terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Arembepe II

Uma das primeiras postagens no blog foi sobre Arembepe. O texto havia sido, anteriormente, publicado na revista eletrônica Patifundio, pelo qual recebi vários comentários, todos elogiavam o texto e a maneira como apresentei Arembepe àqueles que não o conheciam, entretanto, um comentário destoou dos demais. Uma pessoa que não se identificou, apenas colocou o seu pseudônimo “Édipo rei...”. Respondi através do próprio site, mas não sei se ao Édipo, ou ao rei, qualquer dos dois possui uma carga negativa, ambos representam dois complexos, leu e recomendou que eu fizesse pesquisa sobre Arembepe, porque falei coisas que não condizem com a realidade, mas isto não importa, porque vou novamente falar de Arembepe, agora com documentação, mostrando toda a beleza e originalidade desta vila de pescadores, agora já não tão “pescadora” assim.

Primeiro devo dizer que Arembepe em tupy-guarani, segundo Jasson Winck significa – “Aquilo que nos acolhe”. Se assim é, realmente não se podia encontrar nome mais significativo para este recanto do Litoral Norte do Estado da Bahia. Os braços de Arembepe já acolheram muitas pessoas, pessoas que aqui chegaram por diversos motivos, umas para simplesmente “serem livres” como aqueles que vieram habitar a Aldeia Hippie, visitada por tantos artistas que fizeram a sua fama, Janis Joplin, Mick Jagger, Jimmy Hendrix; outros que vieram pela aldeia e depois aqui se fixaram como negociantes prósperos – João e Thierry do MAR ABERTO – O Oásis de Arembepe. Outros que vieram morar aqui e depois viraram políticos como o meu amigo José Cupertino, e muitas outras pessoas, ultimamente, a Claudia, a italiana que é a minha mestra em Yoga. Muitas e muitas outras, como eu, vieram para veranear e foram ficando, ficando, ficando.

Eu já tenho, minimamente, 26 anos por estas plagas. Primeiro morei na Caraúna, depois, quando as coisas melhoraram e eu passei em um concurso publico, fui morar como sempre quis, em frente ao mar, no Piruí, uma pena que não consegui comprar aquela casa, depois, e por último, fiz a minha bela casa, onde resido oficialmente.

Pois é, por tudo isto tenho autoridade suficiente para escrever em, de, e sobre Arembepe, mostrá-lo ao mundo, convidar as pessoas para aqui se refugiarem. Sei que todos vão adorar, embora já não se tenha mais a tranqüilidade de outrora e com os problemas das cidades em crescimento, falta de água, de saneamento básico, escolas, mas aqui ainda se pode num final de tarde caminhar pela praia, seja indo para o lado da aldeia, seja para o lado do Piruí, melhor ainda se a maré estiver baixa, como esta que aparece na foto.

Caminhe pela praia e depois vá tomar uma cerveja gelada em qualquer dos bares. Se estiver mais para o fim da tarde, recomendo o Bar da irmã de Babi, a cerveja esta sempre estupidamente gelada, fica na praça principal. Compre um acarajé ou um abará e leve para acompanhar a cerveja, a dona do bar não vai se importar.

Se tiver com grana, vá ao Mar Aberto, não deixe de ir se for noite de lua cheia, Veja lá da varanda a lua saindo linda, estonteante, emergindo do mar aberto. É esplendoroso, não há palavras para descrever tudo o que representa aquela magnífica apresentação da natureza. Tome algum drink preparado por Paulinho, tenho certeza que nunca vai se arrepender ou esquecer do momento. Se tiver uma graninha a mais, coma uma porção de camarão empanado, delire, isto existe, é aqui na Bahia, em Arembepe.

Passe aqui, ao menos, uma semana, que é para dar tempo para tudo. A caminhada da praia é sagrada, seja pela manhã ou pela tarde, tanto faz, escolha de acordo com a sua conveniência e a sua própria pele, mas não deixe de fazê-la, é bom para o corpo e muito mais para a mente. Você terá tempo de olhar o mar, de ver todas as nuances de verde deste marzão, apreciar as pequenas lagoas que se formam nos arrecifes do Piruí e ver a quantidade de peixinhos que ali vivem. Tem um listrado de amarelo e preto que é qualquer coisa, um azul anil e amarelo, que é espantoso, um que é todo amarelinho, outro somente prateado. Lógico que você vai ver uns espécimes feios, mas assim é a vida, há de se conviver com o belo e o feio exatamente para que o belo possa mesmo ser belo, ser notado, se tudo fosse igual você não saberia distinguir o bem do mal, o belo do feio, o prazer do desprazer, o amor do ódio, enfim, somente as dualidades contrárias podem lhe fazer apreciar e optar pelo que melhor lhe convier.

Se tiver com algum problema, aproveite e peça a Iemanjá para lhe ajudar, ela vai saber do seu merecimento ou não, portanto, se você tiver agido corretamente em todos os momentos da sua vida, não ha restrições ao seu pedido. Se tiver por aqui perto de 2 de fevereiro, ou mesmo neste dia, não se esqueça de levar um presente para colocar no balaio daqueles que organizam o presente de Iemanjá, que é um momento lindo. No ano passado chorei muito, não só porque estava mesmo pedindo ajuda para meu filho, mas pela beleza do momento, parecia que o céu tinha se aberto para receber, também, os presentes dedicados à Rainha do Mar. Foi um momento lindo e mágico.

Bom, mas você já andou pela manha, já deve ser quase dez horas, é hora de fazer uma pergunta: Vou comer onde? Em casa ou em algum restaurante? Bem, se você quiser comer em casa, se tiver com vontade de fazer comida, vá até a colônia de pescadores, não tem erro, fica logo depois da Igreja andando para a direita. Você pode escolher onde comprar o peixe. Pode comprar de qualquer um, mas se quiser, compre na mão de VACA, é isto mesmo, uma pessoa que vive de vender peixe, mas têm o nome de vaca, coisas de Arembepe. Ele sabe fazer um file do peixe que você escolher. Repare que tem de ser peixe grande, não pense em fazer filé de agulhinha, pois este peixinho é para comer frito e bem frito, olhe como ele é lindo, veja porque lhe chamam de agulhinha. Rapaz olhe que o filezinho grelhado é uma boa pedida. Mas se você quiser comer peixe de moqueca, acho melhor você ir a qualquer dos restaurantes. Vá a Colo, Neuza, Nice, Mar Aberto, e se preferir fale com a VU, que ela faz para você, neste último caso, avise antes, e, mesmo sabendo que não precisa disto, diga que me conhece, que leu no blog a recomendação de ir à casa dela. No particular da casa de Vú, peça para ir até a cozinha, e olhe o fogão onde ela e a Marize fazem as suas iguarias.

Se, acaso, for um dia de sábado, e você tiver com vontade de comer, logo de manhã cedo, um feijãozinho, uma rabada, um ensopado de boi ou de carneiro, feijão com mocotó, tome coragem e vá à casa da VU, quem faz estas comidas é a Marize, mas o amor em nada se diferencia, seja na comida feita por uma ou por outra, muda o sabor, mas não muda a atenção, o zelo, a vontade de agradar, o amor pelos clientes e pelo trabalho que executam, por isso mesmo é que é tão bom. Coma com moderação, porque depois dá uma fraqueza da zorra.

Bar da Vu 
Nos dias de semana, de segunda a sexta, você tem varias opções, Vu e Marize não funcionam em todos os dias para todas as comidas. A Vu faz umas moquequinhas durante a semana, mas a Marize somente nos finais de semana, mas não se preocupe. Vá ao Quiosque da Neuza, peça um peixe frito, moqueca de camarão, carne do sol com aimpim, ou então coma os pratos do dia, não tenha medo, entre, sente, fale com o galanteador Marquinhos e pronto, só espere, enquanto toma uma cerveja estupidamente gelada.

No dia seguinte a Neuza, vá a Nice, peça qualquer coisa, não tenha receio, aproveite para conversar com todos enquanto espera. Não se preocupe, não tenha vergonha, sente e participe da conversa, ninguém vai te incomodar ou recriminar por isso. Acho que é o único bar no mundo em que o passeio é usado como esplanada para o bar, mas não deixa de ser a passarela dos pedestres, é por isso mesmo que bom, porque você vê tudo, passa de tudo, se fala de tudo, se participa de tudo. Tomara que, no dia que você for estejam por lá também: Raimundinho, Ritinha, Cristiane, Toti, Duinha, Aguiar, Zuleide, Lidinha, aí é que voce vai ver coisa. Se você for mulher e estiver sozinha, delicie-se com a presença de um rapaz que mora nas imediações e que freqüenta o bar, de vez em quando. Se você tiver sorte, pode até trocar um olhar com ele, espero que não tão intenso como o que já troquei, fiquei, seguramente, inebriada e, ao mesmo tempo desconcertada. Se nada rolar, mesmo assim, vale a pena, o agrado aos olhos pode esquentar a alma e quem sabe, sozinha mesmo, você possa se resolver, há até uma providencial loja de artigos ligados ao “amor”. Não esmoreça e acredite que é real.

Veja como funciona um bar familiar, veja como os membros de uma família ficam jogando um para o outro as obrigações, Sinta a mão de ferro da matriarca segurando a onda dos seus filhos, do bar, da vida. Se ficar íntima deles, pois eles estão sempre por lá, diga que vai dar uma bolsa nova a Nice, que fui que mandou você dizer isto, ela vai morrer de rir e é capaz de me mandar para a “porra”, Não se esquente, é assim mesmo.

Não sei se no dia que você for a Nice vai fazer mais nada, mas, se coragem tiver, à noite, sempre a pedida será o “Mar Aberto”, faça qualquer negócio, qualquer sacrifico vale a pena, termine o seu dia ali, delicie-se. Fale com o Triste, se ele gostar de você, nunca mais será esquecida, ele vai te botar lá em cima, pois sempre haverá uma palavra elogiosa, um carinho especial para você, claro, se você for mulher e der intimidade a ele, embora ele possa fazer comentários a respeito do sexo masculino, isto não á problema.

Olhe que ainda tem coisas para fazer, mas eu vou deixar mesmo que você descubra, já dei algumas dicas deste lugar encantado que é Arembepe, mas curta ele mesmo até a sexta feira, porque agora tá ficando difícil ter tranqüilidade nos finais de semana, isto depois das onze horas, quando o povo começa a chegar para o final de semana.

Aproveite este dia para fazer uma visita à aldeia, vá ao projeto Tamar. Se tiver de carro, saia do centro de Arembepe e vá até o Coqueiro. Veja o rio. Se preferir, vá até, Jacuipe, Barra do Pojuca, neste ultimai tem uma cachoeira linda, mas não sei se recomendo ir para tomar um gostoso banho nos finais de semana, é melhor ir durante a semana. Siga mais um pouco, entre em Guarajuba, Monte Gordo, aqui, se você tiver com muita fome e for sábado ou domingo, coma o mocotó de Tereza, dos deuses, você vai ver. Pode prolongar mais, mas não recomendo, tá tudo muito cheio, verão e final de semana é enchente só, mas ainda tem muitas opções: Itacimirim, Praia do Forte, Imbassahy, Diogo, etc. etc. etc.

Tenha uma boa estada em Arembepe, e tenha a certeza que tudo que falei aqui existe e é real, você pode constatar “in loco”, deixe os que têm complexo discordar, não tem problema, aliás, é melhor mesmo que ele nunca se mostre, pois em Arembepe, o que menos queremos é problema.



sábado, 15 de janeiro de 2011

Mais uma lavagem do Bonfim

Foi na quinta feira, dia 13 de janeiro, como sempre, na segunda quinta feira do ano. Fui só, Marcos Oliva e Gloria, velhos, já não fazem esta caminhada, tenho de aproveitar, pois, os meus 57 e fazê-la até quando der, porque, com certeza, um dia estarei como eles, ou com esporão, ou com açúcar alto, pressão altíssima, porque alta já conquistei há muito.

Bom isto não interessa, o fato é que fui com O Tininho, que me deixou no bar de Manolo, onde, como de costume, comi o melhor sanduiche de pernil de Salvador, quiçá do mundo, embora Portugal com as bifanas e com o próprio pernil não deixe nada a desejar, mas lá não tem o “amor” , não tem “a doutora”, não tem a pergunta de sempre: “Como ele está, onde está ele”, como se cinco ou mais anos não tivessem passado, como se tudo ainda estivesse no mesmo lugar e da maneira de sempre.

Saboreio o pernil, vejo gente conhecida, Cleber e muitos outros. Tomo refresco de maracujá, sugestão do rapaz do balcão. O diabo é doce, mas é uma delícia, geladinho, amarelinho e, pasmem! Com sabor a maracujá mesmo.

Saio dali, já estou atrasada, fico pensando que o pessoal, a quem procuro, já passou, mas vou até ao lugar do encontro. Não acho ninguém: Digo a mim mesmo: eles já saíram, então vou me apressar para pegar eles bem lá na frente. E é o que faço.

Vou picada, mas não o suficiente para não parar, tirar fotos, ver baianas, ver "Os filhos de Ghandi". Todos, ou melhor, a grande maioria, como sempre veste branco, simbolizando uma união, que sabemos não existe, mas nesse dia, esquecemos as desavenças, o partidarismo, as vitimas das enchentes do Rio de Janeiro e São Paulo, e seguimos juntos, cantando e felizes, como se só existisse, naquele momento, só aquele momento. Nada mais é importante, afinal o Senhor do Bonfim nos espera, precisamos vencer a caminhada que  tá só começando.

Passo pelo Ghandi, tiro fotos, já estou um pouco além do Ministério da Fazenda, vou seguindo acompanhando uma bandinha que toca música antiga, o pé arrasta no chão num único compasso com os dos demais, parece ensaiado.

São Joaquim: alguém grita meu nome, vou distraída e não me apercebo logo de quem se trata, era a Márcia e o marido, falei com eles, mas peço desculpas, porque só depois é que a ficha caiu. Sintam-se, agora, fortemente abraçados. Continuo em frente, ainda um pouco acelerada, queria encontrar o pessoal da Justiça que saíria com um mini trio, estou doida para ver isto, organizado por Renato e Gilmar, com certeza seria tudo de bom.

Quando chego perto da Calçada uma chuva cai, chuva grossa, aquela de molhar mesmo. A banda toca, “As águas vão rolar, garrafa cheia eu não quero ver sobrar, eu passo a mão na saca, saca, saca rolha, e bebo até, me afogar, deixe as águas rolar”. To encharcada, a calça branca já está toda respingada de lama, o tênis molhado, o cabelo escorre. A água vai descendo e consigo ficar com a roupa colada no corpo. Outra banda passa tocando “Oh deixa chover, oh deixa molhar, que no molhado é melhor de se brincar”.

Estou já nos  Mares, dou uma adiantada e fico parada vendo se consigo ver o tal do mini trio, nem sinal dele, mais meia hora de espera e percebo que não vou alcançá-lo, ou então, ele não passou mesmo e deve estar muito lá atrás.

Bebo uma água mineral, acabo jogando o resto na cabeça, a água tá gelada e me faz ficar arrepiada. Um homem passa e fica me olhando, eu me olho para ver se estou muito transparente e percebo que o olhar era dirigido aos meus mamilos que, com o choque da água gelada estão em “riste” e resolvem se amostrar, querendo atravessar a blusa branca.

Disfarço, cuzo os braços e atravesso para o outro lado da rua. De repente vejo “Dorico”, “Nery”, “Gosma” e “Euvaldo”. Fico feliz por vê-los, e parece que eles também por me verem. Sigo com eles dali em diante. Nery tem a sola do tênis descolada, começamos a procurar uma coisa para colar. Nada, o comércio tá fechado, afinal de contas é o Santo da cidade baixa que esta sendo homenageado: Por que trabalhar neste dia de festa? Claro que não, tudo fechado, mas os ambulantes estão trabalhando, em todos os lugares. As caixas de isopor cheias de cerveja estão em todos os lados, todos os tamanhos, todos querem garantir uma “graninha”. De repente alguém oferece uma fita isolante: A operação é realizada ali mesmo e a fita é colocada. A sola fica mais ou menos fixada, vai dar para chegar na Colina.

O Euvaldo, que parece ser de primeira “lavagem”, fica preocupado o tempo todo. Nery sai de junto da gente e vai falar com todas as pessoas que ele conhece, e o outro fica preocupado e dizendo que ele deve falar que vai se afastar, dou risada, porque isto é típico dos marinheiros de primeira lavagem mesmo. Nós, os fequentadores assíduos, sabemos que todos nos encontraremos na Colina, portanto...

O largo de Roma, encontro “Demacu”, um abraço da lavagem, este tem um sabor diferente, não é igual ao de todos os dias.

Uma baiana toda vestida de bandeira do Brasil passa, sigo correndo, quero tirar uma foto, ela permite. Acho muito engraçado a patriótica vestimenta: a Bahia levando o Brasil até o Bonfim, olhem bem os detalhes.

Uma negra com uma “bunda” tamanho família vai à minha frente. O vestido é estampado, de malha, colado no corpo, tem umas flores, mas o que importa é que o fundo é branco. Ta arrochado no corpo e mostra todos os detalhes do corpo da negra, gomos de celulite desafiam o pano para garantirem as suas presenças, querem ser vistos, afinal, eles demoraram tanto tempo para se mostrarem que agora querem estar presentes todo o tempo. Dou muita risada e me pergunto por que as pessoas que tem estes volumes adoram vestir roupas coladas. A mulher não tá nem aí, segue balançando o seu rabão ao som da música.

Visualizo a Igreja, ainda muito longe para ser alcançada pela minha grande “máquina”, mas vou tirando fotos até alcançar mesmo a Igreja quase toda. Alguém me chama outra vez, é o Cacau, filho de uma colega, recebo um forte e carinhoso abraço, afinal não sou tão mazinha assim. Pergunto pela mãe e pela filha e ele me diz que já tem a segunda, não sabia, mas fico feliz por vê-lo, e por sabê-lo pai de duas meninas.
A Igreja já se descortina, fico um pouco emocionada. Mais uma vez chego ao Bonfim, mais uma vez, subo a Colina Sagrada pedindo ao Senhor do Bonfim graças para o meu filho. Este ano, juro a vocês, todos os pedidos foram para ele, não me lembrei de ninguém, ou melhor, fiz questão disto, ele agora é quem precisa da ajuda do Senhor do Bonfim, portanto.

Alcançamos, eu, Dorico, Nery e Euvaldo a colina e vamos para o local de sempre, ali do lado esquerdo junto ao Hospital da Sagrada Família. Alguns dos de sempre estão ali, mas há muitas figuras novas. Estou ansiosa, Renato não aparece e eu quero vê-lo. Antes, porém, sou rezada, me batem com muitas folhas. Pago pela reza, dizem que tira mal olhado, penso que preciso muito, só não contava com a surra.

Um dos companheiros me fala da “Herbal Life”, está, com o todos os que começam com esta atividade, entusiasmado, fica falando que se ele conhecesse a quantidade de gente que os outros dois conhecem ele ficava rico. Não dou palpite, só queria entender como é que eles conseguem fazer esta lavagem cerebral nas pessoas. Associo isto ao filme Laranja Mecânica, não sei porque cargas d água; deve ser por força da “repetição”.

Aviso a todos que vou até a frente da Igreja tirar umas fotos, que, diga-se de passagem, consegui. Na realidade a festa estava um pouco vazia este ano, eu consegui chegar até o adro da Igreja e tirar foto do Senhor do Bonfim, e das fitas todas que colocaram nas grades. Fico pensando como o pobre do Senhor do Bonfim vai ter tempo de atender a tantos pedidos, mas o que vale é a fé, portanto...

Vejo um mascarado, o homem tá todo vestido de lata, é uma armadura horrível, me aproximo e tiro uma foto, tinha que registrar aquilo. Agora que já não chovia o sol estava tinindo,  eu não sei como aquele pobre agüentava ficar com aquela zorra em cima dele, mas parece que isto não lhe afeta muito.

No adro Raul Seixas ressucita. É incrivel! O Senhor do Bonfim fez mais este milagre.

Ele distribui simpatia e autográfos. Esta bem, todo de branco, de gravata, cabelos aparados, bigode, barba e o inseparável violão.

Fans querem apertar-lhe a mão e tomar uma cerveja, que ele não dispensa mesmo. Afinal, quem sabe o que será amanhã, pode ser que o  milagre só tenha efeito hoje, portanto, melhor tirar a diferença e nem pensar em encontrar Paulo Coelho, nem tampouco esperar mais dez mil anos para renascer. 

A Baiana simpática me deixa fotografá-la. A outra demonstra o seu cansaço, mas não larga o vaso das flores. Como a questão é fé mesmo, um baiano pode vir de “baiana” para o Bonfim, e um casal pode ficar mais unido vestidos de “baianos”

Volto, tomo umas cervejas, converso com alguns amigos de Nery que dizem que os filhos moram fora do país, a conversa fica chata, porque se fala de problemas familiares, como se a lavagem do Bonfim fosse um local adequado para queixas.

Dou uma volta com Euvaldo, ele está entediado, quer encontrar o pessoal da “Praia do Forte”, não os encontramos. Ele para e fala com um grupo e eu ouço alguém dizer:" deixa ela ir". Eu, que sou boa de ouvido, sigo a “ordem” e vou descendo. Resolvo comprar um acarajé, peço somente com vatapá, O acarajé tá frio, mas não é dos piores, mas eu fico lambendo mesmo é o vatapá que ta uma delicia, tiro todo o vatapá com o dedo e vou comendo. Uma voz me pergunta: - O acarajé tá bom? Olho pensando que é algum dos meus companheiros. Não era, era uma pessoa que nunca vi, um rapaz bonito, de branco, claro, de óculos, alto, cabelos longos que acho que estavam amarrados. Não respondo e dou o acarajé para ele tirar um pedaço, ele reluta, mas acaba mordendo o bichão e me diz que não estava ruim não, que estava bom. Eu digo que prefiro o acarajé mais quente.

A conversa continua em redor do acarajé. Tiro mais dois pedaços e dou todo o que sobrou ao rapaz, que se tiver falando a verdade, chama-se “Haroldo ou Aroldo” e é arquiteto. Sei disto porque falamos algo sobre a lavagem, a freqüência, a mudança que notamos na própria festa em si. Os meus companheiros me olham um pouco de longe. O rapaz me diz que eles estão com “ciúme”, dou risada e não percebo direito a brincadeira, porque aquelas pessoas podiam ter qualquer tipo de “sentimento” em relação a mim, mas ciúme era um pouco demais. Continuo conversando com o Haroldo, que tira os óculos e eu posso ver que ele é um homem bonito mesmo. Ele me diz que vai passar o Carnaval em Recife, eu digo a ele que não vá porque ele vai ficar cansado de ouvir “taran ran ran ran, tan ran ran ran....” Ele ri e diz que vai de qualquer maneira. Soube o nome a profissão do rapaz exatamente pelo fato dele defender a “tradição” do frevo, do carnaval, pensei que ele fosse algum antropólogo, historiador, qualquer coisa ligada a isto, aliás, a intelectualidade freqüentadora daquele local é ligada às ciências humanas, tão humanas que a liberalidade do “ser humano”, parece ali aflorar com mais naturalidade que em outros sítios, embora este ano, até nisso, o espaço tenha ficado fraco, não acontece. Pergunta-me o que faço, digo-lhe que Historia da África, ele me diz, “que interessante” e me pergunta o meu nome, o que digo.

Por algum motivo, acho que Euvaldo chega com alguma cerveja na mão e o rapaz me chama de “flor”, eu retruco: não me chame de flor, meu nome é de “pedra”, portanto, se não quiser me chamar de meu nome me chame de “pedra”, aliás, o rapaz tá mais para trabalhar com pedra de que com flor, afinal é arquiteto não é?

Renato chega: trazem-me ele rebocado. Troco o maior abraço do Bonfim. A energia de Renato me enche, me transborda, fico esperando a cada ano este momento. O mini trio não saiu, não deram a licença, mas também para que? O que eu queria era estar e ver Renato, que, mais uma vez está sem a Isa, que agora tá muito importante mesmo, e estava em Brasília. Não sei qual o motivo que se marca reunião com autoridades baianas exatamente neste dia. Acho uma falta de compreensão e de fé, principalmente. (rsrsrs)!

Fico com Renato conversando, de repente não vejo mais o Arquiteto, uma pena! Queria saber mais dele, conversar mais um pouco, afinal adoro Recife não é, além do mais, em poucos instantes, soube até que há um músico do Recife que tem uma música que chama, ou fala, de uma “Maria Esmeralda”, Será o Alceu Valença?

Fico por ali mais um pouco, os companheiros saíram do meu raio de visão, converso mais um pouco, explico a uma amiga do Renato que o conheço há mais de 36 anos. Todavia tô cansada e digo que vou embora. É o que faço. Tenho de andar da Colina até a Feira de São Joaquim para pegar um taxi. O pé dói. Sinto a bolha de água crescer, mas sigo, não há como parar.

Na caminhada de volta passo pela frente do que outrora foi o "Armazém Brasil" na Imperatriz. Uma onda de nostalgia me invade, mas nada que me tirasse a sensação de ter cumprido a minha caminhada de fé e de esperança.

Pronto, pego taxi, estou suja, mole, cansada, com bolhas nos pés, mas abençoada para todo o ano de 2011.

Se você não estava na lavagem, venha no próximo ano. Esperamos você: eu, a Bahia, e o Senhor do Bonfim.

Que Deus nos abençõe!






Em 15.01.2011

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A abordagem comunicativa no ensino de língua estrangeira

Os elementos do processo de ensino-aprendizagem são: o aluno, o professor, o conteúdo e as variáveis ambientais. Cada um destes elementos exercem uma influência no processo e há, entre eles, um outro processo, que é o de interação. A interação maior, certamente ocorre entre o aluno e o professor, e “conforme a maneira pela qual essa interação se dá, a aprendizagem do aluno pode ser mais ou menos facilitada e orientada para uma ou outra direção” (SANTOS, 2001;72).

Neste processo de interação o professor funciona como um facilitador, com quem o aluno deve estabelecer uma relação de troca, e não só com este, esta troca se estende aos demais colegas, e com todos aqueles que participam do processo, mesmo que não estejam presentes em dado momento, quero dizer, como o aluno esta inserido em um contexto, que abrange a sua estrutura familiar e sócio-econômica, também quem participa do seu universo mantém para com ele uma relação de troca.

Exatamente pelo aluno estar situado em um determinado contexto, é que ele já traz consigo uma bagagem anterior ao processo de aprendizagem que se estabelece no ambiente escolar, esta competência, que em termos de língua, é nato em relação à língua original, vai influenciar na aquisição do conhecimento.

A importância maior deste conhecimento anterior, que resulta não só da própria genética em si, mas do meio social em que o aluno está inserido, pode estabelecer os pontos de interesse deste mesmo aluno, isto é: indica qual a área que se deve trabalhar para que o aluno deseje o conhecimento, tenha interesse no aprender.

O aluno não será, no processo de aprendizagem, um mero expectador, ele terá de participar ativamente do processo e, por isso mesmo, tem de estar centrado, tem de estar interessado em adquirir um conhecimento. O professor, por sua vez, percebendo este interesse, tem de procurar os meios que possam, cada vez mais, motivar o aprendiz a querer adquirir mais conhecimento, é ele o responsável pelo primeiro input.(KRASCHEN: 1989)

Por exemplo, se o aluno mora num morro do Rio de Janeiro, ele tem vivências extra escolares que podem lhe despertar interesses em saber o que pode acontecer com um traficante que reside na localidade. Se a maioria da sala também é moradora do morro, o que pode ser feito em relação ao aprendizado da língua estrangeira, no caso inglês, é trazer para a sala de aula reportagens de revistas internacionais que contenham artigos sobre a ação dos traficantes. No exemplo aqui estabelecido, o processo de aprendizagem não estará voltado tão somente para a LE, mas também para a ética, moralidade, direito, cidadania, e muitas outras áreas, o processo se torna multidisciplinar. Poderá, se o desempenho dos alunos assim permitir, estabelecer comparações entre os sistemas de prevenção e punição dos que estão envolvidos com o tráfico, entre o país de língua original e o da língua estrangeira.
Ainda com estes mesmos alunos, que, certamente, conhecem o funk e tem, como ídolos, as pessoas que cantam ou dançam tal ritmo, o professor pode trazer vídeos com danças de rua no país da língua estrangeira ensinada(hip hop) e do funk, a fim de que os alunos possam identificar as situações semelhantes e as dessemelhanças, mui principalmente nas letras das músicas, porque muitas delas trazem a história da própria comunidade e naturalmente os alunos vão querer saber se estas preocupações traduzidas na música da sua comunidade também se apresentam nas letras das do outro país.

Numa escola em que a grande parte da comunidade seja formada por uma classe industrial, a exemplo de, aqui na Bahia, a cidade de Camaçari, em que muitos pais de alunos são trabalhadores na indústria, mui especificamente, uma que desperta mais atenção, acredito eu, que é a de fabricação de veículos. Sabendo-se que a Ford é uma empresa americana, o que poderia ser feito, é solicitar aos alunos que trouxessem reportagens sobre a indústria automobilística, lançamentos de carros novos, quantidade de carros vendidos em um e em outro local. Atender-se-ia, de uma só vez, a um apelo multicultural, o conhecimento seria diversificado, porque enquanto aprendia-se a língua, também seriam estabelecidos outros conhecimentos. Em relação a língua, se poderia trabalhar, números, cores, nomes de peças de carro, diálogos em postos de gasolina, solicitação de informações a cerca de direção, endereços, etc.

Se a comunidade em que se vai ensinar a língua é de maioria de pescadores, como o caso, por exemplo, de Arembepe, cujo grupo escolar é freqüentado por filhos, netos, conhecidos de pescadores, trabalhar-se-ia a LE com temas ligados ao mar, incluindo aí o Surf. Os alunos deveriam ser motivados a trazer as estórias dos pescadores locais, as notícias sobre naufrágios, sobre pescas, sobre as lendas da região ligadas ao mar, etc. Estabelecendo-se esta ligação, os alunos aprenderiam as palavras ligadas ao mar, quantidades, números, cores.

Enfim, o aprendizado da língua estrangeira estaria exercendo a sua função primordial que é oportunidade de ter acesso a uma cultura diversa da de origem. No que se refere ao próprio processo de aprendizagem, a interação aluno-professor, estaria estabelecida porque o aluno perceberia que o orientador estava falando a sua própria língua sócio-cultural, quero dizer: estava tratando de assuntos que faziam ou fazem parte do seu próprio universo, para ele, possivelmente estranho ao do educador, com esta aproximação dos temas que interessam à comunidade dos alunos, o educador lhes dá a motivação necessária para que o aprendizado da língua estrangeira alcance o seu efeito, que é a comunicação efetiva, em que o aprendiz saiba perfeitamente, utilizar a língua, a sua gramática, a estrutura, e, também identificar os erros, repará-los, etc. (output).

Por outro lado, quando o professor consegue encontrar a metodologia correta, as abordagens dos assuntos que interessam aos alunos, porque fazem parte do seu viver, ele também faz crescer no aluno a competência comunicativa:,Por que? porque quando você fala de um assunto que conhece, ainda que em língua estrangeira, você tem a maior facilidade no discurso, na clareza da exposição, no estabelecimento da comunicação.

Observe-se que na relação ensino-aprendizagem existe dois tipos de motivação,(NETTO;1987) a que é dirigida do professor para o aluno, enquanto este descobre os métodos, as técnicas que vai utilizar para despertar o interesse do aluno(input), e a motivação do próprio aluno, que é apreendida pelo professor, no momento em que este percebe o desejo daquele de solucionar uma questão sobre determinado tema, no caso da Língua estrangeira, aprender tal língua e como utilizá-la nas diversas situações da vida.



Bibliografia:

KRASHEN,S.D. Principles and Practice in second language acquisition. Oxford, Pergamon Press, 1982

NETTO, Samuel Pfromn. Psicologia da Aprendizagem e do Ensino. São Paulo, EPU e EDUSP,1987

SANTOS, Sandra Carvalho dos. “O Processo de ensino-aprendizagem e a relação professor-aluno: Aplicação dos “sete princípios para a boa pratica na educação de ensino superior” in Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, V.08, nº 1,janeiro/março 2001 p. 70-82



quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Cuidado com as pedras portuguesas!

Descia a ladeira apressada, estava atrasada, não conseguira estacionar o carro em local mais próximo. Vinha apavorada driblando as pedras da calçada, aquelas pedras portuguesas, que sempre deixam espaço para o salto prender, e foi exatamente aí, neste momento, e por causa das pedras portuguesas, que tudo aconteceu.

Caiu no chão, o salto fino da sandália ficou entalado entre duas pedras, resultado: o corpo foi e o pé ficou. Uma dor miserável, uma queda, pastas para todos os lados, processos deslizando ladeira abaixo.

A dor não deixava ela se mexer e se não tivesse o reflexo de colocar bolsa em frente ao rosto a coisa teria sido muito pior, pois caíra de frente e a bolsa protegeu seu rosto de colidir, diretamente, com as malditas pedras portuguesas.

Tentou levantar, mas não conseguiu: o pé ainda estava enganchado na abertura entre as duas pedras, a unha grande sangrava; o tornozelo já mostrava o inchaço. Tinha de fazer alguma coisa, mas estava inerte, desta vez não teve nem como rir da queda, o que sempre fazia, tanto quando era a protagonista dela, quanto quando outros o eram.

Entretanto, tinha de levantar rápido, precisava recolher os processos que tinham descido a ladeira abaixo, aliás, um mau presságio: processo tem de subir, nunca descer, descida significa derrota, portanto...

Estava tentando tirar a sandália quando alguém lhe pergunta:

-Quer ajuda? A senhora se machucou?

Levantou os olhos e se deparou com um belo homem de uns 47 anos. Moreno, cabelos ficando grisalhos nas têmporas, olhos de um castanho mel maravilhoso.

-Por favor, preciso desabotoar a sandália para retirá-la do buraco, e penso que vou precisar de ajuda para levantar mesmo, acho que tive uma bela torção, por outro lado, preciso recolher os processos que caíram da minha mão.

- Acho que peguei todos os papéis que caíram, depois a senhora confere, agora vamos resolver o problema do pé.

Falando isto se agachou junto a ela para poder ajudá-la. Como ficou bem próximo, ela pode sentir-lhe o perfume, o hálito até. Um cheiro de madeira muito forte entrou pelas suas narinas que lhe fez, por um segundo, esquecer o motivo pelo qual aquele senhor estava ali a ajudando

Delicadamente ele lhe desabotoou a sandália e lhe retirou o pé, puxou a sandália do buraco, dizendo:

- Esta, a senhora não pode usar mais, o salto está torto. Mas vamos olhar o seu tornozelo para ver se vai precisar enfaixar.

Quando ele tocou no seu pé para fazer um leve movimento, sentiu a maciez das suas mãos, mas não pode deixar de gritar, pois ele tentou mesmo torcer o pé para o lado contrário da torção. Ele se assustou com o grito e disse que a coisa devia ser séria mesmo, e que ela devia ir a uma clinica imediatamente, enquanto procurava levantá-la.

Ela, entretanto, estava mesmo preocupada com os processos, a responsabilidade pela vida dos outros não permitia que, mesmo com a dor, ela se esquecesse deles; além do mais, tinha alguns que deveriam ser devolvidos naquele dia por força do prazo, portanto, o pé teria que ficar para depois. O problema agora era chegar até o seu destino para entregar os processos.

- A senhora quer que eu a acompanhe até uma clinica?

-Não, disse ela: quero que você, se for possível, me acompanhe até aquele prédio, onde tenho que entregar estes processos.

- Senhora, acho que a senhora deve se preocupar primeiro com a sua saúde, depois a senhora vê isto.

-Não, tenho responsabilidade e prazos a cumprir, portanto, tenho de entregá-los, depois disto eu vou para a clínica. Não posso prejudicar os meus clientes, que nada tem a ver com esta calçada de pedras portuguesas e com a desastrada da sua advogada.

- Está bem, mas a senhora vai agüentar descer este resto de ladeira?

-Vou sim, se eu me apoiar no seu braço, acho que consigo.

Assim foi feito, ela tirou o outro pé da sandália e foi descendo apoiada naquele homem desconhecido que lhe dava uma sensação imensa de segurança e proteção.

Felizmente o prédio não estava muito distante, e ela entregou os processos no protocolo geral, não antes de conferir se estavam todos em ordem. A dor aumentava, o tornozelo latejava, a unha grande do pé direito estava ficando roxa, e todos a olhavam. Uma doutora toda arrumada, quer dizer, a roupa, embora suja da queda, era uma roupa elegante, tradicional das profissionais da área, o que contrastava com os pés descalços e chamava a atenção dos colegas e funcionários.

Entregue os processos, os dois saíram dali: ela disse que tinha de pegar o carro, ele disse que não, que ela não iria conseguir dirigir com o pé direito naquelas condições, ofereceu-se para levá-la, mas o faria de taxi, porque o seu carro também estava longe do local, e foi o que fizeram, pegaram um taxi e se dirigiram a uma clinica ortopédica mais próxima.

Radiografias tiradas, pé enfaixado, recomendação de repouso, medicação.

Tomaram novamente um taxi e ele é quem disse para onde iam, para o local onde estava o seu carro.

-Vamos, eu te levo em casa e depois você manda alguém buscar o seu carro

Ela teve de assentir, afinal não podia fazer nada, mas já se perguntava por que este senhor estava ainda ali com ela, já fizera o suficiente, agora ela só precisava chamar alguém da sua família para pegar o carro e levá-la para casa, mas não reclamou e deixou-se levar.

- Sim, qual o endereço?

- Jardim dos Olivais, ela responde, Quadra B, Casa 2.

- Onde fica isto?

-Ah, desculpe. Fica próximo ao Aeroporto

-Qual o melhor caminho?

-Desça a ladeira, pegue à direita, depois vá para a orla e siga em frente.

No caminho perguntas normais. Seu nome, profissão, etc. etc.

O rádio ligado e músicas de Rod Stewart, Michel Boublé, Frank Sinatra, bem ao estilo dela, que já começava a se interessar por aquela figura que entrava na sua vida por causa de uma queda.

Pergunta para si própria: É este que vai me levantar? Como um homem desse pode estar sozinho na rua uma hora destas, porque parece que ele não tem compromisso, pois ninguém poderia largar os seus afazeres durante tanto tempo, inclusive, porque não tinha visto ele ligar para ninguém, e olhe que até no momento em que o pé estava sendo enfaixado ele estava presente.

- Você tem escritório por ali por perto?

-Não.

- Você foi ao Tribunal?

- Não

Não queria parecer curiosa, mas estava, e muito, mas tinha de se controlar, se ele quisesse dizer algo não tinha dado somente o não como resposta às perguntas.

Bom, finalmente, estavam chegando e tudo aquilo terminaria, ela somente teria de agradecer e pronto: cada um para seu lado.

- Chegamos, vire agora aqui à direita, é a quarta casa da rua.

Não havia ninguém em casa, e ele teve de ajudá-la a sair do carro, abrir o portão e depois a porta principal e entrar.

-Quer alguma coisa, um suco, uma bebida, água

-Não, não vou te incomodar, você não pode andar

- Não me incomoda em nada, você mesmo pode se servir se quiser qualquer coisa. Eu não preciso fazer nada, só dizer onde as coisas estão.

-Quero água.

Pegou o copo foi até a geladeira, encheu d água e bebeu.

-Bom, agora que você já esta em casa e bem, vou embora, porque eu tenho de voltar para o mesmo lugar onde lhe achei, porque marquei com a minha filha, que já deve estar para lá de chateada com a minha demora. Íamos almoçar juntos e já passa das 16h00min, ela deve ter ficado tão aborrecida que sequer me ligou, e eu, preocupado com você, também não liguei.

Ela quase morre de vergonha, mas fazer o que? Não pedira nada, ele que se oferecera para tudo.

-Desculpe, não queria ser causa de nada disto, me perdoe mesmo.

De repente ele se vira para ela e diz:

-Posso voltar aqui à noite para saber como você está?

-Pode, mas não é mais fácil você telefonar?

-Não, eu quero vim mesmo. Vou agora ver minha filha fico com ela até umas oito da noite e depois venho aqui, se você quiser, posso até trazer algo para a gente jantar. O que você acha?

Aquela proposta lhe pegou de surpresa e ela, sem muito pensar, disse sim, mas pediu que lhe deixasse o telefone.

Ele lhe dá um cartão, lhe dá um beijo no rosto e se dirige para a porta, entra no carro e vai embora.

Ela olha o cartão e vê o nome do senhor e a sua profissão. Assusta-se, não quer acreditar no que vê, mas não há duvida: o homem é um Doutor em Historia, e ela lembra que havia um Congresso sobre a Cultura Negra na cidade, e, certamente, ele estava participando dele, este era o motivo de estar aqui, porque o endereço do cartão era de fora do Brasil.

Toma um baita susto e fica se perguntando o que esta acontecendo, por que o destino colocou aquela pessoa na sua frente, por que deixou entrar na sua vida? Ela que estava terminando o curso de História.

Não vê o tempo passar, esta perdida nas suas indagações e conjecturas. Não fala com ninguém para ir buscar o carro, que não estava num bom lugar para ficar à noite, o lugar era perigoso, tinha de fazer alguma coisa.

O filho não esta em casa, o ex companheiro esta viajando, não tem a quem recorrer. Pega o cartão e liga para o telefone que foi assinalado de caneta.

-Alô, é você?

-Claro. Diga. Aconteceu alguma coisa? Você está bem?

-Calma! Estou bem sim, mas preocupada com o carro, o local onde ele está não é muito aconselhável, acho que vou pegar um taxi e arrumar alguém para trazê-lo, portanto, não venha aqui.

-Bom, vamos ver: pegue o taxi e venha me encontrar no hotel onde estou hospedado. Daqui eu arrumo alguém e vamos buscar o seu carro, depois saímos direto e levamos o carro para sua casa.

-Tá bem, concorda como se aquela fosse a solução mais lógica, e como se aquela pessoa com quem ela falava fosse uma pessoa íntima sua, a naturalidade era tamanha que ela nem se preocupou em questionar nada.

Coloca um saco plástico na perna enfaixada, toma um banho, veste uma roupa fresca, como sempre um belo vestido longo, desta vez bem providencial, porque encobriria o pé enfaixado, chama um taxi e dá o endereço do hotel.

Quando chega ele já esta no hall de entrada acompanhado de uma jovem com uns 19 anos e um rapaz.

-Esta é a minha filha, pedi que ela esperasse para que pudesse conhecê-la, já contei tudo que aconteceu hoje e ela ficou curiosa para saber quem era a pessoa que fez com que eu me esquecesse do almoço marcado.

- Me desculpe, por favor, eu não queria e nem quero incomodar, mas é que o seu pai vai fazendo as coisas e a gente não tem, sequer, a chance de dizer não, e eu fui me deixando levar, mas me perdoe mesmo, a minha intenção não era atrapalhar ninguém. Falava daquele desconhecido como se o conhecesse há muito.

-Não se preocupe, não estou zangada, fiquei apenas preocupada pela demora e pela falta de comunicação, mas esta tudo bem, já estou bem acostumada com o meu pai e sei do que ele é capaz de fazer pelo “outro”. Foi um prazer conhecê-la, mas agora tenho de ir embora, ele já me falou que vai levar o seu carro até sua casa não é?

-Não, ele não precisa ir, eu vou com o rapaz que ele disse que arrumou para levar o carro e dou o dinheiro para ele voltar, não e necessário incomodá-lo mais, e você pode curtir mais um pouco o seu pai.

-Não, não, eu tenho compromisso e ele quer fazer isto, conforme ele planejou, portanto, nem que eu quisesse mudar as coisas ele iria permitir. Boa Sorte!

Seguiram os três, o rapaz, ela e ele no carro até o local onde o veiculo estava estacionado. Ela deu as chaves ao rapaz e tentou sair do carro para ir com ele, mas o outro não permitiu, disse que ela ia no carro com ele e o rapaz ia seguindo. Sem argumento, ou condições, concordou.

De novo, no caminho, músicas: Dave Brubeck, Eric Clapton, Vangelis, Sadao, Santana. Ela simplesmente deliciava-se. Não conversavam apenas ouviam a música. Ele olhava pelo canto do olho a sua reação a cada mudança de cantor e de estilo, ela percebia, mas não fazia qualquer comentário.

Chegaram a casa, ele abriu a garagem, o rapaz colocou o carro dentro, e ele lhe deu o dinheiro para voltar de taxi. O rapaz se foi, já eram quase 21.30

-Bom, como as coisas mudaram de direção, vamos sair para jantar fora, disse ele.

-Ok, não vou nem dizer nada, já vi que com você não funciona.

Jantaram num restaurante perto da casa dela, uma comida italiana, que no jantar soube que ele adorava. Ele queria ir para mais longe, mas ela precisava descansar, o pé estava dolorido e ela não podia beber, mas, mesmo assim, tomaram vinho.

Conversaram muito e ele ficou muito surpreso de que ela estivesse cursando história. Era quase meia noite quando saíram do restaurante um pouco altos por causa do vinho, tomaram três garrafas de um bom malbec argentino da casa Mendonza.

No caminho de volta para casa ele lhe diz que, no dia seguinte, estará retornando para a Europa, onde ensina História em algumas faculdades. Ela sente uma ponta de decepção, mas o que fazer? Nada; não entendia por que ficara nostálgica e triste com esta noticia, um homem que ela conhecera há exatamente 14 horas, não podia lhe deixar desta maneira, mas estava deixando, para disfarçar pediu que ele colocasse uma boa música e ele colocou mesmo, mas aí, parecendo que estava tudo programado, ele coloca algum desconhecido cantando: Eu sei que vou te amar, por toda minha vida vou te amar, etc. ato continuo, desvia o carro para o acostamento, para, olha bem para ela e diz:

-Você pode não acreditar, mas eu me apaixonei por você, e sei mesmo que vou te amar e muito. Por que você não vai embora comigo?

-Tá doido homem. Ninguém se apaixona assim tão rápido e ninguém deixa uma vida inteira assim, tão rápido também, Vamos com calma. Você me impressionou, mas daí a largar tudo e ir com você há uma distância enorme.

-Não temos idade para esperar nada, temos de viver intensamente isto que esta acontecendo entre nós. Não estou te pedindo para ir embora amanhã, estou te pedindo para ir, sem preocupações, você vai e faz um mestrado na Europa, eu consigo isto para você sem quaisquer problemas, posso ser o seu orientador e conseguir uma bolsa, embora isto não seja necessário, porque posso te sustentar por lá. Pense nisto e me diga, mas não demore muito, não temos muito tempo e precisamos viver intensamente o que nos esta acontecendo, pois sinto que você também ficou balançada comigo, você não sabe desdizer o que os seus olhos dizem, o que o seu corpo demonstra.

Ela não entendia a questão do tempo, mas estava muito emocionada para procurar explicações naquele momento, deixou que o seu corpo falasse, e permitiu que o dele respondesse a todos os reclames de ambos. Amaram-se no carro, depois se amaram em casa dela, a manhã os encontrou enrolados, aconchegados, e a dose de amor foi repetida em grande, mas ele tinha de se apressar, o avião sairia as 1200 e ela percebeu que ele já viera todo arrumado, tudo estava no carro, a mala e o que tinha de ser levado.

As 10h00min despediram-se, uma despedida emocionada, mas, nada além do que deveria ser. E ele se foi.

Assim que ele deixa a sua casa ela recebe um telefonema:

-Olá, sou a filha de Roberto. Quero te pedir uma coisa, se for possível, não diga não ao meu pai, ele não tem tempo para ouvir não, ele precisa de “sins” e parece que só você vai poder dizer o sim que ele espera nos últimos dias da sua vida. E ela contou toda a história do seu pai, da sua própria vida e da dor de vê-lo morrendo, a cada dia, com uma doença que não teria cura.

Dia seguinte, quando ele telefonou para dizer que tinha chegado e que estava tudo bem ela lhe diz:

-Acabo o curso daqui a duas semanas, se puder esperar até lá, ao menos, vou aí te ver

Acertam tudo, ela irá a Paris daí a 20 dias. Ele está radiante, ela emocionada.

Às três da tarde outro telefonema:

-Olá, eu sonhei ou você vem mesmo daqui a 20 dias

-Claro que não sonhou, eu vou sim, não vou antes porque tenho de resolver algumas coisas em relação à faculdade e a alguns processos, mas eu vou, tenha a certeza.

No final da tarde, quando abre a sua caixa de mensagem nota um e-mail desconhecido, pensa que é alguma mensagem dele e, embora com muitos outros para ler, clica em cima do nome:

- Meu pai faleceu hoje, as 17h00min, em Paris. Obrigada por lhe ter dado os dois últimos dias felizes da sua vida.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Balanço de 2010

Tive muitos momentos especiais na minha vida o ano passado. Bons e ruins, mas especiais, com certeza. Alguns, os ruins e especialíssimos, porque eu sempre digo que tem coisas que só comigo acontecem, quero esquecer, ou melhor, deixá-los encostados num canto bem escondido da casa de dentro, mas em lugar que eu lembre, para que eu possa, quando quiser, resgatá-los e ver se consigo entendê-los perfeitamente, mas vamos aos momentos bons.

Logo em abril voltei para Lisboa, embora quisesse ter voltado de navio, cheguei de avião, mas isto não importa, o que importa é que voltei para complementar as pesquisas do doutorado, mas já estava escrevendo no blog, o que realmente foi uma grande e agradável surpresa para mim, não sabia que teria tantos assuntos e que, um dia, seria lida por tantos.

Campo Pequeno-Lisboa
Primeiramente fui a uma tourada, nunca tinha ido a nenhuma, confesso que é excitante no começo, depois fica uma verdadeira chatice, uma repetição de movimentos de touros e toureiros. Demora em demasia, muita formalidade, há todo um vocabulário especial da tauromaquia, e não me encantou, embora quase eu tenha saído quebrada da Praça de Touros do Campo Pequeno em Lisboa, que por sinal é linda. É que todo o movimento que o toureiro fazia lá embaixo para se desviar do touro, eu também fazia cá em cima nas arquibancadas com o meu próprio corpo: pense ai! Deve ser mesmo a falta de costume. Eu tenho certeza que não vou mais a nenhuma, a não ser que seja na Espanha, porque apesar do encantamento dos primeiros momentos é muito cansativo.

Depois da tourada, em que todo o High society de Lisboa e adjacências, além dos turistas (touristas) enchem a praça, aliás, é muito “chic” ir às touradas, dá status, você(as mulheres) se mostra e arrisca-se até a arrumar um casamento, um caso, um flerte, quem sabe pode até ter a sorte de virar mulher de toureiro e lhe dar bem com os chifres, coisa que já tenho experiência e não quero repetir, portanto, até por este particular, o espetáculo não me atraiu muito, tive mais outros momentos, mas ainda tenho coisas para contar sobre ela. Após a tourada em si, com os toureiros tentando, de cavalo ou no solo aniquilar o touro, tem uma estória de uns caras loucos que são chamados de “forcados” derrubarem o touro no braço, acho que são uns oito ou nove, que tentam derrubar o animal, que já tá bem magoado com as “bandarilhas” que espetam no seu cachaço, coitado. Estes caras têm um prazer que não entendi até agora, pois eles se orgulham de pegar o touro de unha, mas muitos deles se arrebentam todo, saem sangrando, misturando o seu sangue com o sangue do animal. Mas vá lá, eles devem se julgar mais “machos” que os demais e pode até ser que, por isso mesmo, agradem as mulheres das suas cidades, aldeias, “terras” sei lá. Eu é que não queria uma zorra daquelas.

O melhor de tudo é ver os cavalos, esses sim, é que abrilhantam a festa que é a tourada para os fanáticos. Os cavalos são lindos e, além de lindos, fazem coisas que não dá para descrever; logicamente que há uma perfeita sincronia entre eles e os seus cavaleiros, mas eles são mesmo os donos da festa, pelo menos para mim. Desviando-se do boi, colocando-se no lugar certo, na hora certa, trotando, levantando a pata, ajoelhando para agradecer os aplausos, é realmente sensacional

Bom, mas não fiquei só na tourada, e como estava esperando receber uma grana boa, uns atrasados do meu trabalho e mais algum da venda do carro, tomei coragem e fiz uma viagem maravilhosa pelo Norte de Portugal, uma viagem "religiogastroalcóolica", pois comi e bebi muito, vinhos diversos, bagaceiras tantas, muito bacalhau e grelhados, além das comidas levemente pesadas de Portugal: mão de vaca, cozido a portuguesa, carne de porco alentejana, tripas à moda do Porto, e muitas outras coisas, mas, a par disto, entrei em tantas igrejas quanto pude entrar.

Nossa Senhora do Sameiro
Estive em diversos santuários, começando logo pelo mais conhecido que é o de Fátima, depois vi, quando a neblina e a chuva deixaram, muitos outros, tais como Nossa Senhora do Sameiro em Viana do Castelo, Bom Jesus em Braga e um monte, mas muitas outras igrejas mesmo, inclusive a de São Victor, que também fica em Braga. Dorival Cayme diz que a Bahia tem 365 Igrejas, mas Portugal, com certeza, tem muito mais que isto, só em Lisboa, no centro, posso indicar, pelo menos, umas 10 a 15, isto num espaço de uns 2 km. Tem Santo para tudo, Nossa senhora da Saúde, Nossa Senhora da Madalena, Igreja dos Italianos, Sé, Santo Antonio, (o do casamento), Santa Luzia (a das vistas) e muitas outras que agora não dá para falar, depois faço uma homenagem a estas senhoras

Aveiro
Ponte de Lima
Fiquei impressionada com muitos lugares que passei: Figueira da Foz e uma cidade maravilhosa, Aveiro outro monumento português, Ponte de Lima chega até a doer de tanta beleza, uma cidade medieval extraordinariamente linda. A impressão que tinha, andando nas suas ruas, olhando as construções, atravessando as pontes, era de que a história de mim estava envolvida na história daquela cidade. Ali experimentei uma comida portuguesa chamada “sarrabulho”, acho que escreve assim, parece com o nosso sarapatel, não gostei muito, mas para quem gosta, recomendo, porque quase todas as pessoas que estavam no restaurante estavam comendo este prato.

Quiaios
Mas não fiquei só em as grandes cidades, pois visitei muitas aldeias pequeninas, cidades praianas de pescadores: Quiaios, Mira, Buarcos, algumas feiras livres, onde encontrei um senhor de mais de 80 anos que, segundo ele, poderia me fazer muito feliz e me dar “casa, comida e roupa lavada”, ri muito, mas só deu mesmo para agradecer o elogio.

Estive, ainda, e aqui uma nostalgia tomou conta de mim, porque já tinha estado nessas três cidades em três ocasiões diferentes: a primeira com meu companheiro à época, onde pela primeira vez comemos polvo a lagareira, uma novidade para os neófitos viajantes, a segunda com a Graça, a quem muito agradeço me ter permitido entrar na sua família onde fui tão bem recebida, sem dúvida que as laranjas deste pé serão sempre doces; por último, e agora, com a companhia que merecia: Vila do Conde, Póvoa do Varzim e Matosinhos. Por favor, quem puder fazer esta viagem não deixe a oportunidade passar. Se ainda existir a churrascaria Inglesa em Matosinhos não deixe de comer o polvo a lagareira, mas você pode comer, sem susto, em qualquer marisqueira. Desta vez não estive no Porto, só de passagem mesmo, mas, também, é uma cidade imperdível.

Fui,ainda, em Espinho, Braga, que é outro monumento português. Na volta, já não parando tanto quanto na ida, estive em Nazaré e vi a imagem da Nossa Senhora da Nazaré e a bela cidade que tem o mesmo nome e que me lembrou, um pouco, Salvador.

Bom, esta foi mesmo uma grande viagem e uma coisa extraordinária, mas nada conseguiu desbancar a emoção de ir ver o show de SANTANA – Carlos Alberto Santana. Rapaz! Que negócio. Nunca pensei que ia ficar tão emocionada com isto.

Já cheguei ao Pavilhão Atlântico, onde o show realizou-se no maior clima, estava numa expectativa da zorra. Sentei para esperar a hora de entrar, e já aí encontrei um louco, como tantos outros que passei a observar. A grande maioria das pessoas era da minha idade para mais, mas o entusiasmo de todos era de adolescentes, embora muitos jovens se fizessem presentes, aliás, bom gosto não tem idade, e é impossível que um jovem não goste de Santana.

O louco chegou junto de mim e me perguntou se eu ia ver o show. Respondi que sim, e ele me falou que viu o primeiro show que CARLOS ALBERTO SANTANA, e ele pronunciava o nome do homem assim mesmo, bem forte e completo, fez em Portugal, ele até me disse o ano, mas eu não gravei. Disse-me ele que eu ia ver o maior show do mundo, e falava e falava e falava. De repente me perguntou se eu queria um trago, eu disse não, e então é que percebi que ele estava com um saco de vinho, lá em Lisboa vendem umas caixas com vinho, e dentro das caixas o líquido está num saco que tem uma torneirinha, pois é, como o saco já tava mais para vazio de que para cheio, o cara enrolou a zorra no braço e me oferecia um pouco, isto já com a torneirinha quase na minha boca. Evidentemente que recusei terminantemente.

Levantei e me encaminhei para a entrada, eu tinha de ficar em pé, pois quando fui comprar o bilhete já não havia lugar sentado, aliás, o que foi uma sorte, porque não sei se veria o show como o fiz, participando, olhando as pessoas, vendo os movimentos, enfim, vendo e vivendo Santana, que também já demonstra o cansaço dos anos, tocando aquela maravilhosa guitarra sentado.

Lembrei de muitos amigos, quando ele tocou “Oye como Va” e quase choro, “Corazón Espinado”, “Black Magic Woman”, “Samba para ti” “Guarija” “Evil Ways” “Jingo” “Maria Maria” e tantas outras e quando ele começou “Africa Bamba” - ella baila la portugueza todo o pavilhão tremeu, afinal fala de “portugueza”, embora ache eu que ele queria falar de alguma dança brasileira, vejam bem a letra da música. Eu tava encantada, e nem mesmo ter ficado longe do palco, e com muita gente fumando e me fazendo os olhos lacrimejarem, tirou todo o encanto, quase um êxtase, de estar ali. Não estranhem as datas das fotos e nem as proprias fotos, não sou uma grande fotografae nem sei lidar com a tecnologia delas, nao mudo datas, não sei como diminuir a imagem, etc.etc.etc.Não me chamem de imbecil, pois vocês sabem que tenho outras habilidades.
Maputo
Mas o ano ainda estava no meio, e muitas outras coisas aconteceram, inclusive, a minha viagem á Moçambique para a pesquisa do doutorado. Passei 30 dias em Maputo, uma verdadeira maratona, mas valeu a pena, tenho certeza que faço uma grande trabalho com a documentação que consegui encontrar, não a que queria, mas a que foi possível.A foto é mesmo de Maputo tirada do barco vindo do Matembe, acho que é este o nome, qualquer semelhança com alguma cidade que conheça é uma mera coincidência. 

Depois voltei para Lisboa complementando algumas coisas do próprio curso, recebendo, após mais de dois anos da conclusão do mestrado, o diploma comprobatório do grau de Mestre,vejam que ele é em latim. Em novembro vim para o Brasil, onde me aborreci muito por problemas que são criados pelos outros para mim, imagine que tive a grata surpresa de ver que, na frente, literalmente, da minha casa foi inaugurada uma “casa de show”, pense um lugar como Arembepe com uma casa de show com bilheteria e tudo, realmente, só pode ser para me sacanear, mas vou resolver isto com certeza.

Também tive desagradáveis notícias sobre acontecimentos familiares, mas que não conseguiram me tirar a satisfação de ver os meus “netos” já andando e “conversando” numa língua que não entendo, mas que com certeza é de amor, solidariedade, cumplicidade, afinal eles são gêmeos.

O outro neto, o Victor,  fez a primeira comunhão e sentiu gosto de sangue quando recebeu a hóstia, isto foi dito por ele mesmo, passou de ano e está muito feliz porque vai para a Europa em janeiro, que Deus o abençõe

Para fechar com chave de ouro o ano de 2010 fui a um casamento no dia 31.12. Alguns podem achar estranho um casamento nesta data, mas os noivos não se intimidaram com isto, e mostraram, a tantos quantos estiveram presentes, que estavam e vão ser, como estávamos nós, os seus convidados, naquele dia: FELIZES.

FELIZ 2011 para todos

Janeiro de 2011