça”.

Esses ilustres homens acima citados não eram covardes, não tiveram medo de expor as suas idéias, combatidas na época, e até certo ponto aceites, mas, a exemplo de Lombroso, admitiram os erros das suas teorias e, corajosamente, tornaram isto público. Infelizmente, nem todos agem ou agiram assim, alguns, e isto falo da atualidade, tem medo e vergonha dos seus próprios argumentos, são ilógicos por excelência, e, por isso mesmo, são “incapazes de discernir”, de entender, de “assimilar”, qualquer tipo de conhecimento que outro traga e que irremediavelmente contrarie os seus, historicamente comprovado, até por documentos por os da sua própria “raça” produzidos.

Não sabem, e como não sabem, apesar de Sócrates, não o português, porque este não vale a máxima socrática do “só sei que nada sei”, porque ele, muito mais tendente para o “sofismo”, “sabe” de inverdades que são tidas como verdadeiras e servem de pressuposto de “validação” de uma grande “verdade” sofistica, criticam os que tem, minimamente, conhecimento de alguns assuntos, não de ouvir falar, mas porque para isto estudaram e se dedicaram anos a fio.

Porra! Não sei mesmo se um anônimo deve valer tanto, para que tanta coisa para dizer a um não ser que ele se convença que “não é”? Para que justificar a existência do que não existe? Que grande “merda” esta minha perda de tempo em discutir o “não ser”, o “não saber” o “não estar”. Sim, porque aquele que não é não pode ocupar qualquer espaço.

Bom, mas “eu sou” e “estou”, e procuro desesperadamente saber, tanto quanto posso, e por isso chego a incomodar até mesmo “um não ser”, que pelo desconhecimento de tudo, da história, não aquela inventada para cobrir de méritos atitudes insólitas, duras, racistas, desiguladoras, atrás de um princípio, ele mesmo criado para justificar todos os atos corretos, ou não, que foi nominado como o da “missão civilizadora”.

Na verdade, o “não ser” até por isso é covarde, tem medo de se saber participante de uma história não muito abonadora, história mostrada pelos próprios documentos produzidos pelos tidos como heróis civilizadores, história poderosa, capaz de alimentar, até hoje, um racismo, “sem vergonha” mostrado até mesmo nos programas sociais de atendimento àqueles que, pela própria história, deveriam ser considerados como cidadãos da “nação” portuguesa, francesa, espanhola, belga, inglesa.

Não se pode, pois, argumentar, discutir, falar, (usem  o verbo que quiserem), com quem “não é”. Com aquele que “não é capaz”, exatamente, por “não ser”, por não ser capaz de “estar” e assim poder entrar no mundo daqueles que “pelo conhecimento” “pelo estudo sistemático”, “pela observação” e aplicação do que “apreende e aprende” e continua aprendendo, porque é “um ser que nada sabe” e, por isso mesmo, procuram encontrar o saber a cada instante, sabendo, perfeitamente, que jamais o alcançara na sua totalidade, até porque é "um ser” que sabe, perfeitamente, das suas limitações e tem discernimento suficiente para “saber” que nada sabe diante da vastidão dos “saberes”.

Este ser que tenta desesperadamente “estar e ser” consegue perceber o que um anônimo que é um “não ser”, jamais perceberá por não ser capaz, e, por isso mesmo, transfere esta incapacidade para o outro que “é”, e que, contrariando as verdades ocidentais, a eugenia, não se tornou incapaz, como tentaram fazê-lo de todas as maneiras, até mesmo o fizeram tutelado, e que por isso mesmo não é reflexo dos “narcisos”. Sobreviveram como eram, resistiram e aí estão; impondo a sua presença incômoda para tantos que “se pensam capazes” e impregnados de pré-conceitos de terem sido derrotados por “selvagens”, “bárbaros” “indígenas” ou qualquer outra designação inferiorizante, embora, “GENTE” como todos os que são capazes de não se esconderem no “anonimato”. Talvez, daqui a uns 70 anos, o anônimo possa “vir a ser”, ou seja; mesmo com toda a covardia em vida, venha a ser idenficado, apenas e tão somente, porque a esta altura as leis vão fazê-lo por si, vão obrigá-lo a entrar, definitivamente, no “mundo do ser”, do “identificado”, “dos corajosos”, “dos que não tem medo”, por uma questão de direito a que se denomina “domínio público” onde o anônimo, mesmo apos a morte (biológica,) entra no “mundo dos vivos”, dos identificados, dos portadores de identidade seja de” cidadão”; seja de “assimilado”, seja de “indígena”: aí saberemos que podem ser “migueis”, “albertos”, “armandos”, “joaquins”, “manuelas”, “marias”, "joãos, enfim; mas que, certamente, envergonhará os seus descendentes, sendo, por isso, melhor que, agora, tenha um lapso de coragem e saia “do anonimato”, da sua insignificância, do “seu não ser”, ou então, permaneça nele, mas sem fazer criticas do que não conhece, do que não sabe, do que não apreendeu e não aprendeu, exatamente por ser um “nihil” .

A quem interessar não possa, peço desculpas. Ah! Tenho de ressalvar que na história existiram anônimos que, apesar do anonimato, contribuíram para que a sociedade, como um todo, seja esta em que nos encontramos hoje, “democrática, liberal, contemporizadora,” que se encaminha para uma possível igualdade dos seus membros, apesar de alguns ainda acharem que são superiores em razão da “cor”, “do poder aquisitivo”, “da eugenia”. Agradeço a coragem, até porque, agora, já não são mais anônimos.





E que Nossa Senhora da Saúde nos proteja, a todos, inclusive os anônimos! 

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Beijo Gelado

Fui andar aqui pela Serra de Carnaxide, por incrível que pareça, ao meio dia, porque antes é impraticável. A esta hora o sol já está mais firme e a gente não sente frio, mesmo que esteja ventando muito. O dia estava lindo e o céu azul disputando com o Tejo o encanto da cor.

Vou subindo a serra, já sinto o peso dos 57 mesmo, parece até brincadeira, a subida me deixa cansada, mas isto até o meio, porque do meio em diante parece que os músculos e as articulações se acostumam e ai não sinto mais nada.

Andar para mim é, e sempre foi, uma grande terapia; penso, recordo, choro, rezo, enfim, faço tudo andando, isto no nível mental, não pensem em coisas erradas, ou ando, ou faço outras coisas no plano físico, mas no espiritual o espírito vagueia mesmo. Viajo, chego, retorno, vou de novo, uma maravilha!

Mas fiz esta introdução toda para chegar onde quero, e do que vou falar agora.

De repente, subindo a serra, que é linda, calma, e de onde vejo o Tejo, mesmo de bem longe, mas numa visão panorâmica maravilhosa,me peguei cantando:

Já não sinto em teus braços,
O mesmo calor,
Já não sinto em teus beijos,
O mesmo sabor,
Tua voz já não tem a mesma ternura,
Teu olhar indiferente me tortura,
Teus carinhos, onde estão os teus carinhos de outrora,
Se já não me queres amor, por favor, me manda embora,
Não, eu não quero viver ao teu lado,
Nem sentir o teu beijo gelado
Destruistes os sonhos meus,
Vai, me deixa sozinho, dá a outro o teu carinho
Sejas feliz, Adeus.

De inicio me surpreendi em lembrar-me de toda a letra; depois, fiquei remoendo o motivo de me lembrar desta música. Onde eu a ouvia? Por que será que eu me lembro dela todinha assim? Será que ela me diz alguma coisa no presente? Será que disse no passado?

Não, não diz nada a mim em especial. A memória não me levou a qualquer fato que me ligasse a esta canção, que se chama Beijo Gelado. O seu autor, olhe que vi isto na internet, porque não ligaria a canção ao nome do compositor ou do cantor de maneira alguma,é Rubens Machado, e o cantor era uma pessoa de nome José Augusto (O cantor Galã), mas depois vi, na mesma internet, que ela já foi regravada por outros nossos cantores: Agnaldo Timotéo, Chrystian e Ralph.

Bom, como a música não me levou a lugar nenhum, muito vagamente a algum serviço de alto-falante em alguma cidade do interior, o que não creio, porque pelo que vi nas informações, o Jose Augusto cantava isto na década de 70, e eu, se bem me lembro, já não morava mais no interior e já não ouvia o alto falante, passei a analisar a letra por ela própria.

Rapaz, não nego não; tem gente para tudo mesmo. Por que será que as pessoas mentem, por que será que elas, ao invés de, por pior que ela seja, dizerem a verdade na cara do outro, principalmente quando se trata de relação amorosa preferem a mentira, o omitir, o enganar? Por que elas fazem o outro sofrer sem qualquer piedade e cabimento. Pensem a dor que é você saber que a pessoa não mais lhe quer, que demonstra isto por todos os poros, mas não lhe deixa e nem assume isto?

Veja quando o autor da letra diz: “sua voz já não tem a mesma ternura, e o seu olhar indiferente me tortura”. Porra! Que dor não é para aquele que esta se sentindo desamado sentir o desprezo do outro até mesmo pela voz; não falo nem dos olhos, porque este são mais difíceis de enganar, os olhos são mesmo espelhos de cada um, somente um grande artista, um grande enganador, um grande cínico consegue enganar com os olhos, mas quando nem com a voz você consegue mais esconder o que lhe vai no íntimo é ruim: Para que insistir? Quanto pior, quando o parceiro sente tudo isto e pergunta o que esta acontecendo, e o outro tem a desfaçatez de dizer : “nada, você está vendo coisas onde elas não existem “.

Pois é amigos, vejam esta letra, analisem as suas palavras, analisem a dor, e vejam se vale a pena enganar alguém tanto. Tome atitudes corajosas, não esperem que o Outro é que, com tanta dor, como demonstrada nesta canção, tome a iniciativa de por fim a um “grande amor”, porque ele continua a amar, tanto que prefere desistir a viver com outrem que demonstra toda a sua indiferença em gestos, palavras, corpo.

Não queira sentir um beijo gelado, nem mesmo em sendo “sorvete”. Beijo só serve quente, porque quando o danado é bem dado, quando todo o corpo treme na hora que os lábios se tocam, na hora em que eles são sugados, na hora que a gente pensa que vai entrar no outro pela boca a dentro, não há como se pensar em coisa gelada, a não ser para baixar o fogo que vai crescendo e esquentando tudo, o que as vezes é necessário. Que saudade !!!!!!!


terça-feira, 10 de maio de 2011

A Procissão de Nossa Senhora da Saúde

Desde que vi a procissão pela primeira vez, tive o idéia de mostrá-la aos que visitam o blog, embora a minha vontade seja que todos aqueles que tivessem fé, acreditassem mesmo, soubessem desta procissão e, junto comigo, conseguissem vivenciá-la, participar dela, ver um pouco da religiosidade do povo português, enfim, uma pequena amostra da vida deles. Alie-se a esta vontade a emoção de ouvir a Amália cantar "Há Festa na Mouraria",que descreve todo o roteiro da procissão.

A deste ano de 2011 aconteceu no dia 08 de maio, domingo, e não foi grandiosa igual às outras duas anteriores, das quais não tenho as fotos, porque se perderam. Desta vez, entretanto, vim prevenida, trouxe a máquina, a bateria carregada, enfim, me programei.

Gosto de ver tudo, dos preparativos até a procissão em si. Gosto de ver os velhos – senhores e senhoras, se encaminhando para o Martim Muniz, onde fica a Igreja de Nossa Senhora da Saúde, a homenageada, eles vem de todos os cantos, principalmente dos arredores da Mouraria, vestem as suas melhores roupas: os homens, na sua grande maioria, de terno; as senhoras, todas bem vestidas, cabelos emplumados, pintadas e com suas jóias, algumas, até mesmo extravagantes, para a ocasião, mas aqui é assim, se se tem a oportunidade, vamos mostrar as posses, até as "rosas marias" do fado da Amália, se compenetram e ficam virtuosas

A grande maioria dos senhores e senhoras faz parte de alguma “congregação”, e olhe que são muitas; cada uma tem uma vestimenta própria, tem uma que a vestimenta é uma capa preta, lembra as capas usadas pelos Inquisidores, mas acho que sou eu que divago e fico fazendo associações, pois tenho certeza que, se o pensamento ainda fosse tão retrógado não aceitariam “pretos” como membros, e havia, ao menos, uma no desfile.

Bom o fato é todos se reúnem no Largo do Martim Muniz, que é previamente fechado ao trânsito, aliás, ao próprio público, que fica atrás das grades que cercam todo o percurso, tanto na Praça quanto no Almirante Reis, o que não é possível ser feito na Rua do Bem Formoso, por onde a procissão começa e faz o cortejo da ida, a volta é que é na outra rua.

A Santa fica esperando, na rua, pelos seus convivas, que não são só os pobres mortais. Ela convida gente do seu círculo: São Jorge, Santo Antônio, São Sebastião, algumas outras madonas amigas, das quais não sei o nome, todos participam do cortejo em seus andores totalmente enfeitados com flores naturais. Cada um deles tem o seu próprio séquito e é carregado pelos seus devotos, que não são, para mim, tão devotos assim, é que a maioria é carregada por militares, que cumprem obrigação, que não é a da fé, e sim de trabalho, porque são convocados para tal, ainda aqui se vê a união dos poderes, Igreja e Forças militares.

Abrindo alas para a procissão começar, uma grande e moção, A Cavalaria: os cavalos brancos lindos, ornamentados, tanto quanto os seus montadores, fardados, com uma calça branca, casaca azul, botas, chapéu com enfeites. Um conjunto lindo. Um equilíbrio perfeito, pois além de dominarem o cavalo, estes cavaleiros tocam alguns instrumentos, abrindo alas mesmo, avisando que a procissão esta começando. No meio destes cavaleiros há um maior, o São Jorge, que vem montando um cavalo, faz parte, ele também, daquela cavalaria. Ele esta com a sua roupa de guerra, com a armadura e segura a sua lança, vai garboso montado, com o seu fiel escudeiro levando o cavalo. O Santo é uma imagem, não é uma pessoa vestida de São Jorge, é o próprio como está representado na Igreja. Fico emocionada com a cena. São Jorge tem traços finos, tem barba, cabelos cheios, me lembra alguém.

Logo atrás desta guarnição, vem a limpeza. Pois que os cavalos não são assim tão perfeitos, tem necessidades e estas não esperam, portanto, como são os abre alas não podem deixar os seus rastros tão pouco educados. A limpeza funciona mesmo e numa grande rapidez. Após a varrição, um outro carro passa desta vez jogando uma flor silvestre, chamada de rosmaninho, que é cheirosa e perfuma a rua. As pessoas disputam os ramos quase aos tapas.

Uma banda militar passa, gosto de ver, fico olhando os pés dos componenetes da banda, entre eles há uma mulher que destoa da uniformidade. Fico encantada com a “maestria” do maestro,um senhor imponente, que vai à frente e que para parar a música, apenas levanta uma varinha que está na sua mão direita, e, de imediato, todos param. A farda dos componentes da banda é azul escuro.

A procissão continua, lá vem uma Santa, não sei quem é o andor está lindo e é carregado por mulheres, alguma feminista, com certeza, que não quer ser carregada por homens, quer mostrar a capacidade dela e de suas congêneres. Ela é a primeira mulher do cortejo.

Congregações passam. Vislumbro um outro andor, lá no começo da Rua do Bem Formoso, quando ele chega mais perto vejo que é Santo Antônio, está lindo. O andor parece pesado, a Imagem é enorme e há muitas flores ornamentado-o. A imagem é levada por militares. Logo atrás do Santo Antonio está o Senhor Presidente da Câmara de Lisboa. Queria eu mesmo saber o que pensa uma “autoridade”, o que ela efetivamente sente, tendo a obrigação de participar da procissão?

O Presidente da Câmara está muito bem arrumado, paletó cinza, gravata, enfim, cumpre, e bem, o seu papel, sorri. Como há uma parada justamente onde eu estou, consigo tirar fotos lindas, tanto do Santo, como do próprio Sr. Presidente, o mesmo homem que, há uns cinco anos atrás, disse que o parlamento não era o "cabaré das coxas" em pleno parlamento. O povo joga flores. Nas sacadas das janelas os panos colocados para enfeitar balançam ao vento, é um grande espetáculo. Vou querer saber o motivo das colchas coloridas, ou não, ficarem penduradas nas janelas, penso na música da Amália e parece que estou vivendo a própria música, pois ela descreve esta procissão. Tento tirar a foto de um casal de negros idosos que estão na sua janela vendo o cortejo, está muito longe, a máquina tem pequeno alcance, mas tento; o homem está, ainda, às 17h00min de pijama, a mulher veste um robe estampado, já adquiriram os hábitos portugueses, como este  de ficar de pijamas durante todo o dia, se estiverem em casa.

Santo Antônio passa e aparece mais uma Santa, penso até que era a Nossa Senhora da Saúde pela quantidade de gente que lhe segue, mas não é, todavia deve ser importante e milagreira, tem muitos seguidores que cantam Ave-Maria. Crianças vestidas de anjos passam; uma Nossa Senhora feia também passa. Alguns pagam promessas, somente duas, acho eu, pois estas pessoas estão descalças. Uma delas é uma anã que tem menos que um metro; tenho quase certeza, mas que tem um namorado de dois. Já os vi muitas vezes juntos nas festas populares. Ela esta sempre dançando em cima de alguma mesa, e ele ali juntinho dela. A promessa deve ser para arrumar um homem à sua altura.

A Rua do Bem Formoso está cheia. Alguém me diz que há muitas “moças” nas janelas. É mesmo verdade, algumas não negam mesmo “a que vieram”. A Rua do Bem Formoso faz a ligação entre o Largo do Martim Muniz e o Intendente, Anjos, etc. Dizem que nesta rua há muita gente que exerce a mais velha profissão do mundo, além de ser freqüentada por traficantes, drogados, desocupados, bêbados, etc. Bom o fato é que hoje é dia da procissão e eu não fico preocupada de ali estar, nem eu nem todos que ali estão, todavia, mesmo assim, dá para notar o que deve acontecer quando a rua volta aos seus dias normais, aos dias em que as "Rosas Marias" deixam de ter virtude.

Um bêbado, junto de mim, deixa cair à chave, ele tenta com o “desolhar” de bêbado pegá-la e quase acompanha o destino da chave, mas, enfim, consegue pegá-la dizendo coisas ininteligíveis. Alguém ralha com ele e lhe toma a chave, é uma senhora de cabelos grisalhos, uma velha portuguesa que não nega ser daquela zona, não consigo perceber se o homem é seu filho ou o seu marido. Se for marido apesar de tá um bocado acabado, inchado pelo álcool, que deve ser uma normalidade na sua vida, é muito novo, mas se for filho dela, e é o que parece, porque mesmo com toda a aparência, ainda se nota que ele é novo, está completamente inútil e acabado para a idade, e, conseqüentemente, para ter uma vida digna e normal. O certo é que lhe tomaram a chave e ele tenta falar alguma coisa, mas as palavras, que estão completamente “encharcadas”, se recusam a sair do charco onde se encontram, o bêbado não consegue articulá-las. Cena deprimente, mas, normal pelos lados do Martim Muniz, e em muitos outros lugares circunvizinhos.

Volto à procissão, vem mais um santo por ali. Ainda não consigo definir qual, mas é um santo homem. Ah! É o “Sebá” – São Sebastião - , a imagem do Santo é triste, ele vem todo espetado com flechas, uma no peito outra na perna, e esta crucificado. O andor esta lindo e carregado pelos militares, não sei de qual corporação.

Atrás de São Sebastião está a banda da GNR – Guarda Nacional Republicana. A música, quero dizer, o som de um instrumento me faz arrepiar, a banda passa, e mesmo ao longe, ainda ouço o instrumento, é extraordinário como um pequeno instrumento daquele tem a capacidade de se fazer notar no meio de tumbadoras, trompetes, e outros. Faz uma marcação maravilhosa, fico mesmo emocionada.

Agora, a homenageada está vindo. A imagem é muito bonita, grande e parece ser pesada. A Santa tem cabelos naturais, mas despenteados. Muitos a seguem; pétalas de rosas são jogadas das janelas, ela passa imponente, um séquito de seguidores.

Agora que penso que a procissão acabou vejo que vem uma espécie de toldo vermelho carregado por militares, olho bem e vejo que são padres que vem ali embaixo, daquele toldo guarnecido por militares, mas uma vez comprovo que as forças se unem, mas vislumbro o poderio da Igreja, afinal, são os padres que estão guardados embaixo daquele toldo, que deve ter um nome importante, mas que eu não quero nem saber, não me interessa! O que interessa é a simbologia daquela representação, que, diga-se de passagem: é ridícula. Todavia, fazer o que?

Entretanto, gosto do cheiro de incenso, que fica no ar com a passagem dos “representantes de Deus” deve ser uma espécie de tóxico que faz com que o poder da força se renda ao poder do espírito, Será?

Pronto, agora só povo, acabou a procissão. Deixo a Rua do Bem Formoso, passo pela frente da Praça Martim Muniz e alcanço a Almirante Reis e fico a esperar o retorno da procissão.
Tudo igual: a mesma seqüência. Vejo as imagens passando, agora mais rapidamente, não vejo mais o Presidente da Câmara; acho que ele já fez o seu papel na ida, portanto, não precisa estar na volta. Os santos passam; tiro mais fotos, de repente o São Sebastião passa, e eu, olho a imagem e digo “cuidado Sebá já lhe machucaram muito”, não sei por que cargas d água digo isto para o Santo! Lógico que intimamente: ainda escondo o estado de "louca" que alguns me atribuem. Sebá continua o seu caminho levado pelos militares. De repente, um alvoroço: alguém grita: “ O Santo caiu”, e pois não é que foi o “Sebá”! Outro diz:”Mau presságio”! Não sei o que aconteceu com a imagem, mas, pela altura da queda, o pobre do “Sebá”, que já tava todo flechado, pregado na cruz, agora tem mais uma “causa mortis”: “queda”! Realmente: ele não tinha mesmo escapatória. O andor deixa o cortejo vazio.

Entretanto, a queda de “Sebá” não impede que os demais santos passem, nem que as bandas parem de tocar, e a procissão segue seu ritmo. Passam alguns negros fardados, sinal de mudança dos tempos, lenta, mas mudança. Descubro, porém, que eles são militares visitantes de São Tomé! As mudanças andam mesmo em passo de tartaruga, quando o assunto é “pretos” aqui em Portugal.

Bom, mas a procissão está mesmo no fim. A Nossa Senhora da Saúde já vai se recolher, voltar para casa, onde vai ficar esperando o “ano” próximo, guardando não só o seu povo da Mouraria, os fadistas e todo o povo de Portugal. Este ano ela tem mais uma obrigação acrescida no seu rol de afazeres: zelar pela saúde dos homens que vão cumprir as metas traçadas pelo FMI, para que o que foi idealizado para os “portugueses” dê certo, caso contrário, não é somente o “Sebá” que vai pagar o pato. Alguém mais vai ter de cair!!!!! 

As colchas ricas são retiradas das janelas, as pétalas das rosas  do chão  já não existem, "as almas grandes e o povo rude" voltam ao  seu quotidiano, que é dar a vida a Mouraria, cantar os seus fados, demonstrar que a letra da música cantada pela Amalia é a realidade desta zona de Lisboa.

sábado, 7 de maio de 2011

Você sabe qual o coletivo de "muriçoca"?

Por que complicar o que é fácil? Vocês lembram-se da lista imensa de coletivos que a gente aprendia, ou ainda aprende, não sei,  se no primário, hoje ensino fundamental? Eu ainda lembro-me de alguns, porque no meu tempo de escola a gente tinha mesmo de decorar aquela imensa lista de coletivos:

Alcatéia - lobos

Manada – bois

Nuvem – gafanhotos

Constelação – de estrelas

Matilha - de cães

Vara – de porco

Tropa - de burros

Cáfila – de camelos

Conclave – de bispos, acho que cardeais para eleger o papa, sei lá.

Digam-me para que porra eu quero saber que uma porção de camelos enfileirados é uma “cáfila”, eu nem vivo no Oriente Médio, não moro no Katar, onde a troca da guarda é feita com os “guardas” montados em camelos. Também não vou ser trocada por uma “cáfila”.

E “Vara”, para que “diabos”eu quero saber que muitos porcos formam uma vara? Grossa, diga-se de passagem, imaginem uma vara feita de porcos! Palavra mais desapropriada para esta coletividade.

Conclave então que desuso! Os papas demoram tanto para morrer, que o coletivo é de uma inocuidade imensa, a tendência é desaparecer.

Bom, mas há um coletivo que abrange todos os outros e a gente não precisa ficar lembrando desses vocábulos criados para exprimir grandes quantidades de coisas iguais: pois é, eu sei de um que me foi ensinado pela minha colaboradora.

Um dia estava eu em casa, acho que vendo alguma coisa na televisão, e a minha colaborada chega á porta da sala e me diz:

- Dona Esmeralda, dentro do quarto lá do fundo tem um cardume de muriçocas:

- Como é que é? Tem um cardume de que?

E ela com toda a propriedade repete:

- Um cardume de muriçocas.

Tentei controlar o riso, não queria que ela percebesse que estava me “pipocando” de rir por dentro por causa daquele coletivo tão bem aplicado, que quando aprendi era equivalente a muitos “peixes” e. também  para não lhe dizer que o coletivo era de peixes e não deveria ser aplicado em relação à muriçocas, que, aliás, de coletivo tinha mesmo só a quantidade e as picadas, pois não aprendi na escola tal coletivo para estas pragas, que incomodam muito, talvez, quem tenha idealizado os coletivos nunca tenha tido contato com estes pernilongos malditos.

Naquele dia recomecei a pensar nos coletivos; descobri que já tinha esquecido um monte deles, e tive de concordar que um “cardume” poderia substituir mesmo todas as grandes coletividades de qualquer coisa. Por que não? Além de tudo ter-se-ia a vantagem de não errar nunca, erraríamos somente uma vez e pronto, o erro viraria um sofisma e passaria a ser uma verdade real aceitável por todos que apenas diriam: vi um cardume de carangueijos, um cardume de “gajas”, enfim com a utilização do vocábulo “cardume” já se estaria dizendo que havia uma grande quantidade, todos entenderiam perfeitamente.

Bom, mas eu tive o privilégio de, em muitas oportunidades, ouvir este coletivo lá em casa. O que eu pensei ser um erro, que eu não saberia consertar, porque nunca soube mesmo, e até hoje não sei, talvez o mais próximo seja “nuvem”, qual o coletivo de muriçoca, passou a ser comum lá em casa, inclusive, eu própria comecei a usá-lo; seja a sério, seja na gozação.

Lá em casa muitos livros era um “cardume” de livro; bolas de natal que ficavam guardadas para a época própria eram referidas assim: -  Tem de comprar mais enfeites para a árvore de natal?

-  Não Dona Esmeralda, tem um cardume de bolas lá no armário.

Fiquei com o “cardume” na cabeça. E quando eu queria mesmo me referir a quantidades e usava esta palavra, vi que algumas pessoas me olhavam diferente, como se eu tivesse falando uma grande barbaridade. Lógico que ninguém se atrevia a consertar o erro, mas imagino quantas vezes não devo ter sido criticada por errar uma coisa tão boba. Afinal uma doutora Juíza não pode cometer um erro deste. Nunca me preocupei com isto e continuei, na gozação, ou não, porque as vezes me atrapalhava mesmo e dizia com muita propriedade, aquela que me foi transmitida por minha colaboradora: vi um cardume de gente na rua hoje, vi um cardume de pássaros, e assim por diante.

De tanto divulgar este fácil coletivo, ganhei adeptos, pois não é que em Lisboa o meu amigo Zé, a quem contei esta estória, me veio com esta: “Tem um cardume de africanos no Martin Muniz”!

Pois é, para quem esqueceu os coletivos dou um conselho: usem “CARDUME” para qualquer coisa em quantidade. É fácil e todo mundo vai entender o que você quer dizer.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Terá sido "psicologia" aplicada?

Assistia aula de Psicologia II, fizeram-na perder da primeira vez que fez a matéria, razão porque teve de repeti-la. Chegava cansada á aula, afinal, tinha trabalhado durante todo o dia, aliás, como todos que ali estavam, pensava ela.

Havia na turma uma mulher muito grande: bem alta, loura “à pulso”: voces sabem como é uma loura “á pulso”, não sabem? O certo é que a loura chegava e logo demonstrava que além de loura “à pulso”, adquiriu todas as grandes vantagens de “ser loura”, como no dito popular. Primeiro tinha grandes dificuldades para entender as coisas, segundo era muito mal educada, terceiro, se achava a gostosona do pedaço, o que lhe autorizava a falar alto, discutir com os professores, humilhar alguns. As notas eram sempre discutidas, talvez por sempre se achar perseguida, porque pensava que as pessoas tinham alguma inveja, ciúme, despeito, coisas assim.

Parecia até brincadeira, pois não estavam numa sala de primário, e sim numa Faculdade, todos faziam a Licenciatura em “História”, numa Universidade Público no interior do Estado.

Pois é, a nossa personagem chegava sempre atrasada, dizia trabalhar muito, é bem possivel, porque com a mente curta todos os encargos pareciam demasiados;certamente! Era vendendora em uma loja de roupas: pense quanta energia cerebral você tem de gastar para exercer este ofício! Atender o cliente; pegar a roupa solicitada; levar cliente até um provador; elogiar falsamente a pobre ou pobre coitado dizendo que a roupa lhe cai bem; marcar, se preciso, um ajuste, uma bainha, enfim, exercer uma atividade intelectual daquelas.

O fato é que ela chegava sempre atrasada. Diziam que ela era filha de um ricaço da cidade, mas que os pais tinham se separado e ela vivia com a mãe, que brigava com o pai, e ela no meio dessa confusão. A verdade, nunca sabida na sua totalidade, que também pouco interessava, era que ela morava num condomínio mais ou menos luxuoso da cidade, mas havia comentários que o pai teria se aborrecido porque ela estava namorando um homem de cor. Coisa que se não entendia bem, porque a loura “à pulso” estava mais para “saruaba” de que para qualquer outra coisa. O cabelo, apesar da cor - lourissíma – ,mostrava, na sua raiz, que de “liso” ele nada tinha, o restante, produto também de técnicas, vide que ela já era loura "à pulso”, era um estirado a “foceps” horrível, (escova progressiva, alongamento, chapinha) um misto de quebrado, seco, cheio, enfim, feio mesmo, mas ela se julgava bonita. Sem dúvida que o conjunto chamava atenção, afinal uma mulher com os cabelos louros desgrenhados, com 1,80m e completamente mal educada, chama atenção de qualquer maneira, quanto pior, quando abria a boca.

Bom, mas ela chegava atrasada e, por isso mesmo, já incomodava. Pedir desculpas ou licença para adentrar a sala, para que? Os professores e os colegas deveriam mesmo era dar graças a Deus pela sua presença. Chegando na sala, puxava duas cadeiras, uma para sentar e a outra para botar os pés. Pensem aí! Já era um absurdo todos os comportamentos, mas isto era mesmo a maior das faltas de educação, de respeito, enfim... Há que se registrar que as cadeiras eram mesmo arrastadas para ficarem na posição perfeita para a “moça”; o que implicava num barulho insuportável, e mais falta de educação.

Não contente com toda esta interrupção, ainda se dava ao luxo de fumar na sala, o que era mesmo um verdadeiro absurdo, permitido não se sabe porque motivo.

Discussão com professores era um banalidade. A protagonista, além de não saber porcaria nenhuma, ainda se dava ao luxo de discutir com os mestres, seja lá qual o motivo que fosse. Como os mestres, alguns deles, não mostravam a que vieram, uns, pobres coitados, meninos de 23 a 24 anos, ainda sem entender bem o que era ser um professor universitário, tinham medo dos alunos, e demonstravam isto no nervosismo, na maneira de abordar os temas, no jeito de se portar diante de um aluno problemático, que confudia problemas pessoais, frustações, ignorância, falta de educação, com “ser politizado”, “reivindicar direitos”, “exercer a cidadania”, ou seja, “ser mal educado” e mostrar toda a ignorância no que pensava saber.

Uma professora coitadinha, uma menina do interior que fora contratada para o ensino de História da América, embora fizesse o mestrado em Minas Gerais, um daqueles mestrados de final de semana em Historia Medieval, por ser muito jovem e por estar sozinha numa cidade pequena, mas quase desconhecida para ela, começou a andar com as alunas após as aulas, frequentando barzinhos da cidade,indona casa de alguns alunos, indo a shoppings,  lojas, etc., enfim, exercendo o seu direito de liberdade. Por isso mesmo, por estar sempre em companhia dos alunos, possivelmente deixou escapar as suas intimidades, problemas com a família, medos, tensões, etc. Um dia, por força de uma nota baixa e por um problema dentro da sala de aulas provocado pela falta de educação doméstica da nossa protagonista, houve uma discussão e a loura “à pulso” vomitou todos os traumas da “professora” em alto e bom som, para que todos ouvissem; e todos os que lá estavam, efetivamente, ouviram. A professora não aguentou e, mostrando toda a sua insegurança, chorou e mandou que a “bem educada aluna” saisse da sala, o que nao foi cumprido, ficando a “loura” a argumentar o inargumentável, a se embalançar no salto, num atitude não só de imenso desrespeito, como de falta de tudo, educação, principio, moral, e, infelizmente: quem saiu da sala aos prantos, e até mesmo amparada por outros alunos, foi a pobre da professora de vinte e poucos anos.

Este foi um dos muitos episódios que aconteceram.

Todavia o “celular” começou a aparecer por aquelas plagas e a nossa loura "à pulso”, claro, com tantos negócios a tratar, precisava de um, e, como toda a pessoa que adora aparecer, andava com o aparelho à mostra, mesmo quando adentrava à sala de aula, atrasada como sempre. Já entrava, muitas vezes, falando no aparelho, bom isto é o que se imagina, porque podia ser, tão somente, uma simulação, apenas para demonstrar as posses; afinal, era muito”chic” ter um celular quando esse começou a circular, isto é; quando todos do povo começaram a ter acesso ao mesmo, porque antes, com certeza, ela não teria como adquirir um.

E o celular protagonizou o maior desrespeito a um professor, que também não merecia o título, pois com o episódio demonstrou toda a sua falta de preparo, e até mesmo, uma falta de educação, ficando empatado com a aluna.

O telefone toca e a aluna,em plena aula de Psicologia II, simplesmente, atende, ali mesmo, na presença de todos. Fala alto, afinal, se alguém esta na linha, seja lá onde o recpetor estiver, tem de ser atendido, e todos que circundam o ouvinte, tem de ouvir a conversa, ainda que seja no meio de uma aula, dentro de uma Universidade, onde presume-se existir pessoas, com o mínimo de conhecimento, para ter a exata noção do que é educação e exercício dos direitos de cidadania.

Uma outra aluna, uma senhora que exercia um função pública na cidade, indignada com a situação, pois que a loura realmente estava incomodando, e para tentar ajudar a professora a sair daquela situação, para ela vexatória, porquanto um aluno lhe faltando com respeito, bem como a todos os outros que ali estavam, atende um telefone e incomoda a todos, diz:

- “Professora, não dá para a senhora parar um pouco?”

A miserável então pergunta – “Por que vou parar?”

A outra responde: - “Porque a nossa colega aqui deve ter um assunto muito importante para tratar neste momento, e nós não podemos incomodar. Assim a senhora, e todos nós, ficamos aguardando que ela acabe o que tem de resolver, porque realmente deve ser um assunto de muita gravidade, caso contrário, certamente, ela não iria interromper uma aula para tratar dele; depois a gente continua”.

A idiota da professora, que diga-se de passagem, também era loura, embora não tão “à pulso” como a outra, responde: - “Ela pode atender quantas vezes quiser, isto não me incomoda”.

Uma ducha fria, para quem queria ajudar um docente a impor-se, a demonstrar a sua autoridade dentro de uma sala de aula, a exercer condignamente o seu mister. Certamente a professora acostumada com a falta de educação dos alunos, preferia não se indispor com eles, quanto pior, com uma aluna problemática quanto aquela, que nunca quis esconder a sua “fama” aliás, muito comentada: “ela não tinha medo de ninguém”, “todos com ela comiam na sua mão”, “ela era retada, não dexava que ninguem se botasse com ela”, enfim, era politizada e sabia colocar as pessoas nos seus devidos lugares, uma vez que sabia dos seus direitos e reivindicava-os daquela maneira.

Sabe-se que esta loura "à pulso” teve um filho. Oxalá alguém o tenha educado por si, pois se esta criança, que hoje já deve ter uns 13 anos, tiver como exemplo a senhora sua mãe, só Deus sabe o que lhe reservará o futuro, pois se há tanto tempo atrás a sua genitora, a pretexto de assegurar os seus direitos, fazia o que fazia com os professores, não será qualquer supresa que ele, ou ela, filho daquela, já tenha agredido, fisicamente, um dos seus educadores, talvez mesmo, a própria genitora, que não aproveitou nada a aula de "psicologia", que pasmem, era  PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO II !!!