quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Você gosta de cachorro?


Estou desconfiada que em Maputo se come cachorro. Digo isto porque tenho andado muito a pé nesta cidade, não só pela falta de transporte público decente, como por falta de dinheiro mesmo, aliado a um terceiro motivo: conhecer realmente a cidade, o que só acontece se andarmos pelas suas ruas.

Pois é, desde o dia que aqui cheguei, dia 23 de julho, se muito vi foi seis a sete cachorros nas ruas, mas estes estavam devidamente encoleirados e a passear nas ruas com os seus donos.

Será que aqui se come cachorro? Não ia estranhar nada, porque vi na televisão, que em uma outra Província, não prestei atenção ao nome, se come rato e que este comércio está em franca ascensão. A reportagem mostrava os bichos estirados em um pano no chão, e as pessoas, tranquilamente, comprando aquelas coisas feias e esturricadas.

Bom, mas o fato é que já tenho quase trinta dias em Maputo e não vejo cachorro na rua. Na minha cidade, Salvador, há uma quantidade imensa de cachorros soltos na rua, que disputam com os mendigos os lixos. Aqui os menos favorecidos não tem esta concorrência, eles revolvem o lixo sem sofrer qualquer tipo de incomodo, seja por parte de animais, seja por parte de policiais.

Também não vejo gatos, e olhe que já andei por este Maputo quase todo. Ando a pé como já disse; melhor que tomar “chapas”.

Sábado, por exemplo, decidi que ia conhecer a Avenida Eduardo Mondlane, só que escolhi o lado errado dela. Ao invés de ir para o lado em que ela termina na Julio Nyerere, acho eu, fui para o lado que vai dar na Baixa. Andei feito uma filha da puta, quanto pior que o sapato era um que me deixa de calos nos pés, mas como já tava na chuva, não hesitei em me molhar mesmo, até porque, se eu chegasse ao hotel, já não sairia mais, alem do fato de estar a se aproximar a data da volta.

Desci toda a avenida que tem três estágios completamente diferentes: A parte chique, que vai da Mesquita para o lado da Júlio Nyerere. A da Mesquita até a altura da Felipe Samuel Magaya e, daí em diante o negócio pega. A avenida fica muito feia, cheia de buracos, muitas pessoas vendendo coisas na rua, muita gente andando, sujeira, muitas ruas esburacadas e com lixo, muitos prédios antigos e sujos, mas sem cachorros.

Cheguei até uma rua onde tem um palácio de sua Alteza alguma coisa tal como Aga Khan e dali voltei por uma rua de dentro alcançando a Avenida da Guerra Popular, nunca vi um nome tão bem aplicado a uma Avenida. Aqui é realmente uma guerra para lá de popular. No final dessa avenida há o terminal das chapas. Pense ai! É como se fosse um terminal na frente da Feira de São Joaquim, ou naquele ponto de ônibus que fica exatamente do outro lado da feira, na frente da Igreja dos Órfãos de São Joaquim, lembram?(para quem conhece Salvador) Não tem qualquer organização. Um aglomerado de gente, de carros, de vendedores que colocam as suas mercadorias no chão. Vende-se de tudo, de feijão, verduras a sapatos, roupas, utensílios, etc. Ha um fato interessante na venda dos sapatos, é que eles podem já ter sido usados. Pior que isto, as pessoas compram estes sapatos: ao menos, vi gente experimentando. Toda a mercadoria está exposta e sempre há o risco de ser pisada, cuspida, sei lá mais o que. Empurra, empurra para entrar nas chapas. Onde deveria caber, no máximo, 20 pessoas muito mal acomodadas, entram 40 ou mais. Nem me imagino dentro de um troço daqueles com pessoas sentadas no meu colo, porque penso que é por aí. Entretanto, não vi cachorro, vi gente mal encarada, mal vestida, suja, mal cheirosa, todavia, cachorro não.

Continuo invocada com isto, mas não tenho coragem de perguntar o motivo de não ver cachorro na rua. Será que existe alguma lei proibindo isto? Isto é; que as pessoas deixem seus cães nas ruas?

Ah! Neste dia também fui quase agredida por uma autoridade (segurança de um banco). Há no banco de Moçambique um mural lindo, toma uma parte da parede de frente do banco, onde não tem porta alguma, não se vê sequer a entrada do banco, enfim, o painel fica em local em que não há qualquer risco de se entrar ou se ver alguma coisa no interior do Banco, como se o Banco não fosse quase que um local público, pois se presume, pelo menos é o que acontece no Brasil e em todos os países que conheço, nos quais qualquer pessoa pode adentrar ás agência dos Bancos. Bom, mais o fato é que tirei uma foto do painel, ato contínuo,começei a ouvir um homem a gritar: “desfaça”, “desfaça”. Eu, sem entender nada, continuei a caminhar em direção ao homem, que continuava a gritar e a se encaminhar para mim com uma cara de muito poucos amigos e a gritar “desfaça”. Quando ele chegou junto a mim e quase toma a câmera à força, eu lhe disse: Boa Tarde em primeiro lugar, depois o Sr me peça o favor de fazer o que o Sr quer. O homem parou, olhou para mim com cara de mau, mas disse-me. Por favor, desfaça porque não é permitido tirar fotos. Eu perguntei a ele onde estava a placa proibitiva e ele disse que não tinha, mas que não era permitido e pronto. Apaguei e mostrei a ele que o tinha feito e disse-lhe: é uma grande pena porque este painel é lindo e poderia ser conhecido por muitas pessoas, mas já que a arte Moçambicana não pode ser divulgada, tudo bem. Dá para crer? O cão era mesmo terrível e rosnava muito alto e num um péssimo tom.

Pois é, mesmo assim, continuei sem ver cachorros, pelos menos aqueles que são mesmo bichos de quatro pés, mamíferos da espécie dos “Cani familiaris”, do gênero canídeos, porque outros tipos de cães, tanto os que ladram e mordem, quanto os que ladram e não mordem, a gente encontra em muitos lugares, seja em Maputo, seja no Brasil, seja em Portugal, seja alhures, muitas vezes travestidos de “homo sapiens”, como vocês bem podem perceber.

Uma coisa é certa, cachorros em Maputo, andando na rua, não há. Se os comem ou não, não posso garantir, mas, uma coisa é certa: neste aspecto Maputo supera em muito Lisboa, pelo menos, aqui não temos que estar nos desviando, como lá, o tempo todo, da prova cabal de que ali não se come cachorro, mas que eles existem em larga escala e, sabe-mo-lo pelo olfato e quase pelo tato, pois as necessidades destes animais são feitas nas ruas, portanto, sente-se o cheiro e, se dermos o azar de falhar o sentido da visão, o sentido do tato, com certeza, vai funcionar, pois teremos o desprazer de ter o contato físico com os dejetos destes animais de estimação, aliás, fico realmente atônita de ver os proprietários dos bichos com esta obrigação cotidiana de levá-los para as casas de banhos públicas dos canídeos lusitanos, que são as maravilhosas ruas de Lisboa, não escapando nenhuma: sejam as das ruas do Restelo, da Avenida da Liberdade, de Alvalade, da Estrela, da Amadora, Carnaxide, enfim, em Lisboa, como se isto fosse uma coisa educada e normal. Em Lisboa, com certeza, não se come cachorro, mas eles existem e comem como cachorros do primeiro mundo que são, e sujam toda a cidade, o que depõem contra esta pertença ao primeiro mundismo, de que tanto se orgulha o português. Será que não era melhor comer cachorro!



segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Uma péssima escolha

Fui jantar num restaurante indiano, que também serve comida chinesa. Fica na mesma rua do hotel, aliás, faz esquina com a rua. Como estou cansada de comer atum enlatado, milho enlatado, cenoura enlatada e alface lavado dentro de um saco, com muito vinagre, na pia do banheiro do meu quarto de hotel; resolvi variar.

Nunca gostei de mudanças, isto pode não parecer real para muita gente, mas gosto mesmo é da habitualidade, da rotina, do dia-a-dia, embora me permita, de vez em quando, algumas variações.

Vivi com pessoas que gostavam de variar tanto, que resolveram variar de mim também, mas isto não vem ao caso. Sou fiel a muitas coisas, e não gosto de mudanças, embora tenha tido, ao longo da vida, de passar por elas, muitas delas provocadas por terceiro.

Pronto, divaguei para chegar ao mesmo lugar, o restaurante hibrido: indiano-chines.

Por conhecer um pouco de comida chinesa, porque há muitos restaurantes deles, tanto em Salvador como em Lisboa; viu que chic, sou mesmo uma internacional metida, resolvi comer a comida indiana.

Enquanto esperava a comida, fiquei observando, como sempre, as pessoas que estavam no restaurante. Do meu lado direito havia uma mesa com indianos, cinco homens e umas dez mulheres; as mulheres com idades variadas. Lembrei da novela Caminho das Indias, porque havia Mama Di e muitas outras mamas. As mulheres completamente separadas dos homens, você notava claramente a distinção: homens à direita da mesa, e as mulheres à esquerda.

O que mais me chamou atenção nas indianas é que elas estavam todas com as roupas que apreciam na novela: calças com boca fina e túnicas muita trabalhadas, bordadas de pedrarias, deviam estar comemorando algum aniversário, acho eu. Cada roupa mais bonita de que outra. Os cabelos, Ah que cabelos! Longos, lindos e brilhantes. Todas, invariavelmente, com cabelos além dos ombros. Todas muito bonitas. Como estava quase em frente a elas, tive a oportunidade de bem obervá-las. Falavam baixo, bem comportadas, nao se ouvia sons vindos da mesa, e olhe que tinha mais de 15 pessoas. A Mama Di estava de “sari” de um estampado lindo, embora bem discreto. Somente ela trazia os cabelos presos.

Olhava aquelas mulheres com curiosidade. Primeiro com inveja dos cabelos, que são realmente lindos; segundo com inveja das roupas, algumas muito lindas mesmo, terceiro, e aí já me refiro a todos da mesa, tanto homens, quanto as mulheres, pela maneira de comer. Eles comem tudo com as mãos. Já tinha visto paquistaneses comendo da mesma maneira, quando estive em Barcelona com a promoter, aliás, a única profissional do tipo que conheço; eles colocam um molho de qualquer coisa no prato e molham o pão, que nao é pão, parece um taco mexicano, embora mais fino e estaladiço e comem aquilo como entrada. Não é so isto, tem uma outra coisa mais espessa que eles também introduzem no molho e acompanha a refeição principal. Até então, nada de talhares. De repente vejo o homem que estava na cabeçeira, bem próximo de mim, a comer com uma colher. Estranhei e dei uma olhada para as mesas que estavam ao meu lado ainda vazias, embora prontas para receber os clientes, e vi que os talheres dispostos nelas eram só garfos e colheres. Não havia facas.

Eu já tinha pedido a minha comida e estava a espera, um carril de cabrito com arroz branco. Detalhe, tudo é pago separadamente, pois o cabrito nao tem acompanhamento, como se a gente pudesse comer aquilo sem nada.

Neste momento começaram a chegar os pratos principais da mesa ao lado. Muito arroz e umas cumbucas muito pequeninas. Notei que as cumbuquinhas traziam algo com caldo, não consegui identificar o que era, alguma especie de carril. O certo é que quem não comia com a mão, comia de colher.

Acabaram de comer e vi uma das indianas pedi a uma outra que segurasse uma criança. Que droga! Não sei porque tenho de ficar olhando a vida alheia. Era uma criança com problemas: não tinha movimentos. Não sustentava a cabeça, os braços não dobravam, as pernas também não, ficava babando: um horror! Fiquei deprimida na hora e me perguntando: Por que me queixo da vida? Será que tenho razão de tantas queixas? O que eu faria diante de uma situação daquela? Não nego que as lágrimas cairam, porque eu não consigo mesmo entender qual o motivo que leva Deus a permitir que estas coisas aconteçam. Não adianta as pessoas espiritualizadas me dizerem que isto é carma, que são atitudes de vidas passadas, que são cobradas desta maneira para que a alma se purifique, sei lá mais que tipo de explicação para o inexplicável.

Quem fez errado que se lenhe pagando a sua merda com a própria vida, com a própria pele. Nao venha para cá descontar suas asneiras em quem nada tem a ver com isso. Purificação de alma uma porra! Isto é muito injusto, injusto mesmo.

Minha comida chegou. Provei e não gostei. Uma mistura de muitas especiarias, que termina tirando o sabor da carne. Pedi cabrito lembrem! Sentia gosto de pimenta, de piri-piri, de açafrão, mas não conseguia sentir o sabor da carne. Trouxeram molhos em uma espécie de castiçal com três tigelas: duas delas com molho vermelho e uma com um molho verde. Bom, o molho verde era pimenta verde batida com alguma coisa que a deixava pastosa; o vermelho parecia aquele molho chinês meio doce, e o terceiro era pimenta mesmo, molho de pimenta vermelha.

Não gostei da comida e não repito, mas enquanto disputava o dinheiro e matava a fome, pois só como uma vez por dia aqui em Maputo, sempre à noite, continuava a observar os indianos. Todos, sem exceção, tratavam aquela criança com um grande amor, pelos menos é o que aparentavam Os homens começaram a se reservar segurando-o. Tudo tinha de ser feito com cuidado, talvez, com técnica, pois a cabeça da criança nao podia ficar pendente e sempre tinham que estar llimpando a baba.

Um dos homens, quando o segurou, conversava com ele. A criança dava urros, parecia entender o que aquele homem lhe dizia. Pelo relacionamento dos dois, aquela conversa parecia ser um hábito entre eles.

Olhava aquilo e chorava. Me perguntava se seria eu capaz de suportar uma situação daquela; de brincar com a criança, de tê-la nos braços. Não sei se seria capaz mesmo.

Mesmo com tudo isto, continuei a observar os indianos como um todo. Vi o garçon se aproximar com um balde de inox, um prato com uns rolinhos e algumas tigelas. Pensei que era “deserts” e fiquei olhando atenta para descobrir o que era. Que sobremesa que nada! Era cumbuca para lavar a mão. O que eu pensava ser um doce era uma espécie de lenço pequenino bem dobradinho, que era colocado na água para que eles lavassem as mãos. Tem de ser porque, já que se come tudo com a mão, não seria provável que todos tivessem de ir ao lavabo para lavar as mãos: é melhor  que o  lavabo venha até à mesa daquela maneira peculiar. Parece com aquilo que, nos restaurantes que servem mariscos, lhe dão com água e limão; evidentemente que isto não acontece em barracas de praia e nem nas "cabanas dos joãos" da vida.

Todos lavaram as mãos com aquilo e se foram. Eu ainda fiquei ali comendo aquela comida, que não recomendo, chorando e dando a desculpa ao empregado de que a pimenta era tão forte que me deixou assim, lacrimejante.

Paguei a conta, sem qualquer entusiamo, e voltei para o hotel.

Espero que tudo isto me leve a uma reflexão sobre a vida, sobre o que penso, sobre mim mesma e minha relação com os demais que me circundam: mas nada disto afastará a pergunta que vou continuar a fazer ao de lá de cima: Por que?



terça-feira, 17 de agosto de 2010

Os taxistas de Maputo

Bom, em principio tenho que dizer que andar em Maputo, para mim, é uma aventura. Todos os dias eu renovo a esperança de que vou viver muito, pois, é assim que penso depois que consigo atravessar, e chegar viva do outro lado, as ruas.

Maputo é uma cidade que tem grandes avenidas, a grande maioria delas socialistas nos nomes: Mao Tse Tung; Ho Chi Min; Karl Marx, Engels, Guerra Popular, Eduardo Mondlane, dentre muitas outras, mas completamente dissociais, quando se trata da travessia do proletariado, mortais em potencial

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Tudo na mesma



Sai do arquivo as 12:00hs, porque era sábado dia que funciona até este horário, e resolvi que iria andando porque queria conhecer a Av. Júlio Nyerere. Sai da Rua da França, onde fica o portão do Campus da Universidade Eduardo Mondlane, onde está o barracão do arquivo, e segui pela Avenida Kenneth Kaunda. Rapaz, que surpresa!

Esta Avenida, do lado direito de quem vem da Vladimir Lenine é o bicho. É uma avenida de duas pistas largas, separadas por um canteiro no meio. Começou a aparecer muitas casas boas, mas muito boas mesmo, casas enormes, com dois ou mais andares, bem arquitetadas, parecia que eu tinha saído do Maputo, que até então conhecia.

A Avenida está limpa, não há lixo acumulado, nem tampouco contentores abarrotados de lixo derramando a podridão pela rua. Continuo a andar, vejo muitos seguranças, como sempre, alguns estão dormindo, outros coçando o pé, só alguns poucos estão realmente fazendo o seu serviço corretamente. Todos estão fardados, as fardas são das cores mais diversas, sinal de que existem muitas empresas de “segurança sonolenta” por estas bandas, todos mostram na cintura, pendurada no cinto, um par de algemas; deve ser para facilitar o trabalho de quem rouba, pois além de surpreender o segurança dormindo, ainda tem o privilégio de algemá-lo com a sua própria algema.

A grande maioria dos seguranças é raquítica. Acho que se aparecer um negão, ou um menino mais forte, eles se mijam todo e botam para correr, mas vá lá: tem segurança. A quantidade, entretanto, naquele espaço me chama atenção e eu começo a olhar mais atenciosamente para as casas. Descubro a razão: Ali estão casas onde funcionam embaixadas e casas de moradores abastados e dos próprios cônsules e embaixadores.

As Embaixadas se sucedem: Bélgica, Brasil, Espanha, as duas últimas unidas e separadas apenas pela cerca eletrificada. O Atlântico foi completamente engolido pelo Indico. Muitas outras instituições: tudo gradeados. São fortalezas, parecem prisões fortificadas, tudo esta fechado, de movimento só os seguranças, isto quando não estão em estado letárgico.

Uma estrangeira, acho eu, porque loura de olhos claros, roupa bem diferente da que se costuma ver aqui, sai de uma garagem com o carro e sai do carro para fechar a garagem, claro que o carro é um jeep último modelo, lindo por sinal! Entra no carro e se pica.

Continuo a andar e mais fortalezas aparecem de todos os dois lados da rua. Certamente para demonstrar que quem está dentro não quer sair dali e que quem esta fora deve ai permanecer: não são bem vindos. Fico imaginando se será assim em dias de expediente.

Começo a ver o mar, aliás, já disse isto: aqui é melhor ver o mar do alto, ou então de alguma esplanada, porque ai não se vê a pobreza e nem a sujeira.

Continuo a descida olhando o mar. Chego a uma espécie de rotunda, porque aquilo não é porra de nada, e vejo uma indicação para a Sommerschield (não está escrito errado não). Resolvo ir por ali, porque já sabia que este local é na praia e que era o lugar chique da cidade, até tentei alugar um flat, que eles assim chamam um apartamento independente que fica não sei se do lado ou nos fundos de uma das casas, por 100 dólares dia, mas não consegui porque já estava ocupado.

Atravesso a Avenida Julio Nyerere com muita dificuldade. Como sempre, não me acostumo mesmo com a porra da mão inglesa. Desço uma ladeira: muitas construções novas, muitos condomínios de luxo. Continuo a descer e, de repente chego, exatamente, a um local onde há um restaurante, que fica na praia, chamado Nossa Casa, onde tinha visto muitos panos pendurados e muito artesanato na rua, e onde estava pensando em ir para comprar umas calças típicas.

Compro uma calça. De início custava 550 meticais, chorei tanto e fui embora que o homem foi atrás de mim e a calça saiu por 300 meticais, embora ainda muito cara, mas a calça era linda, quero dizer,o estampado. Deixe dizer que a calça custou menos de sete euros e meio, aproximadamente 16,00 reais. Estou pensando seriamente em comprar aqui panos e levar para o Brasil para fazer calças ou saias, penso que vou ganhar dinheiro, porque realmente as estampas são lindas e diferentes.

Atravesso para o outro lado da rua, o lado da praia, e sigo pela calçada, se é que se pode chamar isto de calçada. Ha pedaços que a maré levou e tem buracos com avisos de “não passar”, outros são as pedras que estão quebradas, enfim, tudo esburacado e termina ficando perigoso, porque um passo em falso e a cara vai para o chão mesmo.

Vejo muitas pessoas mais adiante e estranho porque estão todos muito vestidos, homens de terno, mulheres bem arrumadas à maneira Moçambicana, claro. Algumas pessoas estão literalmente na praia, num cais que avança para o mar.

Vou me aproximando mais: Surpresa! Tem duas noivas ali, elas e seus convivas e as damas de honra. Acho que as próprias damas recomendam mal a honra da casadoura, porque duas delas, que estão vestidas com roupa de cor vinho, as outras duas estão de azul, cheia de babados, estão descalças e dançam mexendo bem a bunda. É uma dança esquisita, não vejo qualquer sensualidade em dançar com as pernas abertas, como elas fazem, chega a ser feio, quanto pior porque elas estavam de vestido curto.

Uma das noivas está muito longe, já bem perto da água, a outra está ainda na areia e, para fazer pose para a foto, atira-se no pescoço do noivo e dobra as pernas. Uma foto cinematográfica. Hilariante!

São 13.30 e eu não entendo o horário do casamento, mas acho que eles herdaram isto dos portugueses, porque em Lisboa também os casamentos são realizados de dia, deve ser para que o noivo não seja enganado a respeito da beleza da noiva, principalmente aqui, em que se pode correr o risco de só ver a noiva no dia do casamento.

Acho engraçada a estória, mas não consigo explicação para o fato de noivas e convidados estarem ali, penso que deve ser alguma tradição.

Ouço um senhor falar para outros, que já estão reunindo o pessoal para ir embora e aí noto que tem muitos carros no local, inclusive vans.

Sigo em frente. Sinto-me, outra vez, roubada, porque compro duas calças por 500 meticais, e olhe que começou com o cara pedindo 350 por cada uma.

Compro as calças e vou andando em direção ao centro, que está muito longe, mas eu não tenho outro jeito, pois não vou tomar a chapa e não tenho crédito no telemóvel para chamar um taxi.

Vejo muitos carros juntos seguindo um primeiro que está todo enfeitado. Olho rápido; é mais uma noiva, que vai em direção ao mesmo local onde estavam as duas outras.

Mais carros e mais noivas, passaram umas três ou quatro, todas com o seu séquito.

De repente vejo batedores, muitas motos. Um dos motoqueiros grita para mim uma piada que não consegui entender, graças a Deus, por isto olho para o lado e que surpresa! Os batedores estão abrindo caminho para uma limusine branca, que esta toda enfeitada, indicando que ali vão os noivos. Quase não acredito no que vejo uma limusine, mas para meu espanto, a primeira vinha seguida de mais quatro, uma delas vermelha e as outras pretas. Todas com vidros escuros que não permitiam ver nada lá dentro. Não pensem que eu estou brincando, eram limusines mesmo, aqui em Maputo. Não bastasse a limusine, um séquito de carros seguiam o cortejo, muitos jeeps e carros importados lindos: parece que alguém da nata estava se casando.

Fiquei mesmo estupefata! Numa cidade pobre e suja como Maputo, uma cidade cujo governo se diz socialista, vide os nomes das ruas que já indicam a ideologia que os senhores representantes do Governo querem afirmar – Vladimir Lenine; Mao TSE Tung, Ho Chi Mim; Guerra Popular; Karl Max: Engels, Amilcar Cabral, Salvador Allende e muitos outros ,o regime que se quis implantar em Moçambique com Samora Machel em 1975 e a FRELIMO(partido marxista-leninista). O homem passou na Presidência 11 anos, só deixou o cargo por força da própria natureza, faleceu 1986, o que não impediu que a FRELIMO continuasse no poder, embora, hoje exista um outro partido, que lhe faz oposição, a RENAMO- Resistência Nacional de Moçambique). Não percebo, entretanto, como isto funciona aqui em Moçambique, sei sim que em todo e qualquer governo, seja ele socialista, comunista, democrático, ditador, há os que mandam e os que obedecem. Há a burguesia, tão combatida pelos dois primeiros regimes, e a pobreza.

O nome das ruas nada significa, os símbolos colocados na bandeira Moçambicana também não, aliás, os homenageados com os nomes das ruas, certamente devem estar muito aborrecidos com esta homenagem, que nada os dignificam, muito pelo contrário, demonstram que as suas doutrinas foram por demais mal interpretadas, que a mais valia aqui é ser rico, rico mesmo, sem que os pobres possam jamais sair do estado de pobreza em que se encontram. Aliás, um escritor moçambicano, ROCHA, 2006:82-83

“Apesar da orientação ideológica socialista e tal como anteriormente o movimento frentista, o PF continuou a ser uma força heterogênea, com sensibilidades diversas, integrando marxistas e liberais, militares, intelectuais e tecnocratas, muitos deles vendo no Partido uma forma de aceder a lugares e benefícios diversos”[...] As conseqüências desta opção marxista pela FRELIMO, embora se possa reconhecer o seu carácter estatista e modernista, não se fizeram esperar, tanto interna como externamente. A ala marxista era efectivamente hegemônica, mas os ideais socialistas não eram partilhados por parte significativa dos membros do Partido. Por isso a adesão à postura socialista não foi consensual, e alguns críticos tiveram de deixar o Partido, indo alguns dos mais inconformados formar bases de grupos oposicionistas diversos, alguns dos quais vieram a integrar o movimento rebelde que mais tarde se constituiu na Resistência Nacional de Moçambique(RENAMO)” (grifo nosso)

Portanto os pobres vão continuar a revirar o lixo para comer, a vender frutas e verduras nas ruas, sem quaisquer condições de higiene, a vender coisas usadas nas ruas, a roubar as pessoas, enfim, que eles se lenhem para que os ricos, cada vez mais ricos, continuem andando de Limusine, acentuando a diferença, que foi tão combatida na época colonial em relação aos europeus. Mudam os nomes e até mesmo a cor dos dirigentes, o que não muda, exatamente, é a divisão de classe aqui tão bem visível, sendo que o proletariado daqui, não existe, pois o proletariado tem de estar organizado para alcançar os seus objetivos, o que, possivelmente, ainda vai demorar muito, se é que um dia isto ainda possa acontecer. Enquanto isto, Maputo fica mostrando os seus contrastes e Moçambique continua recebendo fundos humanitários para combate a AIDS, para preservação dos animais (elefantes, onças, girafas, macacos, hipopótamos, cobras e muitos outros) e o povo continua a morrer de fome nas ruas, sem emprego, sem assistência, sem dignidade, mas os resorts em Inhaca, nas praias de Inhambane, em Pemba e em tantos outros sitos do país continuam recebendo turistas que saem daqui encantados com as belezas naturais, sem qualquer preocupação com a população, que de uma maneira ou de outra, ainda continua à disposição dos que se julgam superiores.


sábado, 7 de agosto de 2010

Tá com a vista boa? Então enxergue direito...

Está nostálgica. Deve ser porque passou em frente a um bar na Rua do Hotel onde está hospedada, e ouviu uma música do tempo “corno” aí no Brasil. Do tempo em que ela ouvia rádio com um dos irmãos segurando a antena para que a mãe pudesse ouvir a novela, “Jerônimo o Herói do Sertão”, salvo engano; se não esta era “O Direito de Nascer”. Não interessa o nome da novela, o que interessa é o rádio e as músicas que nele tocavam: O ébrio com Vicente Celestino; Senhor da Floresta com Augusto Calheiros; Unforgatable com Nat King Cole, Boêmia com Nelson Gonçalves, Anísio Silva e tantos outros que não vai mesmo lembrar os nomes. As quatro ou cinco da tarde o rádio tinha um concorrente, que era o serviço de alto falante da Cidade, que como já disse uma vez, uma das bocas ficava, exatamente, no poste em frente à sua residência.

Pois, neste alto falante aprendeu uma música, que, salvo engano, era cantada por Adelino Moreira, que, se vocês não sabem, era português do Porto, e compôs muitas músicas para Nelson Gonçalves, talvez por Anísio Silva, este é mais provável, porque a música era da dupla que sabia fazer música de dor de cotovelo, Euvaldo Gouveia e Jair Amorim. Vocês devem ter visto o especial sobre a Dalva de Oliveira e viram como as coisas de corno eram cantadas em versos pelos corneados. Depois disto a música já teve inúmeras regravações, inclusive, por Gal Costa: Olhem que primor de dor de corno: “Alguém me disse que tu andas novamente, de novo amor, nova paixão, todo contente. Conheço bem tuas promessas, outras ouvi iguais a estas. Este teu jeito de enganar, conheço bem. Pouco me importa que te beijem tantas vezes, e que tu mudes de paixão todos os meses, mas se vai beijar como eu bem sei, fazer sonhar como sonhei, mas sem ter nunca amor igual ao que te dei.”

Viu Bem! Corno é assim. Sabe que o ex parceiro tem outro (a), mas faz uma música desta, como se para ter mesmo um consolo. Então lá se quer saber se alguém beija melhor do que ela? Se alguém sonha os sonhos que ela sonhou melhor? Quer nada! Embora hoje ela não se preocupe com os beijos e a boca tantas vezes beijada, mas sim com a vista, a visão dos outros, daqueles que dão ou deram um “corno”, ou mais, em alguém.

Fica a pensar. Se o corneante dava corno com a visão turva, vendo as coisas um pouco deformadas, imagine agora vendo todos os detalhes. Aí é que vai cornear mais, porque vai ficar procurando sempre melhorar o que tem, embora todos nós saibamos que as aparências enganam, e como enganam. Ninguém traz na cara o que lhe vai ao interior. Alguns, muito poucos, teem o privilégio de, com os olhos, entregarem todo o seu “eu”. São pessoas sensíveis e que não sabem enganar. Os olhos falam mais de que a sua voz. Não é necessário que essas pessoas digam nada a respeito de si em alguns momentos da vida, porque os olhos já dizem tudo. Pessoas que não podem e nem sabem mentir, tem um detector de mentiras dentro de si próprias, por isso não podem enganar nem a si e nem a ninguém.

Sabe ela que ninguém tá entendendo nada desta estória de visão, mas “a quem interessar possa” vai entender, e muito: talvez seja muito tarde para poder ver as coisas com mais clareza, sem a névoa que tomou conta dos seus olhos e do seu interior. Quem deixou de ser visto por causa dos maus olhos, por força da visão turva, primeiro sintoma da catarata, pode não mais estar disponível para ser olhado com a visão restabelecida e, mesmo com o saudosismo das canções, mesmo querendo voltar o tempo, mesmo lembrando do que deveria tá morto e enterrado pode, agora, sofrer da vista e ter a visão turva, já não podendo mais falar com os olhos o que lhe vai na alma e nem enxergar os sinais de quem, agora, é portador de uma excelente visão, ao menos de um dos olhos.

Certamente, um reparo da visão enevoada não mudará a maneira de olhar da pessoa: Claro que não!Uma simples operação na vista não faz com que ela seja retrato da alma, apenas melhora a visão de fora, o interior de cada um continua como sempre, porquanto poucos, muitos poucos, mas poucos mesmo, conseguem, mesmo com problemas de vista acarretados pela idade, refletir com os olhos tudo que se passa no seu interior, da felicidade à mágoa, do ódio ao amor, da tristeza à esperança, mesmo que seja a de “corno” ao cantar ou, ao menos, cantarolar os versos da música cantada por Adelino Moreira,digo Anisio Silva, como esclarecido por um leitor, a quem se agradece, inclusive a dica para mais um texto, porque nada como se falar da "sede"  social dos bairros periíericos..  

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

As três irmãs

Quando estive interna, conheci três irmãs que moravam no colégio. Uma delas muito mais velha que eu.Na época, para mim, era como se fosse quase minha mãe, embora ela não tivesse nem 30 anos. Eu tinha 10 a 11 anos e quem tinha mais de 25 para mim, creiam, àquela época, já era velha; outra com uns vinte e poucos e a terceira, mais nova, devia ter uns 16 a 17.

Diziam que elas eram irmãs, mas eu as achava tão diferentes que nunca acreditei, talvez pelo fato de serem órfãs e morarem mesmo com as freiras, fabricaram aquele parentesco, possivelmente, irmãs em Cristo.

A mais velha era uma mulher magra, não muito alta, tinha os cabelos chegados para o ruivo, não sei se eram pintados. Trabalhava fora do colégio e, portanto, estava sempre muito bem vestida. Ela já não dormia no dormitório; ficava numa parte do colégio em que moravam senhoras solteiras que trabalhavam e não tinham parentes na cidade. Era uma pessoa que não se podia dizer bonita, mas tinha lá o seu charme. Tinha um sotaque diferente na fala e, acho que por isso mesmo, tinha o apelido de “paulista”. Creiam em Deus! Passei quatro anos interna nesse colégio e nunca soube o nome desta senhora, aliás, continuo sem saber.

A irmã seguinte, ou seja; a do meio, chamava-se Gardênia, olhem que nome! Como colocaram este nome na criatura? Era baixinha tinha o cabelo castanho muito claro, chegando já para o louro, olhos claros e usava óculos. Era muito séria e tomava conta, junto com Zoraide, uma outra loura imensa e feia, da fileira do dormitório do lado direito; o meu lado. Não me lembro de ter visto esta moça feliz, saltitante, dando risada. Era compenetrada, cumpria as suas obrigações exemplarmente e nunca dava muita chance de aproximações, penso que estava sendo educada para virar mais uma irmã de caridade, sem caridade e sem graça.

A terceira chamava-se Georniete, nunca entendi nome tão estranho. Era alta, magra, loura dos cabelos encaracolados, brilhantes e lindos. Tinha olhos bem azuis, mas não conseguia ser uma pessoa bonita. Era simplesmente interessante. Por ser a mais jovem das três, era vigiada pelas duas mais velhas e cerceada em todos os momentos para evitar qualquer deslize. Ela não viveu a sua juventude porque não lhe deixaram,embora fique difícil viver em um internato em qualquer fase da vida. Espero que, mesmo com este nome tenha arrumado um marido, falo isto porque era o sonho de muitas internas, mui principalmente destas que eram órfãs e criadas pelas irmãs. O casamento era uma espécie de conquista de uma “liberdade”.

Salvo engano, Gardênia aprendia pintura, por sinal, uma das coisas que eu mais queria na vida à época, mas que era impossível para mim, pois as aulas eram pagas, porque o ensino era explorado por uma pessoa que não pertencia à escola. Olhei tanto o pessoal a aprender a pintar, isto aos dias de sábado quando tinha tempo, que terminei aprendendo a reproduzir, aliás, era o que era ali ensinando. Vi reprodução da reprodução, da reprodução dos Girassóis de Van Gogh ser ali feita por uma aluna, acho que de nome Eliane, e não só por ela, tanto que a reprodução, da reprodução, da reprodução que servia de modelo, estava toda gasta: os girassóis quase desfolhados e pálidos. Devia ser por isso que as reproduções ali feitas eram tão ruins. A professora de pintura era uma senhora que mais podia ensinar bruxaria, de tão feia que era, aliás, neste particular, competia com a irmã que tomava conta da rouparia: uma freira baixa, de bigodes, com um sinal do lado direito do rosto, bem perto da boca, que lhe acentuava a feiúra: deve ter sido por isso que resolveu ser irmã de caridade e trabalhar na rouparia, onde quase sempre estava escondida. Com aquela feiúra, entretanto, podia realmente voar, como fazem as bruxas, com uma diferença: ela ia ser levada pelo vento que impulsionaria os dois vértices formados por uma porra de um chapéu horrível que as freiras usavam, do tipo que era usado pela Noviça Voadora. Lembram do filme? Aquele que foi estrelado por Shelly Fields. Acho eu. Eram asas na cabeça.

Não me lembro se a Georniete também aprendia pintura, acho que não, ela era muito agitada para poder ficar tanto tempo parada em frente a uma tela e com tantos tubinhos de tintas na sua frente.

Lembrei destas três porque tinha uma vontade danada de saber o que foi feito delas. Será que as duas menores casaram? Viraram professoras e continuaram na própria escola? Viraram freiras? Fugiram do colégio? Esta última, se eu fosse uma delas, seria a opção escolhida.

E a Paulista! O que será que lhe aconteceu? Já morreu? Ainda vive? Será que, por um completo golpe de sorte, se casou? Olhe que se estiverem vivas, todas três já passaram dos 60, devem ter agora 75, 65,61 respectivamente.

Pois é. Não sei se só aconteceu isto comigo. Quando deixei o colégio nunca mais soube de nenhuma das pessoas dali. Um dia, por total acaso, encontrei Zoraide, que com toda a sua feiúra conseguiu se casar. Quando ela me disse isto, passei a acreditar que ninguém, por pior aparência que tenha, pode perder a esperança de encontrar um par, ainda que seja para completar a própria feiúra, ou diminuí-la um pouco, porque quando se encontra alguém mais feio de que nós mesmos, a nossa própria feiúra diminui, somos até capazes de acreditar que somos bonitos. O certo é que não sei de ninguém, que também, com certeza, não sabem de mim, e se souberem, por fazer a ligação do nome com a minha figura, certamente não acreditam que se trata daquela menina que dava tanto trabalho a todos no internato, aquela que quase foi expulsa por chamar freira de vaca, por desobedecer ordens e por, enfim, aos 10 11 anos, contrariar a ordem estabelecida e que, por isso mesmo, ninguém acreditava que seria “alguém” na vida.

Bom!Não acredito que nenhuma das pessoas aqui citadas vai ler isto, mas, se, por uma coincidência qualquer, isto acontecer, não duvidem: esta pessoa sou eu, aquela menina que vocês conheceram, que se fez notar pelos “erros”. A Esmeralda da portaria da escola, a bell girl do internato.